O Estado de São Paulo (2020-05-12)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 Economia B


Reformas são


mais relevantes


do que Guedes


Douglas Gavras


O Brasil não deve ter uma me-
lhora em sua nota de classifi-
cação de risco dada pelas
agências internacionais nem
em 2021 e a classificação do
País pode até cair, com a dete-
rioração econômica e os ruí-
dos de uma crise política, que
podem afetar a capacidade
do governo em ajustar as con-
tas públicas e implementar a
agenda de reformas depois
da pandemia da covid-19.
O Brasil conquistou o grau de
investimento dado pelas agên-
cias Fitch, Standard & Poor’s
(S&P) e Moody’s pela primeira
vez em 2008. Mas perdeu o selo
de bom pagador sete anos de-
pois, com a crise política e o iní-
cio da recessão. No começo des-
te ano, parecia que o rating do
Brasil iria subir, ainda que abai-
xo do grau de investimento.
Com a crise causada pela co-
vid-19, que chegou ao País en-
quanto a economia tentava su-
perar o baixo crescimento e a
crise política entre o governo
do presidente Jair Bolsonaro e
os demais Poderes escalava, o
cenário mudou radicalmente.
Na última terça-feira, a agên-
cia Fitch revisou para “negati-
va” a perspectiva para a nota de
crédito soberano do País, pela
“deterioração das perspectivas
econômicas e fiscais e os riscos
negativos de renovada incerte-
za política, incluindo tensões
entre o Executivo e o Congres-
so, e incerteza sobre a duração e
a intensidade da pandemia”,
aponta a nota da agência.
A Fitch revisou a perspectiva
para a nota e manteve a classifi-
cação do Brasil em “BB-”. A S&P
também atribui ao País nota
“BB-”, e a Moody’s o classifica
em “Ba2” – todas as notas abai-
xo do grau de investimento.
No mês passado, o Indicador
de Incerteza da Economia (IIE)
da Fundação Getulio Vargas
(FGV) bateu em 210,5 pontos, o
nível mais alto da série históri-
ca, e já tinha subido 95 pontos
desde fevereiro. Antes disso, o
ponto mais alto havia sido atin-
gido justamente quando a Stan-
dard and Poor’s retirou o grau
de investimento do Brasil, em
setembro de 2015.


Incertezas. Segundo a analista
de ratings soberanos para a
S&P Livia Honsel, a pandemia
tornou mais difícil a aprovação
de reformas. “Em dezembro, ha-
via a probabilidade de melhora
na nota do Brasil, com base em
uma redução do déficit. Agora,
nesse contexto tão complexo, é


difícil que o rating do Brasil me-
lhore no ano que vem.”
Ela lembra, que apesar de as
agências não opinarem sobre a
forma como cada governo lida
com a crise do novo coronaví-
rus, a avaliação de risco do Bra-
sil inclui questões políticas, co-
mo as dificuldades para o País
avançar nas reformas, causadas
por divisões no Congresso ou
oposição entre os Poderes.
“Como em outros países, os
impactos da pandemia na eco-
nomia e na performance fiscal
do Brasil serão graves”, diz Sa-
mar Maziad, vice-presidente e
principal analista para o Brasil
da Moody’s. “Esperamos uma
queda do Produto Interno Bru-
to (PIB) de mais de 5% este ano.
E tudo vai depender do quanto
o governo será capaz de voltar
ao caminho da consolidação fis-
cal no ano que vem.”
Segundo Maziad, um ponto
importante para definir a ima-
gem que o Brasil terá perante os
investidores internacionais se-
rá como o País vai conseguir
aplicar os recursos usados para
conter os efeitos da crise. “Ain-
da vai ser preciso avaliar a efeti-
vidade das medidas que estão
sendo aplicadas agora”, diz.

BRASÍLIA


O presidente Jair Bolsonaro
anunciou ontem que incluiu
academias de ginástica, salão
de beleza e barbearia como ser-
viços essenciais. O decreto que
confirma a decisão do governo
foi publicado em edição extra


do Diário Oficial da União que
circulou ontem. “Saúde é vida”,
justificou o presidente ao jorna-
listas na chegada do Palácio da
Alvorada. Segundo ele, as três
atividades são fundamentais pa-
ra a manutenção da saúde. O mi-
nitro da Saúde, Nelson Teich,
afirmou que foi pego de surpre-
sa com o decreto.
“Academia é vida. As pessoas
vão aumentando o colesterol,
tem problema de estresse.
(Com a academia) vai ter uma
vida mais saudável”, disse, com-
plementando que ir ao cabelei-
reiro é uma questão de higiene.

“A questão de cabeleireiro tam-
bém. Fazer cabelo e unhas é
questão de higiene.”
Com essa ampliação, a lista,
que foi definida pelo decreto
10.282, de 20 de março, já tem
57 atividades. No último dia 7, o
presidente já tinha incluído o se-
tor da construção civil e ativida-
des industriais como essen-
ciais, após reunião com empre-
sários no Supremo Tribunal Fe-
deral (STF). Entre os empresá-
rios que apoiam Bolsonaro está
Edgard Gomes Corona, Grupo
Bio Ritmo e Smart Fit, duas re-
des de academia.

O ministro da Saúde, Nelson
Teich, foi surpreendido pela no-
tícia. “Isso aí... Saiu hoje isso?”,
questionou Teich ao ser indaga-
do sobre a decisão do presiden-
te durante entrevista coletiva
no Palácio do Planalto.
Teich minimizou o episódio
dizendo que esta não é atribui-
ção da sua pasta, e sim do presi-
dente e do Ministério da Econo-
mia, mas que a medida ainda po-
de ser revista após considera-
ções da Saúde. “Não passou pe-
la gente. A decisão de atividades
essenciais é definida pelo Minis-
tério da Economia”, disse. An-
tes da declaração, o ministro da
Saúde consultou o secretário
executivo, general Eduardo Pa-
zuello.
Sobre as atividades essen-
ciais, Teich alertou que é seu de-
ver ajudar a proteger a socieda-
de e passar orientações para
que tudo funcione de forma se-
gura.

Ainda que, em público, o presi-
dente Jair Bolsonaro reafirme
que o ministro Paulo Guedes é
“o homem que decide a econo-
mia”, na prática, a desidratação
de pautas caras ao ministro –
como o congelamento de salá-
rios de servidores – não passa
despercebida pelo mercado.
Para as agências internacio-
nais de classificação de risco,
porém, a presença ou não de
Guedes à frente do ministério é
menos relevante do que a sinali-
zação do governo de que a agen-
da de reformas vai ser mantida.
“É importante que o governo
possa dar uma previsibilidade
sobre as políticas futuras. Se a
política de prudência fiscal con-
tinuar sendo a mesma, talvez
uma eventual saída de Guedes
não tivesse efeito algum sobre o
rating”, diz Livia, da S&P.
Para Samar Maziad, vice-pre-
sidente e principal analista para
o Brasil da Moody’s, o importan-
te será demonstrar que o País
está seguindo uma política fis-
cal hábil. “No ano passado, fo-
ram feitos alguns avanços, co-
mo a aprovação da reforma da
Previdência. O que vai contar
para os investidores é a conti-
nuidade dessas medidas.”
Fábio Silveira, sócio-diretor
da consultoria MacroSector vai
além. Ele diz que a gestão do mi-
nistério não vai bem. “A política
econômica está travada. As
agências não nos rebaixariam
durante a crise, mas vão colocar
filtros para ver como cada país
vai reagir após a covid-19.” / D.G.

lNota em risco
“Em dezembro, tinha
probabilidade de melhora
na nota do Brasil, com base
em uma redução do déficit.
Agora, neste contexto
mundial tão complexo, é
difícil que o rating do Brasil
melhore no ano que vem.”
Livia Honsel
ANALISTA DE RATINGS PARA A S&P


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Pedidos de seguro ao


desemprego sobem 22,1%


Agências de classificação avaliam que efeitos da covid-19 e ruído político devem adiar retorno do rating do Brasil a grau de investimento


Portas fechadas. Para analistas das agências, País precisa provar que recursos para combater crise foram bem aplicados

lMais atividade essencial
Com essa ampliação, a lista, que
foi definida pelo decreto 10.282,
de 20 de março, já tem 57 ativida-
des. No último dia 7, o presidente
já tinha incluído o setor da cons-
trução civil

Fiat começa a retomar suas atividades. Pág. B4}


Academia e salão de


beleza viram essenciais;


ministro da Saúde é


surpreendido, mas diz


que não é sua atribuição


Bolsonaro libera


novas atividades sem


consultar Teich


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O número de pedidos de segu-
ro-desemprego aumentou
22,1% em abril na comparação
com igual mês de 2019, com
748.484 solicitações feitas pe-
los trabalhadores, informou on-
tem o Ministério da Economia.
Em abril do ano passado, foram
612.909 pedidos.
O aumento de cerca de 135
mil requerimentos em termos
absolutos vem na esteira da cri-
se provocada pela pandemia do
novo coronavírus. O governo es-
tima que ainda há até 250 mil
requerimentos que ficaram re-
presados entre março e abril
por causa do fechamento de
agências do Sine, que são de ad-

ministração municipal e esta-
dual e estão sem atendimento
presencial para evitar risco de
alastramento da covid-19.
Os trabalhadores demitidos
sem justa causa têm até 120 dias
para requerer o seguro-desem-
prego. O governo tem buscado
orientar os cidadãos sobre a pos-
sibilidade de solicitar o benefí-
cio pela internet ou por aplicati-
vo para smartphone.
Na primeira quinzena de
abril, a quantidade de requeri-
mentos pela internet chegou a
90,2%. Depois, houve uma redu-
ção com o aumento de atendi-
mentos presenciais nos últi-
mos dias do mês. No acumula-
do de janeiro a abril, foram con-
tabilizados 2.337.081 pedidos.

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-20/03/

Pandemia pode derrubar nota do País

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