O Estado de São Paulo (2020-05-12)

(Antfer) #1

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H2 Especial TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Lovia Gyarkye
THE NEW YORK TIMES


Tudo o que Michelle Obama faz
sempre despertará interesse,
mesmo que não seja interessan-
te. Como primeira negra a se
tornar primeira-dama dos Esta-
dos Unidos, ela sabe que esse
escrutínio faz parte do pacote.
No início de Minha História,
novo documentário da Netflix
sobre sua vida, Michelle incenti-
va Melissa Winter, sua chefe de
gabinete, a expressar suas emo-
ções. Elas estão em Chicago, a
primeira de 34 paradas da turnê
de lançamento de seu livro de
memórias de 2018 (também
chamado Minha História e lança-
do no Brasil pela editora Objeti-
va), e Michelle, vestindo um
look todo branco, está prestes a
falar diante de uma arena lota-
da. Para ela e para as pessoas
que a acompanham na jornada,
é uma coisa avassaladora. “Vo-
cê não precisa aguentar tudo,
não precisa. Você pode chorar,
botar tudo para fora”, diz Mi-
chelle a Melissa. “Mas eu não
posso fazer isso agora.” E a gen-
te fica se perguntando se, em
algum momento, ela pôde cho-
rar, ou mesmo se chorou.
O filme está sendo anuncia-
do como um “raro olhar sobre a
intimidade” da ex-primeira-da-
ma. Mas, enquanto o livro de
memórias – com suas histórias
profundamente pessoais sobre
as lutas existenciais de Michelle
quando jovem adulta e as dores
de um aborto espontâneo anos
depois – jogava uma luz parcial
sobre uma mulher que tanto os
críticos quanto os admiradores
passaram anos tentando com-
preender, o documentário pare-
ce bem mais banal.
Tem todos os clichês das his-
tórias de megaestrelas que deci-
dem compartilhar a vida com o
público: momentos biográfi-


cos escolhidos a dedo e partici-
pações de convidados espe-
ciais, além de uma boa dose de
mensagens motivacionais so-
bre as virtudes da educação e a
propriedade holística das nar-
rativas pessoais.

Dirigido por Nadia Hallgren,
o filme leva os espectadores a
uma jornada equilibrada e co-
medida pela turnê de lançamen-
to de Michelle Obama. Ela quer
usar esse tempo para refletir so-
bre seus oito anos na Casa Bran-

ca. “Quero descobrir o que
aconteceu comigo”, diz ela.
E, mesmo que seja difícil
acreditar que alguém que este-
ja há tanto tempo sob os olhos
do público possa realmente es-
tar “desconectada”, as conver-

sas de Michelle são revigoran-
tes, oferecem insights mais
íntimos e mostram versões
mais nítidas de seu charme e
humor característicos. Ela con-
ta como superou a síndrome
do impostor – aquela persisten-
te sensação de
não pertencer –
nos tempos em
que estudava na
Universidade de
Princeton.
E fala sobre
sua relutância
em namorar Ba-
rack Obama quando os dois tra-
balhavam no mesmo escritório
de advocacia em Chicago, por-
que, pelo menos em parte, era o
que todos esperavam. “Era exa-
tamente o que eles estavam es-
perando”, lembra ela. “Vocês
se amam, não é? Você é negra,
ele é negro. Vai dar tudo certo.”
Embora muitos elementos
do documentário pareçam for-
çados, as respostas mais inte-
ressantes de Michelle são insti-

gadas durante os eventos em co-
munidades, quando ela fala
com grupos menores, muitas
vezes formados por jovens estu-
dantes. Eles perguntam como
ela superou a sensação de isola-
mento que assombra muitas
mulheres negras que se lançam
ao mundo. Michelle atribui sua
confiança aos pais, que lhe per-
mitiram questionar as coisas e
fizeram com que ela não se sen-
tisse invisível. “Não podemos
esperar que o mundo fique igua-
litário para começarmos a nos
sentir visíveis”, diz ela.
Os estudantes também ex-
pressam a Michelle seus medos
e frustrações em relação ao re-
sultado das eleições de 2016.
Aqui, ela se aventura na política
e dá sua opinião não apenas so-
bre a eleição de Trump, mas
também sobre os desafios que
seu marido enfrentou no cargo.
“Não foi apenas nesta elei-
ção, mas também nas eleições
parlamentares de meio de man-
dato. Barack não conseguiu o
Congresso de que precisava, ne-
nhuma vez, e isso aconteceu
porque nosso pessoal não com-
pareceu”, disse ela. “Depois de
todo esse esforço, eles simples-
mente não se deram ao traba-
lho de aparecer para votar.” É
uma afirmação
que o filme não
cobra de Michel-
le, deixando-a
inexplorada e in-
questionável.
Minha História
não é aquele fil-
me sincero sobre
Michelle Obama que as pes-
soas talvez estivessem esperan-
do. E, sinceramente, duvido
que algum dia veremos esse fil-
me em sua vida. Em vez disso,
temos uma Michelle Obama fa-
miliar – ainda que um pouco
mais solta e despreocupada –
que, segundo suas próprias pa-
lavras, aprendeu há muito tem-
po “a seguir mais o script”. /
TRADUÇÃO DE RENATO
PRELORENTZOU

Caderno 2


‘ACHO QUE PEGUEI


EM UMA FESTA’


CORONAVÍRUS

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

lO Hospital do Servidor Pú-
blico Estadual de SP projeta
na fachada fotos – tiradas por
Eduardo Tarran – da equipe
de enfermagem na pandemia,
com a hashtag #nursingnowb
da OMS, pelo Dia Mundial da
Enfermagem. Até o dia 17.

lA XP apoia a Missão Covid,
plataforma sem fins lucrati-
vos fundada pelos médicos
Leandro Rubio e Raphael
Brandão para atender a po-
pulação durante a pandemia.

lA BrMalls lançou campa-
nha de arrecadação de recur-
sos para distribuir 60 mil ces-
tas básicas nas comunidades
do entorno de seus shop-
pings no Brasil.

CLAYTON DE SOUZA

Indagada sobre onde acredita
ter sido contaminada pelo coro-
navírus, a conceituada médica
Angelita Habr-Gama não vaci-
lou: “Acho que peguei em uma
festa há quase dois meses, tinha
muita, muita gente”, contou à
coluna, por celular ontem. A
senhora, de 91 anos, teve alta
neste domingo “sem nenhuma
complicação”, explica.

Lamentavelmente, a médica
acabou sofrendo um outro ti-
po de ataque nesses 54 dias
consecutivos de internação: o
das fake news, nas mídias so-
ciais, dando conta de que ha-
via morrido. “Não vou falar

sobre isso, quero sim agrade-
cer a toda equipe médica, de
colaboradores, à equipe multi-
disciplinar do Oswaldo Cruz.
Quero também agradecer a
força dos amigos e colegas,
porque isso ajuda na recu-
peração”, frisa, elogiando
o hospital onde ela de-
tectou o vírus, se inter-
nou, sempre traba-
lhou e trabalha.

Quando a senhora
volta a atender?
“Acredito que na
semana que vem já
terei condições”, pondera.
Quantos dias ficou na

UTI? Fiquei 50 dias e outros qua-
tro em quarto normal do hospi-
tal, antes de receber alta.

Quais sintomas da doença a
senhora teve antes de ser diag-
nosticada? “Não tive febre, tos-
se ou perda de olfato, só mui-
ta, mas muita dor pelo corpo
inteiro, algo insuportável”, la-
menta a experimentada cirur-
giã, reconhecida internacional-
mente por sua atuação na área
de coloproctologia e trabalho
como pesquisadora. “Essa é
uma doença que prostra, pros-
tra completamente”.

Que tipo de pensamentos apa-
receram durante a internação
na UTI? A senhora acreditava
que iria vencer o vírus? “Olha,
quando a gente está na UTI,
não pensamos em nada. Quan-
do saí, tive certeza que tinha

ganho a batalha”, conta a
paciente, que conforme co-
municado do hospital emiti-
do no domingo à noite,
“tem significado especial
para todos nós do Oswaldo
Cruz e para todos os profis-
sionais da saúde”. Angelita
trabalha na instituição des-
de 1960 e “é uma referên-
cia para todos”. Vê-la cura-
da, depois de uma intensa
batalha contra o vírus, reno-
va nossa confiança na medi-
cina, na ciência, na luta pa-
ra salvar vidas e traz imen-
sa alegria a todo o corpo
clínico e assistencial da ins-
tituição”.

O que a senhora recomen-
da para a população brasi-
leira? “Não saiam de casa,
esse vírus não é brincadei-
ra”, reforça Angelita.

OLHAR

RESPONSABILIDADE
SOCIAL

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

DIZ QUE APRENDEU
HÁ MUITO TEMPO
A SEGUIR MAIS
O SCRIPT

NETFLIX

Documentário sobre ex-primeira-dama, ‘Minha História’


joga uma luz parcial sobre quem é esta mulher


POLAROID
Odilon Wagner está direcionando esforços
para ajudar o setor da cultura, que sofre
com a paralisação total durante a
quarentena. “Quase 100% do meu tempo
está destinado à campanha de
arrecadação de recursos para o Fundo
Marlene Colé de apoio a técnicos e artistas.
São trabalhadores do teatro, circo, dança e
ópera que estão passando necessidades
básicas. O nosso fundo está com duas
ações no momento, a distribuição de
cartão alimentação carregado com R$ 500
e cestas básicas”, conta o ator, fotografado
em sua casa no Sumaré.

Bebo não?


Antes do coronavírus, as ven-
das da cerveja premium Coro-
na – do “ritual do limão” –
cresciam 5%, baseadas em nú-
meros de janeiro e fevereiro.
Em março, a cervejaria redu-
ziu, segundo apurou a colu-
na, a produção para conter
perdas com a pandemia.

No balanço que divulgou
quinta-feira, a Ambev não de-
talhou encolhimento por
marcas, mas informou o volu-
me total de hectolitros dos
rótulos da companhia. Redu-
ção de 5,6% no trimestre.

Bebo 2


No Google, perguntas do ti-
po “como é feita a Corona?”,
“quem distribui no Brasil?” e
até “quem é o dono?” se mul-
tiplicaram na pandemia.

O nome da cerveja mexicana,
que chegou no Brasil pelas
mãos da Ambev, faz referên-
cia à coroa solar em espanhol.

Bebo 3


Como saída, a Ambev acelera
sua estratégia digital. Patroci-
nou, por exemplo, mais de
60 lives e lançou a ação Apoie
um Restaurante – que já bene-
ficia 3,5 mil deles no País.

Hello


Dan Brown falará pela pri-
meira vez ao vivo com os fãs
brasileiros. O autor de O
Código da Vinci, que já ven-
deu 150 milhões de livros no
mundo, participa no dia 19
de uma live promovida pela
editora Arqueiro.

Para pequenos


As editoras Moderna e Sala-
mandra, do Grupo Santillana,
doarão 17 mil livros infantis
para Pernambuco, em kits
com jogos, giz de cera e sabão.

RARO E CONTIDO PARA


MICHELLE OBAMA


Ícone. Conversas de Michelle
oferecem insights mais íntimos
e versões mais nítidas
de seu charme e humor

DENISE ANDRADE/ESTADÃO
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