O Estado de São Paulo (2020-05-12)

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A4 TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Wilson Lima,
governador do
Amazonas

»Deixa como está. Pesqui-
sa realizada pelo Instituto
Travessia mostra que 41%
dos entrevistados defen-
dem que as eleições sejam
realizadas em outubro.

»Veja bem. Já os que que-
rem o adiamento para de-
zembro somam 27% dos
entrevistados e 21% prefe-
rem que os mandatos dos
atuais prefeitos sejam am-
pliados. Do total, 11% não
souberam responder.

»Método. A pesquisa foi
realizada por telefone na
sexta-feira (8) e foram en-
trevistadas 1.003 pessoas. A
margem de erro é de 3 pon-
tos porcentuais e o nível de
confiança é de 95%.

»E aí? “Há quem defenda
que as convenções partidá-
rias sejam feitas por video-
conferência, mas há municí-
pios sem acesso à internet”,
diz o presidente do Conse-
lho Nacional dos Municí-
pios, Glademir Aroldi.

»Plano A. O governador
do Amazonas, Wilson Lima
(PSC), reconhece que o iso-
lamento social é hoje a úni-
ca forma de frear o avanço
do coronavírus. Mas, por
enquanto, ele descarta a pos-
sibilidade de “lockdown”.

»Regras. Segundo ele, o
caminho ainda é conscienti-
zar a população. “Mas não
tem como partir para cima
das pessoas, não tem como
partir para agressão para
que isso (isolamento so-
cial), efetivamente, aconte-
ça. O nosso povo já está
muito sofrido com essa pan-
demia”, afirmou à Coluna.

»Otimista. Alvo de um pro-
cesso de impeachment na
Assembleia, o governador
disse ter em mãos estudo
mostrando que o Estado
enfrenta o pico da pande-
mia. Segundo ele, na próxi-
ma semana os casos devem
diminuir. A ver.

»Lei do... A Coluna questio-
nou o Planalto: 1) todas as
reuniões entre os ministros
e o presidente são grava-
das? 2) se sim, qual o moti-
vo? 3) quantos vídeos fo-
ram produzidos até hoje
desses encontros? 4) quem
faz as gravações e onde elas
ficam armazenadas?

»...silêncio? Em nota, a
Secretaria de Comunicação
informou apenas que não
iria responder. O vídeo da
reunião em que Bolsonaro
teria ameaçado Sérgio Mo-
ro deverá ser exibido hoje.

»Mundo... O governo pau-
lista obteve autorização da
Procuradoria para realizar
processos virtuais durante
a pandemia e a participação
de interessados nas conces-
sões do governo Doria tem
superado expectativas.

»...digital. “Só para esta
terça-feira (12), estão agen-
dadas audiências da conces-
são do Zoológico e do Jar-
dim Botânico e dos 22 aero-
portos regionais”, diz o vi-
ce-governador Rodrigo Gar-
cia, presidente do Conselho
de Concessões e PPPs.

»Jabuticaba. Leitor aten-
to observa: o rodízio alter-
nado, implantado por Bru-
no Covas, foi utilizado nos
anos 70 na Nigéria.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA.

L


íderes partidários já discutem informalmente, in-
clusive com Rodrigo Maia, o que fazer com o calen-
dário eleitoral na pandemia. Sabem que será impos-
sível fingir por muito mais tempo a inexistência do proble-
ma e seus riscos para a democracia. Um eventual adiamen-
to das eleições, marcadas para outubro, depende de mu-
danças na legislação. Nos bastidores, ganha força a ideia
de postergar o pleito para novembro ou dezembro. Neste
momento, porém, a maior parte dos eleitores é contra o
movimento, indica pesquisa feita sob sugestão da Coluna.

Maior parte ainda é


contra adiar as eleições


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Mesmo sem China,
gasto de Bolsonaro

aumenta. Pag. A


Cartão corporativo


Bolsonaro queria alguém


com ‘afinidade’, diz Valeixo


Em depoimento no inquérito que apura se houve interferência política do presidente na


PF, ex-diretor-geral fala em pressão por troca de delegado no Rio sem ‘nenhuma razão’


O ex-diretor-geral da Polícia
Federal (PF) Maurício Valei-
xo disse ontem, em depoi-
mento, que o presidente Jair
Bolsonaro queria alguém
com quem tivesse mais “afini-
dade” no comando da corpo-
ração, conforme antecipado
pelo estadão.com.br. Ouvido
em Curitiba, como parte do
inquérito que analisa se Bol-
sonaro interferiu politica-
mente na PF, Valeixo disse
que se sentia “desgastado” pe-
la pressão do Planalto para
uma troca no comando da PF
no Rio. Segundo ele, não ha-
via “nenhuma razão” que jus-
tificasse essa substituição.
O depoimento de Valeixo du-
rou cerca de seis horas. Ele foi
questionado sobre apurações
em andamento que pudessem
ser do interesse de Bolsonaro,
como a investigação sobre o
atentado a faca sofrido pelo pre-
sidente em 2018, a morte da ve-
readora Marielle Franco e a apu-
ração sobre um suposto esque-
ma de candidaturas laranja do
PSL, antigo partido de Bolsona-
ro, em Pernambuco – Estado em
que o presidente também ten-
tou trocar o superintendente.
Bolsonaro já demonstrou insa-
tisfação com os rumos da apura-
ção do atentado. Seus filhos co-
braram, via redes sociais, que a
PF insistisse na tese de que Adé-
lio Bispo foi financiado por al-
gum grupo político. A investiga-
ção concluiu, porém, que o agres-
sor agiu sozinho. O presidente
não demonstrou “contrarieda-
de” com a conclusão da PF du-
rante reunião com os responsá-

veis pelo caso, afirmou Valeixo.
O delegado relatou que Moro
pediu investigação que esclare-
cesse a citação a Bolsonaro no
depoimento do porteiro do con-
domínio Vivenda da Barra. O
funcionário disse, no fim do ano
passado, que o presidente havia
autorizado a entrada de suspei-
tos de matar Marielle no local.
Ele depois se retratou.
Em relação ao inquérito das
fake news, que corre no Supre-
mo Tribunal Federal (STF) e po-
de atingir deputados e empresá-
rios aliados do Planalto, Valeixo
disse que não teve acesso à inves-
tigação. “Nunca foi solicitado
ao depoente qualquer informa-
ção, seja pelo ex-ministro (da
Justiça e da Segurança Pública)
Sérgio Moro ou pelo presidente
da República”, aponta o depoi-
mento. Antes de sair do gover-
no, em 24 de abril, Moro rece-
beu uma mensagem de Bolsona-
ro com a frase “mais um motivo
para a troca (do comando da PF)”
e uma notícia sobre parlamenta-
res que seriam alvo do STF.
O inquérito que apura a possí-
vel interferência de Bolsonaro
na PF foi aberto a pedido do pro-
curador-geral da República, Au-
gusto Aras, logo após a demis-
são de Moro. Ele apura sete cri-

mes: falsidade ideológica, coa-
ção no curso do processo, advo-
cacia administrativa, prevarica-
ção, obstrução de justiça, cor-
rupção passiva privilegiada e de-
nunciação caluniosa. Com o in-
quérito, Aras quer descobrir se
Bolsonaro agiu de forma irregu-
lar ou se Moro mentiu.
Também prestaram depoi-
mento ontem, em Brasília, o ex-
superintendente da PF no Rio, Ri-
cardo Saadi e o diretor da Abin,
Alexandre Ramagem. Saadi, que
deixou o cargo no fim de agosto,
negou ter sofrido pressão por in-
vestigações. Questionado se cre-
dita sua saída à interferência po-
lítica, disse que os motivos não
lhe foram apresentados.

Troca. Ainda de acordo com o
relato de Valeixo, Bolsonaro ex-
ternou a vontade de trocar o di-
retor da PF em duas oportunida-
des recentemente – “uma pre-
sencialmente, outra pelo telefo-
ne”. “O presidente teria dito ao
depoente que gostaria de no-
mear ao cargo de diretor geral
alguém que tivesse maior afini-
dade, não apresentando ne-
nhum tipo de problema com o
depoente”, diz o relato.
Ao ser questionado se a troca
na direção da corporação faria
com que o presidente tivesse
acesso a todas as investigações,
Valeixo afirmou que não: “Seria
necessária uma troca na rotina
de trabalho estabelecida na PF
já há muitos anos”. Na visão do
delegado, não houve interferên-
cia política em seu trabalho. “Pa-
ra o depoente a partir do mo-
mento em que há uma indica-

ção com interesse sobre investi-
gação, estaria caracterizada in-
terferência política, o que não
ocorreu em nenhum momento
sobre o ponto de vista do de-
poente”, diz o documento com
o termo do depoimento. /
FAUSTO MACEDO, PAULO ROBERTO
NETTO, PEPITA ORTEGA, PATRIK
CAMPOREZ e VINÍCIUS VALFRÉ

Rui Falcão

C


elso de Mello tem pressa. Assim, a conclusão do
inquérito proposto pelo procurador-geral, Augus-
to Aras, poderá ocorrer bem antes da sua aposenta-
doria, em novembro. Ontem, no testemunho do ex-dire-
tor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo ficou, mais
uma vez, clara a intenção do presidente Jair Bolsonaro
de, por meio de um diretor submisso, se imiscuir – ilegal-
mente e com abuso de poder – na atividade da polícia ju-
diciária federal.
Segundo Valeixo, Bolsonaro disse-lhe: “Quero um dire-
tor-geral na Polícia Federal com mais afinidade comigo”.
Esse testemunho de Valeixo confirma o relato de Moro no

mesmo inquérito. E também o de Moro quando da exone-
ração do cargo e da função de ministro.
É importante frisar que o Judiciário e o Ministério Públi-
co são os destinatários únicos da atividade desenvolvida
pelas polícias judiciárias (federal e estaduais), e uma delas
diz respeito ao inquérito. Daí, ter o legislador usado a ex-
pressão polícia judiciária. Como observou o saudoso pro-
cessualista Canuto Mendes de Almeida, as polícias judiciá-
rias exercem função auxiliar ao Judiciário e ao Ministério
Público. O presidente Bolsonaro não pode interferir na
atuação da Polícia Federal quando em função de polícia
judiciária. Bolsonaro não está constitucionalmente legiti-
mado a obter, de maneira informal ou formal, informa-
ções estranhas ao Executivo federal.

]
JURISTA, PROFESSOR E DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJ-SP

]
ANÁLISE: Wálter Fanganiello Maierovitch

GOVERNO EM RISCO


PRONTO, FALEI!

Testemunho de ex-diretor da


PF confirma relato de Moro


l ‘Verdade’
Jair Bolsonaro disse ontem que
tem “zero” preocupação com o
vídeo da reunião citada pelo ex-
ministro Sérgio Moro em depoi-
mento à PF. “Verdade acima de
tudo”, afirmou o presidente.

INQUÉRITO

“Sob o pretexto de combater o PT, o Partido Novo
preferiu votar no genocida Bolsonaro e se alinhar ao
retrocesso. O povo e a história não o perdoarão.”

Deputado federal e ex-presidente do PT

»CLICK. O grupo 342 Ar-
tes lançou “vaquinha”
para ajudar o Amapá. A
ideia é ampliar para ou-
tros Estados depois. Cae-
tano Veloso é o garoto-
propaganda da iniciativa.

COLUNA DO ESTADÃO

l Vídeo
Está prevista para hoje a exibi-
ção da gravação da reunião minis-
terial citada pelo ex-ministro Sér-
gio Moro. No sábado, o ministro
Celso de Mello, do STF, autorizou
que o procurador-geral, Augusto
Aras, o advogado-geral da União,
José Levi do Amaral Jr., e Moro
tenham acesso integral ao vídeo.

l Ministros militares
Os depoimentos dos ministros
Augusto Heleno, do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI),
Luiz Eduardo Ramos, da Secreta-
ria de Governo, e Walter Braga
Netto, da Casa Civil, estão marca-
dos para a tarde de hoje, no Palá-
cio do Planalto.

l Delegados e deputada
Amanhã, serão ouvidos Carlos
de Oliveira Sousa, ex-superinten-
dente da PF no Rio, e Alexandre
Saraiva, ex-superintendente no
Amazonas, além da deputada
Carla Zambelli (PSL-SP). Na quin-
ta-feira, depõe Rodrigo Teixeira,
ex-superintendente em Minas.

DIDA SAMPAIO/ESTADAO

Brasília. O diretor da Abin, delegado Alexandre Ramagem, ao chegar à sede da Polícia Federal para prestar depoimento
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