Valor Econômico (2020-05-12)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 10 da edição"12/05/2020 1a CAD A" ---- Impressapor rcalheiros às 11/05/2020@19:11:


A10|Valor|Terça-feira, 12 de maiode 2020

Opinião


Falta doaprendizadoinstitucional


dascrisesfinanceiras noBrasil


Entidadesprovedorasdeliquideznãopodemoperar


emvácuosnormativos.PorCamilaDuran e CaioBorges


Mosaico regulatório
ainda temlacunas em
modalidades e critérios
para o acessoa linhase
programasemergenciais

E


m temposde crise,o sis-
temabancáriotendeafi-
carexpostoaestressesfi-
nanceiros, dentre eles a
restrição de liquidez. A crisede
2008 iniciou-senosistemafinan-
ceiroe se alastrou à economia
real. Já acovid-19 expôsaecono-
mia a choquesde demandae
ofertae, por sua vez, está impac-
tandoo sistema financeiro. A
contraçãoeconômicadecorrente
tem sido comparadasomenteà
dosanosde1930.
Da perspectiva institucional,
contudo, a crisedo covid-19 cami-
nha para convergircom ade 2008
em, pelo menos, um aspecto rele-
vante: as respostas são, maisuma
vez, baseadasem medidas ad hoc,
queacentuamatendênciadefrag-
mentação ede deficiência quanto
aos mecanismos jurídicos de ges-
tão de crisesdeliquidez e de pres-
tação de contasdosagentes do sis-
temafinanceiro nacional (SFN),
notadamente do Banco Central do
Brasil (BCB) edo Fundo Garanti-
dor de Crédito (FGC). Não se aper-
feiçoou o arcabouço brasileiro no
pós-2008ese perdeuaoportuni-
dadede responderde forma ade-
quadaànovacrise. Em temposde
normalidade,a inércia do Con-
gresso Nacional em aprovarproje-
tosdeleideinteressedoSFNéuma
dasprincipaisrazões.
Dentreas diversas interven-
ções regulatórias promovidas
desdeo inícioda pandemia,o
Conselho Monetário Nacional
(CMN)reeditouum instrumento
que foi concebidocomsucesso
no pós-2008:oDepósitoaPrazo
comGarantiaEspecial(DPGE).
Asseguradopelo FGC, com prazo
de maturaçãoestendidoe maior
denominação, ele permiteque
bancos captemvolumemaiorde
recursos juntoao mercado. Em
umasegundamedida,oescopo
do DPGEfoi ampliadocomga-
rantiadeatéR$400milhõespara
omercadointerbancário.
Vê-se que, àsemelhança do que
ocorreu em 2008,oCMN expande
asfunçõesdoFGCparaassegurara
estabilidadefinanceira.Suainstru-
mentalizaçãoparaincrementara
liquidez do sistema foi um dos as-
pectos centrais do rearranjoinsti-
tucionaldopós-2008.Naprática,o
FGC tornava-se tambémo princi-
palprestamistadoSFN.Opoderde
conceder assistênciade liquidez
foi, primeiramente, formalizado
pela autorizaçãonormativa ao
FGC para adquirir direitos creditó-
rios de instituiçõesassociadas, em
dezembrode2008.
O prestamista de última instân-
cia é o agente financeiro que tem a
capacidade institucional e econô-
mica, e estádisposto a emprestar

liquidez, no momento em que ou-
trosagentes se recusamafazê-lo.
Aindaque essa funçãoseja típica
debancoscentrais,elanãoéexclu-
siva a eles.Arranjos alternativos
são possíveis. No entanto, eles po-
demapresentarlimitações.Emcri-
ses mais profundas, elestendem a
revelar problemasde credibilida-
de, porquenão gozam do mesmo
privilégiojurídico eeconômico de
bancoscentrais.
Na esferaglobal,esse é ocaso
do Fundo MonetárioInternacio-
nal, que não gozada prerrogati-
vadoFederalReservedosEstados
Unidos,que é o emissorda moe-
da maisdemandadaem tempos
de crise,o dólar. No âmbitona-
cional,esse éparticularmente o
caso do FGC. Em artigocom aná-
lise das açõesdo pós-crise de
2008,publicado pela RevistaDi-
reito GV em 2018, pudemos
identificarqueasrestriçõeslegis-
lativasàsaçõesdoBCBeramuma
das causasda expansãocorres-
pondentedo FGC. O fundo,con-
tudo, enfrentaproblemas de efi-
ciênciaeconômica,porquesuas
açõessãobaseadasematividades
de redesconto limitado. Ade-
mais,oFGC não emitemoeda,
mas apenasalocarecursos a ban-
cos com dificuldades. Em caso de
crisesseveras,o fundonão terá
acessoa recursosdo BCB, pois
nãoéinstituiçãofinanceirae,por
ora, não há previsãolegislativa
paratanto.

Tambémnão há obrigação legal
de segregação patrimonial, de for-
ma a protegerosegurode peque-
nos depositantesepermitir aexe-
cuçãodasnovas(esempreamplia-
das) funções. OCongresso não
aprovou leis pararesponder a es-
ses desafios. ResoluçõesdoCMN
continuam a responder de forma
emergencialedeficiente.
Ao contrário de seus pares, o
BCB tem sérias dificuldadesinsti-
tucionaisdelançarmãodeprogra-
mas de estímulo, nos moldes em-
pregados por paísesdesenvolvi-
dos. Há forte estigma político,
ecoando as medidas de suporte a
bancos da década de 1990,além
de restrições temporais aopera-
ções de redesconto, impostas pela
Lei de ResponsabilidadeFiscal,ea
faltade autorizaçõeslegais para
recurso a instrumentosmais ino-
vadoresdepolíticapública.
Publicadano últimodia 8, a

EmendaConstitucionaldo Orça-
mentode Guerra (EC 106)auto-
riza o BCB acomprare vendertí-
tulos, inclusive privados, em
mercadossecundários,durantea
vigênciade calamidadepública.
Ela tambémestipulacontrapar-
tidasàliquidezoferecida, além
de exigirtransparênciaepresta-
ção periódicade contas.No en-
tanto,inseriu-serestriçãoinsti-
tucionalquanto ao uso dos me-
canismosde gestãode liquidez,
restritoao períodode emergên-
ciadesaúdepública.
O mosaicoregulatóriobrasi-
leiro ainda apresenta lacunas
quanto a modalidadese critérios
paraoacessoalinhas,progra-
mas e operações de assistência
emergencial. Também não há
transparênciaex ante quantoao
diálogo eàd ivisãode tarefasdas
açõescompartilhadaspelo BCB e
pelo FGC. Ésintomáticodo cará-
ter imperfeitodo marcojurídico
que, passadosmaisde dez anos
de umacriseglobal,questiona-
mentos dessanaturezareapare-
çamfaceanovastentativasdeex-
pandiraatuaçãodo BCB edo
FGC, que é uma entidadeprivada
comfunçõesdepolíticapública.
Emtodoomundo,bancoscen-
trais reconhecem os benefícios
datransparênciaexante,emrela-
ção aos seus poderes eaos instru-
mentosdesuporte de liquidez,e
datransparênciaexpost,emrela-
ção aoperações financeiras espe-
cíficas. No Brasil, os dados rela-
cionadosao suporte de liquidez
oferecidopelo FGC,no passado,
nuncaforamdivulgados.
Evidentemente que a divulga-
ção prematurade operações pode
impactaraestabilidadefinanceira.
No entanto, seria desejável que o
arcabouço jurídico assegurasse
prestação de contas, de formaque
haja divulgação em momento
oportuno, seja apóscertotempo
darealizaçãodaoperaçãodeliqui-
dez, ou de seu total reembolso. Por
ora, não há qualquer obrigação le-
galdepublicaçãopeloFGC.
Aindaquesepossaaperfeiçoar
o enquadramentolegislativoda
transparência,ela éabsoluta-
mentenecessária.Entidades pro-
vedorasde liquideznão podem
operarem vácuosnormativose
arranjosincompletos. Incoeren-
temente,essa é apráticarecor-
renteno país, o que mostraque o
aprendizadoinstitucionalde cri-
sesaindaébastantereduzido.

CamilaVillard Durané professora
doutora da Faculdadede Direito da
Universidadede São Paulo (FDUSP) e
professora visitante da SciencesPo Paris.
CaioBorgesé doutor pelaFDUSPe
mestre pelaFGV Direito SP.

AGÊNCIAGLOBO

Comércio exterior podefazer


algumcontraponto na recessão


E


mcontrastecomasériedenotícias
negativasqueaeconomia
brasileiravemcolecionando,a
balançacomercialdeabril
surpreendeupositivamentecom
umsaldodeUS$6,7bilhões.Oresultado
superouemUS$600milhõesatéUS$
milhõesasexpectativasdomercado,que
estavapessimistacomoprimeiromês
impactadointegralmentepeloefeitoda
pandemiadocoronavírusnaeconomia.
Tantoexportaçõesquantoimportações
caíram.Osaldodeabriléresultadode
exportaçõesquesomaramUS$18,3bilhões.
Masasimportaçõescaírammais,12,3%,e
totalizaramUS$11,6bilhões.Nobalanço
final,foiosegundomaiorresultadoparao
mêsdasériehistórica,somentesuperadopor
abrilde2017.
Dejaneiroaabril,osaldoacumuladopela
balançacomercialestáemUS$12,
bilhões,comquedade16,4%sobreosUS$
14,7bilhõesdomesmoperíodode2019.Esse
foiopiorresultadoparaosquatroprimeiros
mesesdeumanodesde2015,quandohouve
umdéficitdeUS$5,1bilhões.Em12meses,o
saldoédeUS$45,621bilhões.
ASecretariadeComércioExterior(Secex)
estimouqueabalançacomercialvaifecharo
anocomsuperávitdeUS$46,6bilhões,com
umaquedade3%emrelaçãoaoresultadode
US$48bilhõesdoanopassado,mas
relativamentesuaveemvistadocenárioglobal.
Aprevisãolevaemcontavariáveiscomo
importaçõesmundiais,taxadecâmbioreal,
atividadeeconômicabrasileira,produção
industrialeocomportamentodocomercio
exteriorbrasileiro.Seessasprojeçõesse
confirmarem,oBrasilteráumdesempenhono
comércioexterioracimadamédiaglobal.A
OrganizaçãoMundialdoComércio(OMC)
calculaqueacorrentemundialdecomércio
diminuiu4%noprimeiroquadrimestre;e
estimaquedeveencolherde13%a32%esteano.
Algunsfatoressustentamaprevisão.A
fortequedadorealtornouosprodutos
brasileirosmaiscompetitivosemdólar.
OutrofatoréafortepresençadoBrasilno
mercadoglobaldealimentoscomogrãose
proteínaanimal.Mesmoemplenapandemia,
paísesnãodeixamdecompraralimentos.
Alémdisso,nãosóaChina,masaÁsiacomo
umtodoestásetornandoparceirocomercial
cadavezmaisimportanteetemreforçadoas

comprasdealimentos.Asexportaçõesparaa
Ásiacresceram28,65%emabril.Somente
paraaChinaoaumentofoide29,5%,apesar
dasprovocaçõesdealgunssetoresdo
governo.Umavantagemadicionalda
parceriacomaChinaéofatodeestarsaindo
dacrisecausadapelocoronavírusantesdas
demaisnações.
JáasexportaçõesparaosEUAeArgentina,os
doismaioresparceiroscomerciaisdepoisda
China,caíram31,7%e46%,respectivamente;e
paraaUniãoEuropeiasubiramapenas0,21%.
TantoosEUAquantoaArgentinaenfrentam
fortecontraçãoeconômica.Apautadevendas
paraessespaísesémuitoconcentradaem
produtosindustrializados,cujocomércioestá
abaladoglobalmentepelapandemia.
Umapautadeexportaçõesexpressivaem
alimentosemaiorvolumeembarcado
sustentaramodesempenhodasexportações
emabril.Asvendasexternasdeprodutos
básicossaltaram22,8%,compensando
parcialmenteaquedade34,4%das
exportaçõesdemanufaturadosede4,8%dos
semimanufaturados.Houverecordemensal
nosembarquesdeprodutoscomosoja,com
16,3milhõesdetoneladasecarnebovina
fresca,refrigeradaoucongelada,com
miltoneladas.Jáemrelaçãoaovalor
exportado,apresentaramrecordemensala
sojacomUS$5,5bilhões;acarnebovina,com
US$509milhões;eacarnesuína,US$
milhões.
Háquemreceiequeospróximosmeses
mostremresultadosmenosfavoráveisdevido
aoagravamentodacriseglobaledo
acirramentodadesglobalizaçãodascadeias
deproduçãoeaumentodoprotecionismo.O
InstitutodePesquisaEconômicaAplicada
(Ipea)prevêqueadiminuiçãodocomércio
internacionalcausadapelapandemia
causaráumaretraçãodasexportações
brasileirasentre11%e20%em2020,com
vendasempatamarinferioraUS$
bilhões.Acrisetambémterárepercussãonas
importações,quecairão20%,paracercade
US$140bilhões.Osuperávitcomercial
projetadoéatésuperioraoesperadopelo
governo.MasascontasdoIpeaembutem
umaperspectivadereduçãodacorrentede
comérciodepoucomaisde12%,dosUS$
402,7bilhõesde2019paraUS$353bilhões
nesteano—aindaassimemlinhacomas
previsõesmaisotimistasdaOMC.

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