Valor Econômico (2020-05-12)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 2 da edição"12/05/20201a CADB" ---- Impressa por LGerardi às 11/05/2020@20:37:


B2|Valor| Terça-feira, 12 de maiode 2020

Empresas|Indústria


Sebbagh,presidentedaContinental,dizquesehouvessenoBrasiluma“visãoúnicae coletiva”para contera pandemia“nãoestaríamosnasituaçãodehoje”

NILANIGOETTEMS/VALOR
AutopeçasPandemiaalteroua

agendadeinovaçãonosetor


Continental

sugere

revisão do

Rota 2030

Marli Olmos
De São Paulo

Antes da pandemia, aindústria
automotiva se preparava para dar
alguns saltos em tecnologiano
Brasil. Um dos mais adiantados éo
sistema de controle eletrônico de
estabilidade, que ajudaomotoris-
ta anão perder o domínio do veí-
culo em curvas fechadas ou pisos
escorregadios. O chamado ESC, na
siglaem inglês, passouaser obri-
gatório em novos modelos desde
janeiro e deverá estarem todosos
carros produzidos a partirde


  1. Embora inovação não esteja
    na pautado dia no país que agoni-
    za com ocrescente número de
    mortes pelacovid-19, fabricantes
    de componentes que se prepara-
    ram para atender aos avançostec-
    nológicosse perguntam comose-
    rá ofuturo da inovação veicular,já
    que praticamente todas as monta-
    doras decidiram adiarinvestimen-
    tosemnovosmodelos.
    EsseéocasodaContinental,
    umadas maiores fabricantes de
    autopeças do mundoecuja espe-


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


cialidade éodesenvolvimentode
itensde segurança ede conectivi-
dade. Há exatamenteum ano, a
companhiainaugurou em Várzea
Paulista, no interior de São Paulo,
uma linhade produçãodo ESC pa-
ra atenderao que parecia ser um
mercado compotencial de rápida
expansão. Além disso, a empresa,
também conhecida pela produção
de pneus, imediatamenteinscre-
veu-seno Rota2030, um progra-
ma lançado pelo governo de Mi-
chel Temer, que oferece incentivos
fiscais em troca de investimento
empesquisaedesenvolvimento.
“A decisão das montadoras de
adiar lançamentos traráimpacto
nos recursos de engenharia volta-
dos aprojetos nos quais já havía-
mos começado a trabalhar”, afir-
maopresidentedaContinentalna
AméricadoSul,FrédéricSebbagh.
O executivoacreditaque o Ro-
ta 2030terá de ser revisto.Opro-
grama foi concebidopara, ao
longodedezanos,ofereceravan-
ços, principalmente,nas áreasde
segurançaveicularedeemissão
de poluentes.Aprimeira etapa
das inovaçõesestá marcada para
ocorrer até o fim de 2023.O cro-
nogramapode,no entanto, ficar
comprometido pela criseprovo-
cadapelonovocoronavírus.“Se

não houverumanovanegocia-
ção as empresasterãoque se de-
sabilitar; caso contrário,terão de
pagarmultas,fixadas no Rota
2030,por não cumpririnvesti-
mentosem pesquisaedesenvol-
vimento”,destacaoexecutivo.
Para Sebbagh, que nasceu na
França, a pandemiaprovocará um
adiamento global em termosde
avançostecnológicos emseguran-
ça eeficiência energética. Mas, diz,
ospaíses com indústriaautomobi-
lística não sairão da crise na mes-
ma velocidade. “Na China, a ativi-
dadevoltou num ritmo equivalen-
te a80% a 90% do que era 75 dias
depoisdapandemia”, destaca.
Já no Brasil, diz, osetor seráfor-
temente afetadopela desvaloriza-

ção do realepela interrupção da
agendade reformas. “Issotornará
opaísmenoscompetitivo”, afirma.
Alémdisso, Sebbagh demonstra
pessimismoem relação ao contro-
ledapandemianopaís.“SeoBrasil
tivessetidoumavisãoúnicaecole-
tiva [nas orientações para conter a
propagaçãodo vírus]nãoestaría-
mosnasituaçãodehoje”,afirma.
A Continentalnasceuhá um
século emeio na Alemanha,um
dos paísesmaisbem-sucedidos
nocombateàcovid-19.Sebbagh
lembraqueaofertadeleitoshos-
pitalares na Alemanhaé bem su-
perioràsmédiasdaEuropa.
Segundoele, a matriz da com-
panhiacomeçouaacompanharde
perto adisseminação da doença

antesde a Organização Mundial
de Saúdedecretar apandemia. E
logo queas ituação se agravou foi
criado um comitê de criseglobal.
Na América do Sul, cadauma das
12 fábricas —novesóno Brasil —
foipreparadadeformadiferente.
Em Macaé (RJ) e Ponta Grossa
(PR),ondeaempresaproduzman-
gueiras ecorreias transportadoras
gigantes, destinadas aos setores
petrolíferoedemineração,aadap-
taçãodasfábricastevequeserfeita
rapidamenteporquea demanda
nãoparou.Omesmoaconteceuno
Chile, ondea Continentaltambém
atendeosetordemineração.
Já as unidades voltadas ao setor
automotivo, que pararamem tor-
no de duas semanas, retornaramà

atividade num ritmo bemmais
lenta. AAmérica do Sul responde
por cerca de 3% do faturamento
globalda Continental, que em
2019atingiu€44,5bilhões.
Sebbagh mantém-se atento
ao que ocorreem todosos paí-
ses que comanda na Américado
Sul e tambémna matriz, na Ale-
manha,ena França,ondeseus
pais estavam “inquietos”à espe-
ra dos primeirospassosdopaís
parasair do isolamento ontem.
Mas paraoexecutivo, ficar tran-
cadoem casanão tem sidode
todoruim.Odistanciamento so-
cial tem permitidoque ele passe
maistempocom Davi, o filhode
apenas cinco meses. “Eletraz
alegria”, afirma.

ArcelorMittalavalia


captação de US$2 bilhões


Siderurgia


MichaelPooler
FinancialTimes

AsiderúrgicaArcelorMittalbus-
ca levantar US$ 2bilhõesnatenta-
tiva de fortalecer seu balanço pa-
trimonialereduzir seus níveis de
dívida, poucosdias depois de di-
vulgarmaisde US$ 1 bilhãoem
perdas no primeiro trimestre e
suspenderseusdividendos.
A empresa, que tem sede em Lu-
xemburgo, informouque levanta-
rá cerca de 20% de sua capitaliza-
ção de mercadocom uma mistura
de ações ebônus de conversão
obrigatória, e afamília Mittal con-
tribuirácomUS$200milhões.
Comooutrosprodutores de
aço, aArcelorMittal enfrenta
umafortequedana demanda
desdeque a produçãode auto-
móveiseasatividadesdosetorde
construção despencaram por
causadas medidaspara impedir
adisseminaçãodacovid-19.
Empresas de vários setores bus-
caramrecursos comseus investi-
dores, sacaram empréstimosban-
cários e, em algunscasos, implora-
ram aospolíticos por resgates fi-
nanceirosque as ajudassem are-
sistiràturbulênciaeconômica.
Mesmo antesda pandemia, asi-
derurgia da Europa estava em difi-
culdades,eadivisão britânicada
Tata Steel tinhapedido ao governo
centenasdemilhõesdelibras.
A ArcelorMittal não especificou

que proporçõesoferecerá em
ações eem notas subordinadas de
conversão obrigatória, que devem
venceremtrêsanosepagarumcu-
pomanualde5,25%a5,75%.
Os recursosobtidosserão usa-
dos paraproporcionar liquidez e
pagarempréstimos,àmedidaque
a siderúrgica acelera um plano pa-
ra reduzir sua dívida líquidapara
US$7,5bilhões,deUS$9,5bilhões.
Sua liquidezera de US$ 10 bilhões
no fim de março e umalinha de
crédito será reduzidadeacordo
comosnovosfundoscaptados.
Os bônus conversíveis dão aos
investidores a opção de serempa-
gos em dinheiro ou em açõese po-
dem oferecer às empresasuma
maneira maisbarata de levantar
dinheirodo queos bônus típicos,
mas correm o risco de afetar nega-
tivamente o preço das ações ao di-
luir seu patrimônio. Achamada
conversão obrigatória significa
queelaéobrigadaaentregarações
aosinvestidoresnofuturo.
A família Mittal, proprietária de
poucomenosde dois quintos das
ações da empresa,contribuirá pa-
ra a captação de recursos com
US$ 200 milhões, por meiode um
fundoque estará sujeito a um pe-
ríodode“lo ck-up” de180dias.
Apesarda incertezaquantoà
duraçãoeàprofundidade do im-
pacto econômico do coronaví-
rus, aArcelorMittal informouna
semanapassadaque havia sinais
de que alguns clientes
reiniciavamaprodução.

Copagaz não enxerga risco de


novo desabastecimento de GLP


Gásdecozinha


LetíciaFucuchima
De São Paulo

ACopagaz,umadasmaiores
distribuidoras de gás de cozinha
(GLP)do país, não enxergariscos
de um novodesabastecimento
do produtocomoaconteceuem
meadosde março —nem diante
do endurecimentodo isolamen-
to socialem algumasregiões,ou
do relaxamentodas regrasem
outraslocalidades.
De acordo com Pedro Turque-
to, diretorde Desenvolvimento e
Gestãoda distribuidora, o pro-
blema observado no inícioda
quarentena já foi superado,ea
possibilidade de “lockdown”em
alguns mercados não impõedi-
ficuldadesadicionais à distribui-
ção do GLP, considerada uma
atividadeessencial.
Fundadano MatoGrossodo
Sul e com fortepresençano Cen-
tro-Oeste,a Copagaz atuaem
maisde 1,8 mil municípios,lo-
calizados em 18 estadose no
DistritoFederal.São 1,8 mil fun-
cionários,dos quais 328 estão
envolvidos na operaçãologísti-
ca. A empresadiz que conseguiu
manter a normalidadedas ope-
rações com partedas equipes
em homeoffice,e que não há
previsão de “af rouxamento” dos
processosaté que oretornopos-
sa ser feito com segurança.
Algumasregiões do país en-
frentaramum desabastecimento
pontualde GLP em março, quan-
do o inícioda quarentena desen-
cadeou uma“corrida às com-
pras”para estocagemdo produ-
to.Esse aumentoinesperadoda
demandafez comque aPetro-
bras realizasse importações adi-
cionais do gás —acarga,porém,
levoumaistempoparachegar
aos centrosde consumopor difi-
culdades de infraestrutura, já
que um dutoque liga Santosà
unidadede envase em Mauá(SP)
estavaemmanutenção.

Desdeoagravamentoda pan-
demia, a Petrobras tem feito
comprasadicionaisde GLP den-
tro de seu programade importa-
ção parareforçarosuprimento
do produto. Em marçoe abrilfo-
ram cincocargas,que somamo
equivalentea11,4 milhõesde
botijões de 13 quilos.
A questãoda ofertadeixoude
estar no centrodas preocupa-
ções,masaCopagazentendeque
novasimportaçõesserãoneces-
sárias se oisolamentoperdurar.
Turquetoobservaque, na contra-
mãode outros subprodutosdo
petróleo, oGLP éoúnicoa mos-
trar aumentodo consumo na
pandemia.Comos outroscom-
bustíveisenfrentandoquedade

demanda,não seriaviável au-
mentaroprocessamentonas re-
finariasparaatenderprincipal-
menteessemercado. “O Brasil
pré-criseproduzia75%doconsu-
mo do seu GLP e importava 25%.
O que temosconversadocom o
Ministério de MinaseEnergiaé
queesseperfilvaimudar.”
Para fortalecer o suprimento
de dois de seus principaismerca-
do,Mato GrossoeMato Grosso
do Sul, aCopagazrealizatam-
bémimportaçãoprópriade gás
de cozinha da Bolívia.Ocontrato
com a petrolíferaYPFB, assinado
no ano passado, prevêa compra
de72miltoneladasporano.
Do pontode vistadas vendas
da distribuidora,que costumam

ficar na casa das 620 mil tonela-
das por ano, aexpectativa éde
que os volumesdeverão“andar
de lado”em 2020.Espera-seque
a quedadas vendasaindústriae
comércio seja parcialmente
compensada peloaumento no
residencial, permitindoque o fa-
turamento possaficarpróximo
dosR$2,8bilhõesde2019.
Assimcomooutras empresas,
aCopagazestá preocupadaem
preservarcaixae, por isso,vai
cortar investimentos previstos
para oano: os R$ 100 milhõesor-
çados já foramreduzidoem um
terço. Serão mantidos apenas
aportes “in dispensáveis”, como
em requalificaçãode botijões e
nafrotadedistribuição.

ParaTu rqueto, daCopagaz,novas importaçõesserãonecessáriaspara fazer frenteà demandadurantea pandemia

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Minério e petróleo
Os preços do minério de ferro
iniciaram a semana estáveis no
mercado transoceânico, sustenta-
dos pela demandaaquecida por
parte das siderúrgicas chinesas.
De acordo com a publicação espe-
cializada “Fastmarkets MB”, o mi-
nério com teor de 62% de ferro
encerrou o dia a US$ 88,61por to-
nelada, frente a US$ 88,60 a tone-

lada na sessãoanterior. Já os con-
tratos futuros de petróleo fecha-
ram em queda. Na Bolsa de Mer-
cadorias de Nova York (Nymex),
os preços do West Texas Interme-
diate (WTI) para junho termina-
ram a sessão em queda de 2,42%,
aos US$ 24,14o barril. Na ICE, em
Londres, os preçosdo Brentpara
julho fecharam em queda de
4,42%, a US$ 29,63 o barril.

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