Valor Econômico (2020-05-12)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"12/05/20201a CADB" ---- Impressa por LGerardi às 11/05/2020@20:36:


B4|Valor|Terça-feira, 12 de maiode 2020

Empresas|Indústria


QuímicaUnidadesdefertilizantesnitrogenadosforamdesativadasapósperdasconsecutivas


Unigel vai reativar fábricas da


Petrobras no NE até o fim do ano


StellaFontes
De São Paulo

Maiorprodutorade acrílicose
estirênicosda América Latina, a
Unigelestá trabalhandopara re-
tomar,até ofim deste ano,a
operaçãodas fábricas de fertili-
zantes da Petrobras na Bahiae
em Sergipe, arrendadas por
R$ 177 milhões.Ao mesmotem-
po em que manteveos planos
paraas unidades,apetroquími-
ca do empresárioHenriSlezyn-
ger postergououtrosprojetos e
fez ajustesna operaçãofabril
por causada crisedesencadeada
pela pandemiade covid-19.
Ocontrato de arrendamento
de dez anos,firmado em novem-
broentreaProquigel,que integra
o grupo Unigel, eaP etrobras, po-
derá ser renovado por outros dez
anos e abrange ainda os termi-
nais marítimos de amônia e ureia
no porto de Aratu, na Bahia. Nes-
te momento, acompanhiapriva-
da está empenhada em cumprir
as pré-condições acertadas com a
estatal. “Queremos reativar as
unidades o mais rápido possível”,
disse aoValor o presidenteda
Unigel,RobertoNoronha.
Conformeo executivo,oa van-
çodacovid-19levouogrupoare-
visarinvestimentoseparalisar
determinados projetos. A reati-
vaçãodas fábricasde fertilizan-
tes, porém,tem statusprioritá-
rio. AUnigel estánegociando
coma própriaPetrobrase com
outrosfornecedores o acessoao
gás natural que será usadocomo
matéria-primae mapeandoos
investimentosqueserãonecessá-
rios para retomar a operaçãonas
unidades.Os desembolsos cabe-
rão à empresa.“A Petrobrastem
sidomuito parceira nessepro-
cesso”,comentouoexecutivo.
A estatal anunciouem 2018
queiriahibernarasduasfábricas,
após dois anos de prejuízos con-
secutivos. Em 2017, aperda con-
juntachegouaR$800milhõesea
Petrobrasdecidiuquesairiacom-
pletamente do negócio de fertili-
zantes —no início deste ano,
anunciouoencerramento das
atividadesna unidade de Araucá-
ria (PR) e retomouo processo de
venda da unidade de nitrogena-
dosdeTrêsLagoas(MS).

AUnigelapostana recupera-
ção da rentabilidade das opera-
ções eno potencialde mercado,
hojeatendido por importações.
As duasunidadespodemprodu-
zirpoucomaisde1milhãodeto-
neladasporanodeureia,frentea
importaçõesanuaisde cercade 5
milhõesde toneladas.Alémdis-
so,aperspectiva éade que haja
uma mudança estrutural no
mercadode gás naturalno país,
comexcedentedeprodução.
Sobre os projetos que foram
suspensos com o avanço da pan-
demia, conta Noronha, a ambição
é retomá-los à medida que haja
recuperaçãoeconômica. Aos pri-
meiros sinais de que a crise pode-
ria ser grave, a petroquímicaado-
tou uma série de medidas para re-
forçarsua posição de liquidez,in-
cluindo suspensão dosinvesti-
mentos que não sãoessenciais, hi-

bernação de determinadas linhas
de produçãoeredução de custos.
Para evitardemissões, lançou mão
da Medida Provisória (MP)936,
sob aexpectativa de que ocenário
comeceamelhorar apartirdofim
de maioou início de junho.
“Abril foi um mês especial-
mentecríticoe há algunssinais
deretomadaemmaio,masainda
não está claroaté que pontopo-
deserefeitodereposiçãodeesto-
ques”,afirmouNoronha.No ne-
góciode resinasacrílicas,que
atendesobretudoao setorauto-
motivo,aqueda da demandale-
vou àreduçãode produção.A
unidade de acrilonitrilaem Ca-
maçari(BA)tambémfoiparalisa-
da e a capacidadeem estirenoe
poliestirenofoireduzida.
Por outrolado, observao exe-
cutivo,ademandamaisaqueci-
da em setoresespecíficos, como

os de chapasacrílicasedescartá-
veis, trouxe oportunidades de
negócio e levouà ampliaçãoda
cargaem linhasprodutivas. Ali-
nhadechapasacrílicasestavapa-
radaevoltoua operardianteda
procuradessesitens—comopro-
tetoresemcaixasdesupermerca-
do,por exemplo.“Estamos per-
cebendo que algunssetoresque
haviamconcedido fériascoleti-
vas estãocomeçandoa colocara
programaçãode compras,o que
podeindicarque aeconomia po-
devoltarlentamente”, afirmou.
No ano passado, aUnigelteve
receitalíquidadeR$3,3bilhõese
resultadoantesde juros,impos-
tos, depreciaçãoe amortização
(Ebitda)de R$ 449 milhões,alta
de 2%. Para reforçarobalanço,
voltouao mercadointernacio-
nal, em setembro, e levantou
US$ 420 milhõespor meiode bô-

nus comvencimentoem outu-
bro de 2026.“Comisso reforça-
mos a nossaestruturade capital,
alongando de formasignificati-
va o cronogramade amortização
emigrandopara um perfilde dí-
vidacomcustomenoretotal-
mentenolongoprazo,explicou.
Conforme Noronha, oplano de
retomada das atividades da área
administrativa, que há cercade
doismesestrabalharemotamente,
já está desenhado, mas acompa-
nhará oritmode relaxamento das
medidas de isolamentosocial da
cidadedeSãoPaulo,ondeficaoes-
critório central. “Estamos prontos
paracomeçar avoltar à normali-
dadede forma escalonada, o que
podeocorrer no fim do mês”, ex-
plicou. Para manter a operação in-
dustrial, aUnigelredobrou as me-
didas de segurança e proteção nas
diferentesunidades.

Mitreavalia


se retoma


lançamento


emjunho


Construção


Chiara Quintão
De São Paulo

AMitreRealtyvaiavaliarapos-
sibilidadede lançar, em junho,
algumdos três projetoscuja pre-
visão era de apresentação ao
mercadono segundo trimestre.
Devidoàs restriçõesde circula-
ção de pessoasdecorrentes da
pandemiade coronavírus,a in-
corporadora comatuaçãonos
segmentos de médioe médio-al-
to padrão, na cidadede São Pau-
lo, não lançouum empreendi-
mentoque estava previstopara
já ter sido realizadoe poderá
postergar também os outros
dois.Esse cenárioleva em conta
que a quarentena, no Estadode
São Paulo,foi estendidaaté o
próximodia 31 pelo governador
JoãoDoria(PSDB).
“Dificilmente, vamos fazer
qualquerlançamento em maio.
Estamostrabalhandopara ver se
conseguimoslançarem junho”,
afirmao diretor financeiroe de
relaçõescom investidores da Mi-
tre, Rodrigo Cagali.Segundoo
executivo, aincorporadora não
pretendeabrir mão de seus fun-
damentos,comoestoquebaixo,
robustezde caixaecumprimen-
to dos prazosde obras.
No primeiro trimestre, não
houvelançamentos, assimcomo
já estava previsto.Sem apresen-
tar novosprojetos, aMitre regis-
trouquedade 35% nas vendas
brutasede 58,7%nas vendaslí-
quidas,paraR$ 58,1milhõese
R$ 33,8 milhões,respectivamen-
te. A quarentenae o fechamento
dos estandesde vendasresulta-
ram em reduçãode poucomais
de 50%da comercializaçãode
imóveisda companhia.
Mas,segundo Cagali,as ven-
dasdeabrilforam“surpreenden-
tementeboas”,com incremento
de 42% em relação a março. “A
maiorpartedos clientesjá ti-
nhamestadoemnossosestandes
de vendas,em algummomento,
ou conheciaa Mitreeamicrorre-
gião do projeto”, diz o executivo.
Emrelaçãoaorepassedosrecebí-
veisdosclientesparaosbancos,o
diretorde relaçõescominvesti-
doresdiz que as operações têm
sido mantidas. A incorporadora
está em fase de conclusãodo re-
passede dois empreendimentos
edandoinícioamaisum.
Desdeoano passado,aincor-
poradoravinhaem forte ritmo
de prospecção de terrenospara
compra,movimentofreadocom
a atual crise. “Nosso entendi-
mentoé que surgirãoboasopor-
tunidades. Aindanão vimosos
preçosde terrenoscaíremsensi-
velmente,mas acreditamos que
isso começará a mudarde maio
para junho”, afirmou Cagali,
acrescentandoque poderáhaver
oportunidades também de aqui-
siçãode áreasde incorporadoras
que precisemde caixa. O banco
de terrenos da Mitrecorrespon-
de ao Valor Geral de Vendas
(VGV)de R$ 4,3 bilhões.
No primeiro trimestre,a Mitre
teve prejuízolíquidode R$ 6,
milhões,revertendo olucro lí-
quidode R$ 5,3 milhõesde ja-
neiroamarço do ano passado.A
receitalíquidaaumentou 2,5%,
paraR$ 48 milhões, impactada
pela falta de lançamentose pela
diminuição de vendasa partir
da segundaquinzena de março.
A margembrutacaiu de 34,9%
para28,9%. As despesasadmi-
nistrativascresceram 98,4%,pa-
ra R$ 10,5 milhões,devidoàs no-
vas contratações decorrentes de
a empresater abertocapitale da
adequação aquestõeslegais.As
despesascomerciais tiveramalta
de 87%, para R$ 4,9 milhões,
com apreparaçãode lançamen-
tos para osegundo trimestre
que acabaram não se concreti-
zando. A Mitreencerrouo tri-
mestre com caixa líquido de
R$ 826,7milhões.

Roberto Noronha,presidente:Projetoé consideradoprioridadee fornecimento degásnatural estáemnegociaçãocoma estatale outrasempresas

DIVULGAÇÃO
IMPACTOSDO

CORONAVÍRUS


China lucra com falta de equipamento médico


Máquinas


SunYu, XinningLiue To m Mitchell
FinancialTimes,de Wuhan,Pequim
e Cingapura

Quandoa fabricantechinesa
de autopeças Kanou Technology,
do sul do país,tentouretomara
produçãodepois de ter ficado fe-
chadaduranteaquarentenapelo
coronavírus,umade suas linhas
demaquinárionãofuncionava.
Umarata havia tido umani-
nhada na máquinaesua jovem
família havia roídoocabeamen-
tointerno.Quandoaempresaex-
pulsou os ratoseresolveuoutros
problemas,comolacunasde for-
necedoreseaexigênciadasauto-
ridadeslocais de turnosna volta
ao trabalho, osurto iniciadona
Chinaem janeiro já havia se tor-
nadoumapandemiamundial.
As encomendaspara a indús-
tria automotiva no exterior ha-
viamseevaporado,oqueobrigou
aKanouaseguirospassosdecen-
tenas de outras fábricas chinesas
e diversificar-se com aprodução
de equipamentos médicos, uma
das poucas áreas no mundo nas
quaisaindahaviademanda.
“Corremos rápido”, disse Lä
Hua,fundador epresidenteda
Kanou. “Levamosapenas duas
semanaspara tornara ideiarea-
lidade. Agora,30% de nossa re-
ceita vem de máquinas para

máscarasfaciaisenão consegui-
mos acompanhara demanda.”
Coma pandemiaassolando
váriaspartesdos Estados Unidos,
Europa e restodo mundo, a de-
manda internacionalpor Equi-
pamentos de Proteção Indivi-
dual(EPIs)e aparelhosmédicos
comorespiradoresartificiaise
monitores médicosrapidamente
superou acapacidadede produ-
çãodamaioriadospaíses.
Mesmoantesdosurtodovírus,
os fabricanteschinesesde equi-
pamentos médicoscresciam a
passosrápidos.As exportações
de equipamentos médicos do
país maisdo que dobraram em
dez anos,chegandoa US$ 28,
bilhões em 2019.Para atender o
aumento na demandaneste ano,
os fabricantes chinesescomeça-
ram aelevaraproduçãoainda
mais,paraocuparoespaçodei-
xadopor líderesdo setor, como
MedtroniceGE, que enfrenta-
vamgargalosprodutivos.
Dessaforma,novatos no setor,
comoa Kanou,se somarama
produtoreschineses de equipa-
mentosmédicos já existentes.Os
resultadosforamvariados, oque
levouao aumentodas reclama-
ções sobre produtos chineses
comdefeitos em algunsmerca-
dos, comoa Europa.
As vendas,no entanto, não fo-
ram impactadas.Segundodados
alfandegários, aChinaexportou

3,1 milhõesde monitores médi-
cos no primeiro trimestre, quase
o quadruplo do que no mesmo
período de 2019.
“Nossosclientesestãocompran-
do todo nossoestoque”, disseCai
Haixue, chefede vendas interna-
cionais na produtora de equipa-
mentosmédicosZoncare.Asenco-
mendas parao exteriortriplica-
ram em abril em comparação ao
mesmomês de 2019. “Eles estão
emclimadedesespero.”
Comsede em Wuhan, ondese
originouosurto de coronavírus,
aZoncarecomeçoua receberno
fim de fevereiroumaenxurrada
de consultas de países pelo
mundo, da Espanha àArábia
Saudita.A empresacomeçoua
operarsuas linhasde montagem
durante 14 horasdiáriasesextu-
plicoua produção semanal.
Da mesmaformaque muitas
empresas chinesas da área, a
Zoncare foi fundadapor um ex-
vendedor de equipamentos mé-
dicos,em 2005.Começou ven-
dendomáquinas de eletrocar-
diograma,um produtorelativa-
mentesimplescom poucasdifi-
culdadesparaaprodução.
Comoa maioriados grandes
hospitais preferiamarcasestran-
geiras, maisconsolidadas, aZon-
care,de início,comercializava
aparelhos maisbaratosparaclí-
nicasde bairroe hospitais rurais
pela China.A empresatambém

aproveitoupolíticasindustriais
que davam preferência a forne-
cedoreslocaisem licitações go-
vernamentais.“O apoioestatal
nosajudaaprosperar”, disseCai.
As vendasda Zoncaredecola-
ram àmedidaque aChinafoi
modernizandoseu sistema bási-
co de saúde.Isso permitiuàs em-
presasinvestirem em pesquisae
desenvolvimentoeentrar em
segmentosmaislucrativos,como
os monitoresmédicoseossiste-
masdeultrassonografia.
Quandose expandiupara fora
da China,a empresaempenhou-
se maisna Índiae em outrospaí-
ses no sul da Ásia,antesde ga-
nharaprovaçãopara venderseus
produtosnosEUAeEuropa.
Engenheiros da Zoncare em
Wuhan, ondeestão localizadas vá-
riasuniversidadesdealtonível,ga-
nhamcerca de 200 mil yuans
(US$28.330) por ano,menosdo
queseuscolegasnoOcidente.
Os baixossaláriospermitemà
empresa vendermáquinasque
proporcionamde 70% a 80% da
funcionalidade das marcasoci-
dentais, mas cobrandocercada
metade do que os concorrentes
dos EUA e Europa.
“Nossos produtos podem não
ser uma boa opção para unidades
de terapiaintensiva, que exigem
alto nível de precisão”, disseCai.
“Massomos bonso suficientepara
atendersalas de emergênciaonde

ascondiçõessãomenosrigorosas.”
“Os hospitais não podem ficar sem
aparelhos de baixoamédio pa-
drão eas fábricas estrangeiras não
são capazesde produzir um volu-
mesuficientedeles”.
A maioriadesses aparelhos fei-
tos na China, no entanto,está pelo
menos uma geração atrás dos mo-
delos ocidentaisnovos eencon-
tramdificuldade em reduzir adi-
ferença, segundoWang Lei, espe-
cialistaemequipamentosmédicos
daAcademiaChinesadeCiências.
“Emboraosfabricanteschineses
estejam investindo pesadamente
empesquisaedesenvolvimento,as
firmas americanas vêm fazendo o
mesmoe saindo de um ponto de
partidamaisalto”, disseWang.
CaidissequeofocodaZoncareé
crescer “exponencialmente” e for-
talecer apresença no exterior.Tan-
to ele quanto Lü, da Kanou,noen-
tanto, admitem que os países oci-
dentaisvãoacelerarosesforçospa-
ra passar a depender menos de
equipamentos feitos na China, co-
moresultadodapandemia.
Essa tendência já era bem visí-
vel no ano passado, depoisde as
tarifasimpostaspelo presidente
dos Estados Unidos, Donald
Trump, em sua guerrade dois
anoscontraaChinateremcon-
vencidomuitasempresas multi-
nacionaisde que estavam exces-
sivamente dependentes
da produçãochinesa.

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