Valor Econômico (2020-05-12)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"12/05/20201a CADA" ---- Impressa por VDSilva às 11/05/2020@21:27:


A4| Valor|Terça-feira, 12 de maiode 2020

Brasil


Fonte:

Futuronebuloso
Indicadorde Incertezada Economia- em pontos

70

90

110

130

150

170

190

210

230

Set
2015

Jun
2018

Jan
2014

Abr
2020

89,

136,
127,

210,

ConjunturaComacrise,caíramonúmerodeprojetoseovaloraserinvestido


Anúncios de investimentos


despencam devido à pandemia


AnaConceição
De São Paulo

Os anúncios de projetos de in-
vestimentonoBrasilcaíramdefor-
ma expressiva entremarço eabril
por causada pandemia da covid-
19, um sinal do impacto que ain-
certeza extrema te sobre os negó-
cios. Segundodados compilados
na imprensa pelo Bradesco, entre
anúncios do setor público e priva-
doa quantidadeoscilava emtorno
de cem desde julhodo ano passa-
do. Em março, recuou para75 e,
emabril,para30.
Aquedafoi tão expressiva que o
boletim que informaessesdados
passou de semanalaquinzenal, e
comoutra diferença importante:
boapartedosanúnciosagorarefere-
se ainvestimentos do setorpúblico
na área desaúde, parainiciativasco-

mo construção de hospitais de cam-
panha,compraderespiradoreseou-
tros equipamentos paraunidades
deterapiaintensiva(UTIs).
Isso pode ser observado nos bo-
letinsapartir de 19 de março,
quando foram compiladosanún-
ciosdereformaerequalificaçãode
hospital em Pernambuco, compra
deequipamentosdecusteiodelei-
tos para internação na Paraíba, ea
construçãode doishospitais de
campanhaem Santo André (SP).
Houvetambém alguns projetos
privadosnaárea.
“A mudança de perspectiva eco-
nômicagerada pelas medidas de
distanciamento social deve levar à
postergação de investimentos.O
grau de incerteza é bastante eleva-
do nestemomento, no Brasil eno
mundo”, afirma Priscila Trigo, eco-
nomista do Bradesco. Ela observa
que os anúncios se concentraram
em setores específicos de combate
aocoronavírus.
Em janeiro, quando houve 99
projetosde investimento anuncia-

dos, apenas quatro eram da área de
saúde.Emfevereiro,de104projetos,
apenas cinco referiam-seainvesti-
mentos na área. Em março, já com o
coronavírus instalado no país e com
as primeiras mortes por covid-19,o
número de projetosligados àsaúde
subiua20, quase um terçodo total
de 75 e, em abril, 12 dos 30 projetos
anunciadosforamnosetor.
Os anúncios,que antes soma-
vam pelo menos R$ 5 bilhões por
semana,passaramaserdealgumas
centenasdemilhõesdereais,ainda
assim relativos a compras relacio-
nadas àpandemia. Aretraçãodas
empresaspodeser explicadapelo
altíssimo graude incerteza causa-
do pela pandemia,cujosefeitos
ainda estãosendocontabilizados.
Temsidodifícilsaberqualamagni-
tudedo estragoeconômicoprovo-
cadoeaté mesmoquando adisse-
minaçãodovírusdarátrégua.
Não à toa, oIndicador de Incer-
teza da Economia (IIE),da Funda-
ção Getulio Vargas (FGV) atingiu
recorde em marçoe renovou a má-

Queda do PIB de até 10% neste ano já entra no radar


De São Paulo

Consultoriase instituiçõesfi-
nanceirascontinuam a revisaras
projeçõesparaoProdutoInterno
Bruto (PIB)desteano, à medida
que as medidasde isolamento
social são estendidas em praças
importantescomoSão Paulo e
Rio ecomeçamasair os primei-
ros dadosde atividadeeconômi-
cajáafetadospelapandemia.
Algumas delasjá acreditam
que projeçõesque apontamque-
das como6% e7% são conserva-
doras e que é possível ver recuo
de até doisdígitosno produto
desteano.Amediana das proje-
çõesdomercado,segundoorela-
tóriosemanalFocus, do Banco
Central,apontaquedade4,11%.

Longatradiçãobrasileiranasrelaçõesexterioresestásendodesviadapelaatualgestão.PorConselheirosdo Cebri


Ações do governo nos enfraquecem e preço está por vir


O


Centro Brasileiro de
Relações Internacio-
nais (Cebri)se esforça
por ser, desdesua cria-
ção, um espaçode racionalidade
e de cuidadosareflexãosobreas
muitasdimensõesda inserção
brasileiranavidainternacional.
Para isso tem procuradoagir,
em obediência aseus estatutos e
pelocuidado permanente como
conteúdoe o tom de seu discurso,
de maneira sempre respeitosa das
convicções natural e necessaria-
mente plurais daqueles que inte-

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


Crivellaampliaisolamentono Rioe


condiciona‘lockdown’ a cestasbásicas


Gabriel Vasconcelos
Do Rio

O prefeito do Rio de Janeiro,
Marcelo Crivella (Republicanos)
intensificou ontem, por meiode
decreto, as restrições àcirculação
de pessoas e veículos emsete bair-
ros, alémde aumentar origor so-
bre o funcionamento do comércio
eserviçosemtodaacidade.Onovo
pacote de medidastem duração
prevista de sete diasapartir de ho-
je e vemem resposta a um agrava-
mento na curva de contaminação
dos cariocas pelo novo coronaví-
rusnosúltimosdias.
Até ontem, segundoogoverno
estadual, havia 17.939 infectados
em todo o Estado do Rio, sendo
que a capital fluminense concen-
tra 10.619 desse contingente,
com uma evolução bem acima da
esperadapor governo e especia-
listas —onúmero de cariocas
mortos pelo novo coronavírus
chegou ontem a 1.172 pessoas.
Mas Crivellaresiste à ideia do iso-
lamentoradical, ochamado “lo-
ckdown”, já iniciado nos vizinhos

Niterói e São Gonçalo, ambos
commenosde800infectados.
O prefeito,porém,não descarta
essa estratégia maisàfrente. Em
tomdecobrança,elecitouachega-
da de “centenas de milhares”de
cestasbásicas à cidade comouma
condição para eventual “lock-
down”. Crivella disse que o envio
de mantimentoséumapromessa
ainda não cumprida pelos gover-
nosfederaleestadual.
“Nós ainda nãorecebemos a
ajuda de cestasbásicasque estáva-
mos esperando. Houve umapro-
messa de ajuda. Se nós hoje tivés-
semos 500 mil cestas básicas, po-
deríamosaté imaginar apossibili-
dadede um ‘lockdown’de dez
dias,distribuindo pra quempreci-
sa. Mas são 6,5milhões de pessoas.
Algumas dizempreferir morrer de
covid-19 do que de fome. Não é fá-
cil. É diferente da Espanha ou da
Itália, economias estáveis, ondea
maioriadas pessoas tem condi-
ções de suportar um fechamento
dedez,20ou30dias.”
Oprefeitotambémdissedepen-
der que ogoverno federal avance

Marcelo Crivella,prefeito do Rio: “Se tivéssemos 500 mil cestas básicas, poderíamosimaginarum lockdown de dez dias”

MÁRCIA FOLETTO/AGÊNCIA O GLOBO

ximaemabril.Nessebimestre,oín-
dicequasedobrou,saindode115,
para210,5,algoinédito.“A incerte-
za muito alta deveperdurarmes-
mo apósodesfecho da pandemia
porquenão se sabe comoserá a re-
cuperaçãoequantotempolevará
paraaatividadeeconômica voltar
aoritmodeantes”, afirmaAnnaCa-
rolina Gouveia, economista do Ins-
titutoBrasileiro de Economiada
FundaçãoGetulioVargas(FGV).
Se a explosão da incertezaem
março foi maisrelacionadaàs
notíciassobreo impactoda pan-
demiano mundo, com o cenário
devastadorna Itália,por exem-
plo, em abrilaalta foi basica-
mentemotivadapelocenáriodo-
méstico, comas estimativas de
quedado ProdutoInternoBruto
(PIB)cadavez maispessimistase
a avaliaçãoquasegeralde que a
retomadaem2021serádifícil.
Oimpactoda pandemia,afir-
ma Anna,ésem precedentes,na
rendadas famíliasena saúdefi-
nanceiradas empresas.“Essení-

vel de incertezainviabiliza qual-
querinvestimento, algo que pre-
cisadeprevisibilidade”.
Annafazumparaleloentreoin-
dicador de incerteza eaf ormação
brutadecapitalfixo(FBCF,medida
noPIBdoqueseinvesteemmáqui-
nas, equipamentos, construção,
pesquisa edesenvolvimento) no
país.Desde2015, o indicador se
mantémacimade 110 pontos, ní-
vel consideradoalto, edesde lá os
investimentos não reagiram. Des-
de que a alcançou seu pico,em
2013,aFBCFcaiuquase30%.
Esse recuopode se aprofundar
aindamais. Na semanapassada, o
Instituto de PesquisaEconômica
Aplicada (Ipea) informouque a
formaçãobrutadecapitalfixoteve
opior março em 25 anosaodimi-
nuir 8,9%, na comparação com fe-
vereiro,feitooajustesazonal.Hou-
ve retraçãona oferta, com inter-

rupçãoda produçãoefalta de in-
sumos provocada pelapandemia,
mas também de demanda, com a
parada da economia. Osetor de
construção, que vinha numa recu-
peração frágil, registrou perda re-
corde para omês de março ao cair
6,7%.Abrilpodeserpior.
Segundo PriscilaTrigo, os dados
tantodo primeiro quandodo se-
gundo trimestre devem mostrar
contração da FBCF.“Esperamos
umaretomadanosegundosemes-
tre,mas essa expectativa écondi-
cionalàreabertura da economiae
àreduçãodograudeincertezapor
partedos agentes”, diz ela.Mas ha-
verácapacidadeociosalogoapósa
retomadadasatividades,oquepo-
de conter o ímpeto de investir. Já
parao avançodos investimentos
em infraestrutura,há necessidade
de avançarna agenda de conces-
sões,observa.

O bancoJ.P. Morgan cortou
maisuma vez a estimativado PIB
brasileiro em 2020,agorapara
contração de 7%, de umaqueda
de3,2%estimadaantes.Paraose-
gundo trimestre,ainstituição
prevêrecuode 51% na taxa anua-
lizadado PIB comparadoao pri-
meirotrimestre.
As previsõesforaminfluencia-
das pelaretraçãoem marçode
9,1%na produção industrial,se-
tor que deveser menosafetado
do que odeserviços,o recuode
99% na produção de veículosem
abrile omergulhodos indicado-
res de confiançado setorprivado
no mês passado. Alémdisso, a fa-
lha dos governos em contera
pandemiadeve mantera ativida-
de deprimidapor maistempo

queoesperadoanteriormente.
“A covid-19 deve continuarase
espalhar pelo Brasil, o que deve
aprofundar arecessão econômica,
a despeito dos estímulossem pre-
cedentes [dadospelogoverno]”,
disse o banco em relatório. Além
disso,acombinaçãoentreumacri-
se maisprofunda no setorde saú-
de e as incertezas políticas devem
afetarde formasignificativa aca-
pacidadede a economiado país se
recuperar,continuaotexto.
Apesar disso, o banco estima
que oPIB brasileirová crescer
4,4% em 2021, de 2,4% estimados
antes, por causa da base de com-
paraçãoenfraquecida.Masaofim
dopróximoanoaatividadeainda
continuará3%abaixodaregistra-
da em 2019. Aindaque a pande-

mia seja um eventotemporário,
alguns efeitosnão vão desapare-
cer tão rapidamente quanto era
esperado,dizobanco.
A consultoriaA.C. Pastore&As-
sociadosavalia que o comporta-
mento da curva de contágio pelo
coronavírusnopaísesuasimplica-
ções tornaramobsoleta a projeção
doFundoMonetárioInternacional
(FMI), de queda de 5,3% paraoPIB
brasileironesteano.“Umintervalo
entre 7% e 10% estaria maispróxi-
modarealidade”,escrevemecono-
mistasdacasacomandadapeloex-
presidente do BancoCentral (BC)
AffonsoCelso Pastore. Quandoo
Fundo fez aquelaestimativa, acre-
ditava-se que a curva de contágio
começasse a achatar no fim de
abril, oque não ocorreuaté agora.

“É bomcomeçarmos apensar em
quedasdoPIBbemmaiorese,para
não sermos acusados de alarmis-
tas, vamosficar com uma projeção
conservadora,deumaquedade7%
em2020.”
OBancoFibra,queestimacon-
tração de 6%, diz ver nítidossi-
naisde que otombodeveser
maiorporque,ao que tudoindi-
ca, oisolamento socialdeveráser
estendidopor pelo menosaté o
fim de junho. Ainstituição cita a
fortequedada produçãoindus-
trialdemarçoeindicadoresmui-
to ruinsjá divulgadosde abril,
comoofluxodeveículospesados
nas estradas(-19,2%),produção
de automóveis(-99%),produção
de energiaelétrica(-10%)e o ní-
vel de utilizaçãoda capacidade

instalada (Nuci) da indústria,
querecuou23,9pontos.
A Confederação Nacional da In-
dústria(CNI)temumcenário-base
em que oPIB cai 4,2% em 2020,
mas avalia que se as medidaspara
manterarenda das famílias e im-
pedir umafalência generalizada
das empresas não forem suficien-
tes,oprodutorecuaria7,3%.
Atrásdacurva,oItaúrevisousua
estimativa para oPIB de quedade
2,5%para recuo de 4,5%. Arevisão
se devea um crescimento global
maisbaixoque oesperado, àpro-
pagação ainda intensa e persisten-
te do coronavírusno país e àex-
pectativa de deterioração do cená-
rio fiscal. Já previsãopara oprodu-
to de 2021 saiu de crescimento de
4,7%para3,5%.(AC)

gramoseucorpodeassociados.
A moderaçãocom as palavras
ecom os gestostem sido nossa
invariável companheirade via-
gem e faz partedo cerneda iden-
tidadedoCebri.
Por ser umaentidadeaparti-
dária,independente esem outra
fidelidade que aqueladevidaao
interesse nacionalbrasileiroeao
semprenecessárioreforçodapaz
e da segurança internacionais
comodefinidoem nossaConsti-
tuiçãoe nos acordosinternacio-
nais subscritospelo Brasil,deve-

mos a nós mesmose aquelesque
nos apoiame prestigiamestar
atentosa tudoaquiloque possa
ameaçara credibilidade e o pres-
tígiodonossopaís.
Em datas recentes o governo
brasileiro, através do Itamaraty,
mastambém por outros canais,
tem feito declaraçõesgratuitas e
inconsequentes, proferido votos e
adotado posiçõesque nos enfra-
quecem eisolam sem com isso, de
forma alguma, fortaleceradefesa
de nossosinteresses. Nestemo-
mentode grave ameaça por causa

da covid-19 parecerianatural o ca-
minhooposto,que seria ode bus-
car consensos efortalecer alianças
comvizinhos,amigoseparceiros.
Temos feito, comfrequência, o
contrário,eseacumulam as quei-
xas e ressentimentos com posições
nossas que se desviam de nossa
longa tradição de cooperação
construtiva com a sociedadeinter-
nacional. Tudo isso tem um preço
que podevir a nos ser cobrado
quandomaisprecisamosde uma
coisaque já tínhamos merecida-
menteconquistadoe que era o

maisamplo respeito da sociedade
internacional que via no Brasil um
parceiroamistoso, confiável e, aci-
madetudo,generoso.
Esseserrosse foramacumu-
landoao longodo tempo,mas
atingiramagoraum patamarde
disfuncionalidade ede prejuízo
paraoBrasilqueobrigamoscon-
selheiros do Cebrique subscre-
vem esta manifestaçãoafazer o
registroformal de sua grave e ur-
gentepreocupação.

André Clark, AnnaJaguaribe, Arminio

Fraga, Celso Lafer, Claudio Frischtak,
Demétrio Magnoli, Edmar Bacha, Ilona
Szabó, Joaquim Falcão, Jorge
Camargo, JoséAldoRebelo,JoséLuiz
Alquéres, JoséPio Borges, Luiz
Augusto de Castro Neves, Luiz
Fernando Furlan, Luiz Ildefonso Simões
Lopes, Marcelode Paiva Abreu, Marcos
Azambuja, Maria do Carmo (Kati)
Nabuco de Almeida Braga,Paulo
Hartung, Pedro Malan,Rafael Benke,
Roberto Abdenur, Roberto Teixeira da
Costa, RonaldoVeirano,Rubens
Ricupero, Sergio Amaral, Vitor Hallack
e Winston Fritsch

do estadode calamidadepara es-
tadodesítio.Amudança,disse,da-
ria respaldo jurídicopara “interfe-
rências no direito constitucional
deirevirdepessoassaudáveis”.
Na prática,Crivellatransferea
dimensão das medidasde com-
bate à pandemiano Rio aoutros
chefes do Executivo, sobretudoo
presidente Jair Bolsonaro, de
quemvinhatentandose aproxi-
mar politicamente até oagrava-
mento da crise.As declarações
foramdadasontem,em entrevis-
ta no Rio Centro(complexovol-
tadoàrealizaçãodeeventos).
Ossetebairrosafetadospelonovo
decreto são Santa Cruz,Madureira,
Jacarepaguá, Tijuca, Grajaú,Pavuna
e Cascadura. Os pontos maismovi-
mentados,como praças ecalçadões,
serãocercados com grades. Em toda
a cidade, bareserestaurantes só po-
derão funcionarcomportas fecha-
das, preservandoentregas em detri-
mentodasretiradasnolocal,quede-
vem diminuir embora não estejam
proibidas. Aprefeitura vinha ten-
tando, sem êxito, zerara frequenta-
çãonessesestabelecimentos.

Novidadeéaproibição de apos-
tas em lotéricas, que poderãoabrir
paraoutrosserviços.Aideia,disseo
prefeito,édiminuirainsistente
presença de idosos nas filas.Ele

ainda anunciou ofechamentode
estacionamentosna orla, que só
poderão ser acessadospor mora-
dores,eoaumentoda fiscalização
docomércioemfavelas,ondehave-

riaserviçosnãoessenciaisemplena
atividade. Crivella disseestarem
diálogocom o governador Wilson
Witzel(PSC),que teria colocadoa
PolíciaMilitaràdisposição.

Canal Unico PDF - Acesse: t.me/ojornaleiro

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