Valor Econômico (2020-05-12)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 6 da edição"12/05/20201a CADA" ---- Impressa por VDSilva às 11/05/2020@21:19:


A6|Valor| Terça-feira, 12 de maiode 2020

Política


Defesa de Lula reforça estratégia paratentar absolvição


LuísaMartins
De Brasília

A defesado ex-presidenteLuiz
InácioLulada Silvadecidiu re-
forçaràJustiçado DistritoFede-
ral seu pedidode absolviçãode-
pois da decisãodo Tribunal Re-
gional Federal da 1a Região
(TRF-1) de absolverum grupode
réusda Operação Zelotes por

falta de provas.
Oadvogado Cristiano Zanin
Martinsvai anexar oacórdão do
julgamento do TRF-1 nos autosda
ação penalem queoex-presidente
éréuporcorrupçãopassiva-ainda
pendentede julgamentoempri-
meirainstância.
O ex-presidente foi acusado
pelo Ministério Públicode rece-
ber propinaparaeditarmedida

provisória (MP) queconcedeu
benefíciosfiscaisa empresas do
setorautomobilístico.
Segundo a defesado ex-presi-
dente,a conclusão unânimedo
TRF-1demonstraque aelabora-
ção da MP na presidênciada Re-
pública,em2009, se deu dentro
dos limiteslegais,apenasreno-
vandoincentivosque haviamsi-
do criadospelo antecessorde Lu-

la, o ex-presidente Fernando
HenriqueCardosoI(PSDB).
Um dos trechosmaisrelevan-
tes do votodo desembargador
NévitonGuedes,relatordo pro-
cessoem segundainstância, éo
que apontaa inexistênciade evi-
dênciasde propinaem tornoda
ediçãoda MP no governofederal
ou de sua tramitaçãono Con-
gressoNacional.

"Não houve qualquer de-
monstração de pagamento de
agentespolíticos,seja no Poder
Executivo, seja entreos parla-
mentaresfederais(...). Muitos fa-
tos referidos,isoladamente,de-
veriamser consideradoslícitos.
Contudo, foramsemprepressu-
postoscriminosos,muitoembo-
ra insuficientes ou mesmoine-
xistentesas provas da referida

ilicitude", disseGuedes,seguido
pelosdemais desembargadores.
A absolvição do grupo de
réus,formado por lobistas,ad-
vogadose empresários, foi rece-
bidapelosprocuradoresda Ze-
lotescomoum baldede água
fria. A condenaçãodeles em pri-
meirainstânciaera um dos ar-
gumentosmaisfortesdo Minis-
térioPúblicocontraLula.

Planalto teme desfecho sobre exame médico


ExecutivoEmdepoimento,ex-diretornegouquepresidentetenhapedidodadosdeinvestigações


Valeixo diz que Bolsonaro queria


chefe da PF “com mais afinidade”


AndréGuilherme Vieira, Luísa
Martins e MarceloRibeiro
De São Paulo e Brasília

O ex-diretor-geral da Polícia Fe-
deral(PF), Maurício Valeixo, afir-
mou ontem que Jair Bolsonaro lhe
disse,emduasoportunidades,que
gostaria de nomearao cargode
chefeda corporaçãoalguém com
quemtivesse“maior afinidade”,
mas não relatou“nenhumtipo de
problema” comopresidente.
Em um depoimento de maisde
setehorasprestadonaPFdeCuriti-
ba, Valeixo negouque tenha havi-
do interferência políticadurante
sua gestão àfrente do órgão eafir-
mouque o presidentenuncape-
diu aele qualquer dadosobre in-
vestigação policial em curso.Oex-
diretor-geral da PF foi ouvido por
delegados e procuradores da Re-
públicaqueconduzemoinquérito
que apura eventual interferência
política de Bolsonarona PF. OVa-
lorteveacessoaodepoimento.
“A partir do momento emque
há umaindicação cominteresse
sobreuma investigação específica,
estaria caracterizada umainterfe-
rência política, o que não ocorreu
emnenhummomento”,disse.
Valeixoafirmouque“nãolhefoi
solicitada nenhumainformação
por parteda Presidência da Repú-
blicasobreinvestigações ou in-
quéritos em tramitaçãona supe-
rintendênciadaPFnoRio”.
Ele negouque atroca na dire-
ção-geral da PF poderiater im-
pactono acessoa informações
sobre oinquérito das "fake
news",emcursonoSupremo.
“Seria necessária umatroca na
rotina de trabalho estabelecidana
PFjáhámuitosanos”, disse.Segun-
do Valeixo, “osinquéritos quetra-
mitamno STF envolvemtratativas

diretas entreequipes policiais e os
gabinetes dos ministros, sem que
tais documentospassempelo ga-
binetedodiretor-geral”daPF.
Valeixoafirmou que nem Bol-
sonaro, nemMoro, solicitaram
informaçõessobreo inquérito
4781 do Supremo TribunalFede-
ral (STF),em que o presidentee
deputadossãoinvestigados.
Indagadose o presidenteda
Repúblicapodesolicitarrelató-
riosdeinteligênciadaPF,Valeixo
respondeu que a“doutrina” da
corporaçãoprevêque opresi-
dentepode pedirtais informa-
çõesquandoenvolveremques-
tões estratégicas que demandem
a tomadade decisõeseque isso
também éfeito por outrosór-

gãoscomoa AgênciaBrasileira
deInteligência(Abin).
Valeixo contouque estavades-
gastado no cargo desdeo segundo
semestre de 2019. Disse que em
agosto houve aproximaçãodo de-
legadoAlexandreRamagemcoma
direção-geraldaPF,“visandomini-
mizarodesgaste ocorridocom a
primeira crise[para definir o chefe
daPF]doRiodeJaneiro.”
O delegadodissese recordar
que Ramagem“havia sido indi-
cadono iníciode sua gestão, em
comum acordocomos demais
diretores[da PF], paraexercero
cargode superintendente da Po-
lícia Federalno Estadodo Ceará”.
Mas isso não ocorreu,segundo
Valeixo, porqueRamagemfoi re-

quisitado para atuarjuntoà Pre-
sidênciada República,no Gabi-
netede Segurança Institucional
(GSI).“Depois dessa funçãoo
doutorRamagempassouaexer-
cer ocargode diretorda Abin”.
Valeixodisseque até entãonão
sabiada relaçãode amizadede
RamagemcomBolsonaro.
Valeixodissetambémque Ser-
gio Moronuncaindicou“qual-
quernomepara funçãode supe-
rintendente”equeaúnicamu-
dançamencionada peloentão
ministro “se restringiaàsuperin-
tendência do Rio de Janeiro, o
queocorreuporduasvezes”.
Ontem,em Brasília,foramto-
madosos depoimentos de Ale-
xandreRamageme do delegado

Ricardo Saadi, ex-superinten-
dentedaPFnoRJ.
OvídeodareuniãonoPalácio
do Planalto em que o presidente
teriamanifestadointençãodein-
terferirpoliticamentena PF será
exibidohojeaosinvestigadores.
A gravação foi indicada pelo ex-
ministro Morocomoprova de que
o presidente tinhainteresse em
trocarodiretor-geraldaPFparater
acessoarelatóriossigilosos.
Bolsonaro disse estar “zero
preocupado” comovídeodareu-
niãodos ministrosem que su-
postamenteteriaameaçado Mo-
rodedemissão.“Nósfornecemos
o vídeona íntegra(...) para com-
provar que nadadevemos no to-
canteaoinquérito”.

RaphaelDi Cunto e
Fa bioMurakawa
De Brasília

Asete dias do prazoparaen-
tregar à Câmara dos Deputados
os examesqueopresidente Jair
Bolsonaroalega teremdadore-
sultadonegativoparaacovid-19,
integrantesdo Paláciodo Planal-
to têm demonstrado preocupa-
ção com o desfechodo pedido. O
receioé que o caso dê motivopa-
ra um impeachment, e os asses-
soresdo presidentediscutemo
quefazercomorequerimento.
A entregaou não dos examesé
assunto de conversasentreinte-
grantes da Secretaria-Geral da
Presidência, a quemfoi direcio-
nadoo requerimento,edaCasa

Civilhácercade20dias.Bolsona-
ro, que se recusaenfaticamentea
divulgaros resultados,partici-
pou de manifestações, apertan-
do amão de apoiadores,dias
apósdizer que os exames deram
negativo. Maisde 20 integrantes
da comitivaque viajoucomele
paramissãooficialnos Estados
Unidoscontraíramcovid-19.
A solicitaçãoformalda Câma-
rasobreosexames,feitaapedido
do deputado Rogério Correia
(PT-MG),tinhaficadoemsegun-
do planonas preocupações com
asdecisõesliminaresdaprimeira
e segundainstâncias do Judiciá-
rio,determinandoqueogoverno
entregasseemprazomaiscurtoo
resultado para publicação do
jornal“OEstadodeS.Paulo”.

O presidentedo SuperiorTri-
bunal de Justiça(STJ),ministro
João Otávio de Noronha,contu-
do, atendeu a pedidodo governo
na noitede sábado, horasantes
do prazoacabar, como argu-
mentode que Bolsonaro, mesmo
ocupandoo cargopúblicode
maiorrelevânciada República,
tem tambémdireitoà proteção
da sua intimidade eprivacidade.
O advogado do jornal já infor-
mouque recorrerá da decisãoao
SupremoTribunalFederal(STF).
Comoprocessojudicialemse-
gunda instância,os integrantes
do Paláciodo Planaltovoltaram
novamentesuas atençõesao re-
querimento, que precisa ser res-
pondidoaté o dia 18. Segundo
fontesdo governo,aestratégia

CGUjá apura


446 denúncias


relacionadasa


Covid-


MurilloCamarotto
De Brasília

Somente na primeira semana
de maio, a Controladoria-Geral
da União(CGU)recebeu41 de-
núnciasreferentes à má aplica-
ção de recursos públicos em
açõesde combateà pandemia
do coronavírus.Desdeoinício
da crisesanitária,já são 446 de-
núncias,que miram tantopre-
feituras como governos esta-
duaise a União.
Desdea decretaçãodo estado
de calamidadeem âmbito na-
cional,ocorrida em março, as
compraspúblicastiveramas re-
grasde controlebastante flexi-
bilizadas,oque abriuuma ave-
nida de oportunidades para des-
vios de dinheiropúblico.
Nãohavia, entretanto, como
manteras exigências usuais dos
processoslicitatórios, dadaà ur-
gência para arealização das
comprasde produtoses erviços,
especialmente aqueles relacio-
nadosà área médica.
Já naquelaépoca,o ministro
da CGU, WagnerRosário,estava
preocupado em evitarque os
gastosextrasde agorase trans-
formassem em disputa política.
Oórgãoaindanão apresen-
tou maioresdetalhessobreessas
denúncias, comopor exemplo
quaisseriamos Estadosou pre-
feiturassobreos quaispairam
algumaespéciede suspeitade
irregularidade.
Relatório maisrecenteda CGU
mostraque agrandemaioriadas
manifestações feitas por meio de
umaplataformadigitalse refe-
rem ao benefício emergencialde
R$ 600 disponibilizadopelo go-
vernopara ajudaras populações
maisvulneráveis aenfrentar os
efeitosdoisolamentosocial.
Na primeirasemanade maio
foram1.517pedidosedúvidas
relacionadosao auxílio, amaior
partepor pessoas que aindanão
conseguiramrecebero dinheiro.
Tambémhá, contudo, genteque
recebeuos R$ 600 sem ter direito
ao benefício, e agoraquersaber
comodevolveraquantia.
Outroproblemaapontado no
relatório tratada Medida Provi-
sória 936,que autorizouasus-
pensãodos contratosde traba-
lho ou areduçãode jornada esa-
lário.Muitosempregadoresafir-
mam,porexemplo,nãosaberco-
mo encerrar asuspensão dos
contratospara retomar a ativida-
denormaldoscolaboradores.
Outrareclamação recorrente
tratadafalta de informaçõescla-
ras sobreas datasnas quaisos
funcionários enquadradospela
medida vão recebero comple-
mentosalarialpor partedo go-
verno. Tambémnão há orienta-
ção sobreostatusdas solicita-
çõesencaminhadasaogoverno.

seriase recusara prestara infor-
mação com oargumentode que
a saúdedo presidente da Repú-
blicaé assunto sigiloso, ampara-
donaLeideSegurançaNacional.
Essa defesa, contudo,gera
preocupações de que a crise polí-
tica seja amplificada.Para odepu-
tadoRogério Correia (PT-MG),a
negativa dará margempara pedi-
do de impeachment de Bolsonaro
já que aConstituição prevêque a
recusa em responderaquestiona-
mentos oficiais do Congresso ou
prestação de informaçõesfalsas
são crimede responsabilidade.
Fontes no Paláciodo Planalto
alegamque há “invasãode com-
petência” e“usurpaçãode po-
der”por parteda Câmara,que
na visãodeles“nãotem prerro-

gativaregimentalque dê respal-
do a essa atitude”.
Umasaídaparanão baterde
frentecom Bolsonaro–que tem
se armado contraoimpeach-
mentforjandouma aliançacom
oCentrão,que passouaapoiá-lo
em trocade cargos–éque o pro-
cessosobreo crimede responsa-
bilidadeseja direcionadocontra
o secretário-geral da Presidência,
JorgeOliveira,um dos braços-di-
reitosdo presidente.Técnicosle-
gislativos alertam,inclusive,que
alei que versasobreesse tipo de
crimeimputariaao ministro, e
não ao presidente,a infraçãopor
nãoresponderaorequerimento.
Procurada,aassessoria do Pa-
láciodo Planalto afirmou que
nãosemanifestará.

Valeixo: “InquéritosquetramitamnoSTF envolvemtratativasentre equipespoliciaise osgabinetes dosministros, semquepassempelogabinete dodiretor”

DANIELMARENCO/AGÊNCIA OGLOBO

Presidente reitera promessade vetoa reajuste de servidor


MarceloRibeiro
De Brasília

O presidente Jair Bolsonaro
afirmouontem que atenderá o
pedidodoministrodaEconomia,
Paulo Guedes, e vetaráotrecho
queflexibiliza ocongelamento
de salários para algumas catego-
rias dos servidores públicos no
projeto de socorro aEstadose
municípios. Ele sinalizou que de-
vesancionarotextoatéamanhã.

“Converseicom Paulo Guedes
de manhã,aEconomia está tra-
balhandona questãodos vetos.
Vamos atender 100% o Paulo
Guedes. Tivemos algunspedidos
quenãoforamaceitos.Tevepedi-
do de tempo.Daria parasancio-
nar ou vetarhoje se fosseneces-
sário. Houve o pedidopor parte
de alguns governadores para
passarpara quarta-feira asanção
ouoveto.Aprincípio,nósvamos,
talvez, quarta-feiradecidir”, dis-

se Bolsonaro, em frente ao Palá-
cio da Alvorada.“Quandose veta
umacoisa,semexeemmuitacoi-
sa. Essa éadificuldadedesefazer
umvetomaisracional”.
O presidente disse que,em
funçãoda crise, todosperderam
o poderaquisitivo, com exceção
dos servidores públicos.“O ser-
vidor público, grandemaioriaé
consciente, sabe que se aecono-
mia não recuperar,não vai ter
dinheiro para pagá-los. Não

adianta ter um contracheque
bonito, comnúmero vultuosos,
bônus, e vai no bancoe não tem
dinheiro”. Bolsonaro afirmou
que um dos fatoresque determi-
nou oadiamentoda decisãoso-
bre o veto foi um impasse sobre
novos alunosda academiada
Polícia Federal.
De acordocom ele, o ex-minis-
tro SergioMoro teria decidido
queocurso começasse apenas
após apandemia do coronavírus.

Com o eventualcongelamento
até dezembro de 2021, esses alu-
nossó poderiamcomeçaracur-
sar a partir de 2022, disse. “Seria
uma injustiça deixar esse pessoal
do lado de fora, esses 500 novos
policiais federais. Não tem nada
de despesa a maio.Reajustenão
está previsto paraninguém. Épa-
ra que eles possam cursar. Era pa-
ra tercomeçado já essecurso.
Atrasou porque ministro ante-
rior quis que onovo curso espe-

rasse a pandemia. Nesse esperar,
apareceu esse projeto. Se a gente
sancionar agora, esse jovens alu-
nospoderão ter que adiar para
2022 o início do curso. Por isso,
nãoresolvemosaquestãodoveto
ou não veto hoje. Acho que até
quarta-feiradáacertartudo”.Bol-
sonarodissequeassinounestase-
gunda-feira decreto revogando
mais de 300decretos. De acordo
com ele, a iniciativa ajudará a vi-
dadequemquerempreender.

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