O Estado de São Paulo (2020-05-13)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020 Metrópole A


SERGIO


CIMERMAN


Bruno Ribeiro


O prefeito de São Paulo, Bru-
no Covas (PSDB), defendeu
na manhã de ontem medidas
mais duras caso a população
não respeite o isolamento so-
cial na cidade. Ontem, a taxa
ficou em 49%, índice abaixo
da meta mínima de 50% espe-
rada pelo governo, mas o me-
lhor resultado para um dia
útil nas duas últimas sema-
nas. E projeções feitas com
um modelo matemático de-
senvolvido na Universidade
Estadual de Campinas (Uni-
camp) corroboram o que dis-
se o prefeito. Indicam que a
adoção de lockdown (blo-
queio total) obrigatório no Es-
tado será inevitável, caso o ní-
vel de isolamento social não
suba significativamente nas
próximas semanas.

Ontem, em entrevista à Glo-
boNews, Covas não descartou a
possibilidade de lockdown.
“Mesmo com o custo político,
se chegar em um momento que
os técnicos da saúde recomen-
dem, nós vamos fazer. Mesmo


com a dificuldade de fazer isso
de forma isolada em uma cida-
de como São Paulo. Não se vê a
divisa entre São Paulo e São Cae-
tano ou São Paulo e Guarulhos,
e as pessoas moram em uma ci-
dade e trabalham em outra.”
No entanto, Covas disse que
de acordo com a realidade me-
tropolitana, a medida terá mais
efeito se for feita também pelos
39 prefeitos da região ou pelo
governo de São Paulo. “A Prefei-
tura de São Paulo, isoladamen-
te, decretar isso, o efeito não se-
rá o esperado, mas vamos se-
guir as recomendações.” Ele
acrescenta que muitas cidades
ficam próximas de bairros mais
periféricos da capital paulista
“onde há mais casos de mortes
pelo novo coronavírus”.
De acordo com o estudo da
Unicamp, entre os dias 8 e 10 de
maio foram registrados, em mé-
dia, 1.033 novos casos de covid-
19 na capital – média de 1.
em todo o Estado. Se for manti-
da a taxa de contágio (R0) – que
é o número de pessoas para as
quais um infectado transmite o
vírus – observada nos 30 dias an-

teriores a 10 de maio, no fim de
junho o Estado de São Paulo
contabilizará 53,5 mil novas in-
fecções por dia, sendo 20,8 mil

casos diários somente no Muni-
cípio de São Paulo.
“Essas projeções têm grande
chance de estarem subestima-
das, pois o nível de isolamento
vem caindo desde o início de
abril, o que provocará o aumen-
to da taxa de contágio. Isso se
refletirá daqui a 15 ou 20 dias no
número de novos casos, depois
no de óbitos. Se o isolamento
não for ampliado, o Estado terá
de adotar medidas mais drásti-
cas de contenção ou a situação
se tornará insustentável”, afir-
ma o matemático Renato Pedro-
sa, professor do Instituto de
Geociências da Unicamp e coor-
denador do Programa Especial

Indicadores de Ciência, Tecno-
logia e Inovação da Fapesp.
Ontem, de acordo com balan-
ço da Secretaria Estadual de
Saúde, a capital tinha 28.682 ca-
sos, com 2.405 mortes. No Esta-
do são 47.711 casos confirma-
dos, com 3.949 mortes.

UTIs. Ontem, a Prefeitura de
São Paulo publicou edital de
chamamento público em que
solicita 100 leitos de internação
em Unidades de Terapia Inten-
siva a hospitais privados da capi-
tal. “Tínhamos na cidade de São
Paulo 507 leitos de UTI nos nos-
sos 19 hospitais. Ampliamos em
790 leitos de UTI. Vamos che-

gar a uma ampliação total de
1.500. Com a parceria com o se-
tor privado, vamos acrescentar
mais 800 leitos de UTI na capi-
tal. Para evitar ( escolher ) quem
é tratado ou não. Conseguir, as-
sim, taxa de 90% de pessoas que
conseguem tratamento e ter al-
ta depois’’, disse Bruno Covas.
Qualquer hospital poderá se
habilitar e fechar acordo com a
Prefeitura. Receberá diária de
R$ 2.100 por paciente que aten-
der. O valor é maior do que o
pago à cidade pelo Sistema Úni-
co de Saúde (SUS) – remunera
o leito de UTI de pacientes com
covid-19 em R$ 1.600 (a diária
antes da crise era R$ 800).

A taxa de isolamento social na
cidade de São Paulo foi de 49%
na segunda-feira, primeiro dia
de operação do novo esquema
de rodízio no município. O índi-
ce ficou abaixo da meta mínima
de 50% esperada pelo governo,
mas é o melhor resultado em
um dia útil nas duas últimas se-
manas. Os dados foram divulga-
dos pela Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Econômico.
Para o prefeito Bruno Covas,
o número mostra que a amplia-
ção do rodízio municipal foi
acertada. “O índice de isolamen-
to, que era de 46% na sexta-feira
( dia 8 ), foi de 49,3% nesta segun-
da-feira. E mostra que estamos
no caminho de voltar aos 55% e


60%, que é o que nós tínhamos
no início da quarentena’’, disse
Covas. “Voltando a este índice,
a gente volta a suspender o rodí-
zio na cidade de São Paulo.
Quanto mais as pessoas colabo-
rarem e ficarem dentro de casa,
mais a gente pode falar sobre
flexibilização. Quanto menos
pessoas colaborarem, mais a
gente precisa endurecer com as
regras.”
De acordo com o prefeito, a
restrição provocou a redução
de 1,5 milhão de veículos nas
ruas e acréscimo no transporte

público municipal. “Aumento
de 6% no número de passagei-
ros, acompanhado pelo aumen-
to de 12% na frota de ônibus.
Também estamos acompa-
nhando o movimento nos trens
( da CPTM ) e do Metrô, de res-
ponsabilidade do governo de
São Paulo.” A SPTrans infor-
mou que na segunda-feira regis-
trou 540 mil pessoas a mais nos
veículos, em relação à média da
semana passada.
Bruno Covas voltou a dizer
que a postura do presidente Jair
Bolsonaro não colabora com o
isolamento necessário para con-
ter o avanço da covid-19. “Se ele
mostrasse para as pessoas o
quanto é importante ficar em ca-
sa, já colaboraria bastante”.
Antes da adoção desse esque-
ma de rodízio, o melhor dia útil
registrado havia sido em 20 de
abril, segunda-feira véspera do
feriado de Tiradentes, quando a
taxa ficou em 51%. O dia fazia
parte de um feriado prolonga-

do. Depois disso, a taxa variou
entre 46% e 48% nos dias úteis.
O isolamento é aferido com
base em informações passadas
pelas companhias de telefonia,
que rastreiam a posição dos ce-
lulares, ao governo do Estado.

Ambos garantem que a privaci-
dade dos usuários não é violada.

Liminar negada. A juíza Celina
Kiyomi Toyoshima, da 4.ª Vara
da Fazenda Pública de São Pau-
lo, negou liminar à ação que soli-

citava a suspensão do rodízio
emergencial de veículos em vi-
gor na capital. A ação, que havia
sido movida pelo vereador pau-
listano Fernando Holiday (Pa-
triotas), do Movimento Brasil
Livre (MBL), pedia que o rodí-
zio fosse suspenso, entre ou-
tros motivos, pela falta de estu-
dos técnicos sobre a restrição.
O Ministério Público de São
Paulo havia se manifestado fa-
voravelmente à suspensão, em-
bora tivesse discordado dos ar-
gumentos do vereador.
“Em que pesem os argumen-
tos trazidos pelo autor e pelo
Parquet (o MP), não restou de-
monstrada a ilegalidade do ato
administrativo combatido”, es-
creveu a juíza, em sua decisão.
Para ela, dessa forma, fica difícil
“se imiscuir nas diversas medi-
das que estão sendo adotadas
pelo Poder Público para conten-
ção do alastramento da pande-
mia mundial do novo coronaví-
rus, que têm sido baseadas nas
orientações proferidas pelos ór-
gãos sanitários, Ministério da
Saúde e Organização Mundial
da Saúde”. / B.R. e TULIO KRUSE

D


esde a criação da Universi-
dade de São Paulo (USP),
na década de 1930, e com a
criação do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq), em 1951, surgiu
também uma luta por recursos ca-
pazes de garantir a produção de tra-
balhos com nível de excelência, so-
bretudo na área médica. Os baixos
salários e o financiamento escasso
nos levam a perder indivíduos bri-
lhantes, que poderiam conduzir es-
tudos de ponta no País. Perdemos
nossos gênios para outros países,
culturalmente mais desenvolvidos.
Essas nações os retribuem, finan-
ceiramente, de modo adequado e
valorizam o trabalho acadêmico.
A pesquisa médica no mundo é

importantíssima. Se levarmos em con-
ta apenas os vencedores de Prêmios
Nobel, perceberemos que uma imen-
sa maioria será de profissionais da
área da saúde, que acabam sendo em-
pregados pelas grandes indústrias far-
macêuticas. Trabalhar e pesquisar pa-
ra estas empresas significa ter melho-
res salários, estrutura e visibilidade pa-
ra a pesquisa médica. Entre nós: seria
um grande desafio, e certamente nos
traria muitos benefícios, uma parce-
ria público-privada mais efetiva em
termos de investimentos, até porque
60% do conhecimento científico do
Brasil vêm de nossas universidades pú-
blicas. Não obstante os seguidos cor-
tes orçamentários, notamos um cres-
cimento sistemático da pesquisa
médica no Brasil, sendo esse um cená-

rio promissor, visto ocuparmos a 13.ª
posição no ranking de trabalhos cien-
tíficos publicados pela Web of Scien-
ce, ferramenta esta que faz a análise
de citações, referências bibliográficas
e o índice H, que mensura a qualidade
das publicações.
Escrevo esta demorada introdução
para pontuar que, neste momento em
que enfrentamos a covid-19 nos hospi-
tais e até mesmo nas ruas, uma imensi-
dão de trabalhos científicos é desen-
volvida e publicada, embasada por pro-
jetos desenhados por cientistas e pes-
quisadores da maior seriedade em nos-
so País e no mundo. No Brasil, são estu-
dos clínicos aprovados pela Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa (Co-
nep) e pelas comissões de ética em
pesquisa dos hospitais. São estudos
realizados com o consentimento dos
pacientes ou seus familiares. Inúme-
ros ensaios clínicos têm sido publica-
dos em revistas de prestigio e tantos
outros em locais duvidosos e com re-
sultados não confiáveis acerca da hi-
droxicloroquina, por exemplo.
Recentemente, no Brasil, pesquisa-
dores foram acusados de serem negli-
gentes e de transformarem pacientes

em “cobaias”, como foi verificado em
redes sociais e grupos de WhatsApp.
Quem milita na área da pesquisa sabe
muito bem compreender que tal afir-
mação é despropositada. Isso aconte-
ceu com uma pesquisa, inclusive, noti-
ciada pela repórter Giovana Girardi
no dia 24 de abril aqui no Estado. A
pesquisa procurava entender a rela-
ção entre a morte de pacientes e a
quantidade de medicação ministrada
pelos médicos.
Posso dizer que o estudo foi realiza-
do por um consórcio de pesquisadores
e instituições sérias do Brasil. O grupo
se chama Cloro-Covid-19 e segue to-
dos os ritos de um ensaio clínico ade-
quado e bem conduzido, merecendo
publicação em uma das revistas médi-
cas de maior prestigio entre nós, o JA-
MA ( Journal American Medical Associa-
tion ) em abril de 2020.
As pessoas devem entender que re-
sultados adversos podem existir em
qualquer estudo clínico que envolva se-
res humanos e, por isso, o estudo não
teve seu seguimento – ele avaliaria 400
pacientes, sendo analisados antes do
seu término por um comitê de seguran-
ça apenas 81 pacientes em todas as

suas variáveis. Este e outros tantos
estudos que estão em curso no Bra-
sil com o mesmo medicamento po-
derão em algum momento ter a ne-
cessidade de suspensão. Caso isso
venha a ocorrer, a seriedade dos pes-
quisadores recomenda comunica-
ção imediata à Conep. Será preciso
informar a razão da interrupção e os
devidos motivos. Isso tudo dialoga
com o que chamamos de boas práti-
cas clínicas, normativas usadas em
pesquisa clínica que objetivam ga-
rantir evidencias quanto à eficácia e
segurança de uma medicação.
Temos de confiar e acreditar nas
pesquisas realizadas em território
nacional, pois a ciência brasileira
tem muito a produzir. Esta explo-
são do conhecimento que a covid-
traz é importantíssima e, assim, não
pode haver nenhuma ameaça aos
nossos cientistas. São eles que tra-
vam uma luta ferrenha e incansável
contra a covid-19. Parabéns aos nos-
sos pesquisadores!!!!

]
EX-PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEI-
RA DE INFECTOLOGIA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


FELIPE RAU/ESTADÃO

Seriedade de pesquisador


Covas não


descarta


bloqueio


total em SP


l Disposição

l Efeitos

Com rodízio, cidade tem melhor dia útil em duas semanas


Uso de salões e academias traz riscos. Pág. A16 }


ESCREVE QUINZENALMENTE

“Mesmo com o custo
político, se chegar em
um momento que os
técnicos da saúde
recomendem, nós vamos
fazer. Mesmo com a
dificuldade de fazer isso
de forma isolada em uma
cidade como São Paulo.”
Bruno Covas
PREFEITO DE SÃO PAULO

Prefeito admite tomar medidas mais duras,


mas sugere ação coordenada na Grande SP


WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS

Taxa de isolamento


social na segunda-feira,


primeiro dia do novo


modelo de restrição de


circulação, foi de 49%


1,5 milhão
de veículos a menos nas ruas de
São Paulo foi o resultado do
primeiro dia do novo rodízio,
segundo o prefeito Bruno Covas;
o movimento nos ônibus teve
acréscimo de 540 mil pessoas.

Trânsito calmo. Com rodízio, não houve congestionamento

Nos
marcos,

dica de
proteção
Neste mês, 16
monumentos e
estátuas espa-
lhados pela
cidade de São
Paulo terão
máscaras de
proteção para
conscientizar a
população so-
bre a importân-
cia de usar a
peça para se
proteger.
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