O Estado de São Paulo (2020-05-13)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020 Metrópole A


Falecimentos


Wilson Tosta / RIO


O quadro dramático na saúde
do Amazonas, onde o novo coro-
navírus já matou mais de mil pes-
soas e infectou quase 13 mil até a
manhã de ontem, tem também
motivos anteriores à pandemia.
A covid-19 atingiu um Estado


com um sistema fragilizado por
má gestão e desvios milionários
de verbas, que ocorrem há vá-
rios governos, disse o presiden-
te do Conselho de Medicina lo-
cal, José Bernardes Sobrinho.
Desde 2016, a Operação
Maus Caminhos, do Ministério
Público Federal (MPF), investi-
ga o mau uso de verbas. Atual-
mente, dois ex-secretários
usam tornozeleira eletrônica e
ex-gestores e empresários já fo-
ram presos. Atrasos em salá-
rios, que já são baixos, número
reduzido de médicos e falta de
investimentos completam o ce-

nário que culminou com o de-
sastre sanitário pelo qual passa
o Estado. “Digo que é uma tragé-
dia anunciada já há muito tem-
po. Há má gestão e subtração de
recursos”, afirmou Bernardes
Sobrinho.
As investigações de procura-
dores da República apontam o
médico e empresário Mouha-
mad Moustafa, sócio e adminis-
trador da Salvare Serviços Médi-
cos, como chefe de um esque-
ma criminoso que desviou mais
de R$ 100 milhões em recursos
públicos. Até o início de março,
Moustafa acumulava sete con-

denações criminais, que soma-
vam 81 anos de cadeia.
Na mesma investigação tam-
bém apareceram dois ex-secre-
tários de Saúde – Pedro Elias e
Wilson Alecrim –, além de fun-
cionários públicos e políticos.

Os desvios ocorreram, confor-
me as apurações, no Instituto
Novos Caminhos, organização
social que geria unidades de saú-
de. As fraudes envolveriam pelo
menos quatro empresas e con-
tratos superfaturados. O MPF
ajuizou dezenas de ações penais
e de improbidade administrati-
va. Na época das denúncias, os
acusados alegaram inocência.
A corrupção tornou críticas
as condições de trabalho dos
profissionais de saúde. Quase 2
mil dos infectados pela doença
no Estado – mais de 10% do to-
tal – são trabalhadores do setor.

Quinze morreram e, desses, cin-
co eram médicos, afirmou Ber-
nardes Sobrinho. A contamina-
ção massiva teria sido conse-
quência de um erro: pacientes
com suspeita da covid-19 não
usavam máscaras ao serem
atendidos. “Em locais bem es-
truturados, a mortalidade é pe-
quena. Curitiba tem 1 mil UTIs.
A ocupação até recentemente
era de 31%”, disse.
Segundo o Conselho Regio-
nal de Medicina local, em janei-
ro de 2019, o órgão contava com
5.114 médicos ativos inscritos.
Em janeiro de 2020, o número
caiu para menos de 4.865. “Tem
uma evasão muito grande. Os
médicos estão indo embora de
Manaus. Por quê? Primeiro,
condições de trabalho ruins. Se-
gundo, o governo paga com
três, quatro meses de atraso.
Eles vão fazer pós-graduação
em São Paulo e Rio e ficam.”
Bernardes Sobrinho disse
ainda que a falta de UTIs agra-
va o problema. “Tem uma Sala
Rosa no Hospital e Pronto-So-
corro 28 de Agosto em que to-
dos estão esperando por uma
vaga na UTI. Só que desses que
estão na Sala Rosa grande parte
morre, não chega lá. Há uma
fila de sete, oito esperando lu-
gar”, afirmou.
Quando há vaga, a escolha do
paciente que vai ocupá-la é feita
com base em critérios da Asso-
ciação de Medicina Intensiva
Brasileira (Amib), explicou. “É
uma preocupação constante en-
tre nós médicos. Eu sou médi-
co, tenho dois filhos médicos,
duas noras médicas e uma neta
médica. Se eu ou minha família
precisar de uma UTI, vou ter de
fretar uma UTI aérea e ir embo-
ra para Ribeirão Preto, minha
cidade, lá eu consigo UTI. Por-
que aqui a gente vai acabar mor-
rendo”, disse.

Andreza Galdeano


“Só agradeço por estar bem e
com saúde para poder ter uma


vida normal”, diz a chefe de cozi-
nha Carolina Judacheski, de 32
anos. Moradora de Fernando
de Noronha, ela foi uma das 28
pessoas infectadas pelo novo
coronavírus no local e hoje co-
memora a confirmação de que
o arquipélago conseguiu zerar
os casos de covid-19 após convi-
ver com a doença por 44 dias.
Além de Carolina, seu mari-
do, Thiago Gasparoni, testou

positivo para a doença. O casal
tem um filho de quase 2 anos e
não viu outra solução a não ser
permanecer os três isolados em
casa até sumirem os sintomas
da covid-19. “Confirmei que es-
tava com coronavírus no dia 10
de abril. Senti muita dor de cabe-
ça, dor no corpo, uma dor muito
forte no peito ao respirar, e fi-
quei sem sentir gosto e cheiro
dos alimentos”, relata.
Ao sentir os sintomas, conta
Carolina, ela informou o hospi-
tal da ilha. Logo depois, o pes-
soal da Vigilância foi até sua ca-
sa e fez o teste. A maior preocu-
pação era transmitir o vírus pa-
ra o filho. “A maioria das pes-
soas que estavam convivendo
comigo naquele período testou
positivo também. Todos fica-

ram assustados. Dizem que as
crianças não demonstram sinto-
mas, mas transmitem o vírus,
eu tive muito medo. Mas ele
não apresentou nenhum dos
sintomas, graças a Deus.”
O prazo de quarentena em
Fernando de Noronha foi encer-
rado no domingo. Desde abril
os moradores viviam em regi-
me de isolamento. Segundo a
administração do local, eles es-
tavam preenchendo formulá-
rios via internet para solicitar
autorização para sair de casa.
Segundo a chefe de cozinha, o
isolamento foi fundamental.
“Teve uma conscientização da
maioria das pessoas aqui, até
porque o vírus se alastrou mui-
to rápido e nós não temos estru-
tura, caso a situação ficasse mui-

to grave.”
O planejamento do governo é
abrir a ilha de forma gradual. Es-
tuda-se um protocolo de flexibi-
lização para o retorno das ativi-
dades no local e inicialmente a
reabertura será apenas para os
moradores. Turistas estão veta-
dos. Na segunda-feira, a admi-
nistração lançou uma cartilha
com medidas de presença e afir-

mou que todos poderão fazer
atividades físicas sozinhos ou
em dupla apenas uma vez por
dia, no horário das 5h às 22h.
Além de reafirmar que as praias
continuam fechadas.
Natural de Santa Rosa, no Rio
Grande do Sul, Carolina mora
em Fernando de Noronha há oi-
to anos e trabalha no Bar do
Meio, um dos locais mais bada-
lados da ilha. Segundo Caroli-
na, é difícil ver o local sem turis-
tas, mas ela não nega que “a na-
tureza está amando tudo isso”.
“Parece que a ilha está respiran-
do, mas é claro que sentimos fal-
ta da nossa rotina.” Atualmente
o seu local de trabalho está fe-
chado e ela recebe uma parte do
salário paga pela empresa e ou-
tra pelo governo.

SANDRO PEREIRA/FOTOARENA

l Diagnóstico
“Tem uma evasão muito
grande. Os médicos estão
indo embora de Manaus.”
José Bernardes Sobrinho
PRESIDENTE DO CONSELHO DE
MEDICINA DO AMAZONAS

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Julia Lindner / BRASÍLIA
Mariana Durão / RIO


Em um novo recorde, o Brasil
registrou 881 mortes decor-
rentes do novo coronavírus
nas últimas 24 horas e já rela-
ta, ao todo, 12.400 vítimas da
covid-19, segundo atualiza-


ção feita pelo Ministério da
Saúde ontem. O número de
casos confirmados da doença
no País saltou de 168.331 para
177.589, um acréscimo de
9.258 registros entre segunda
e terça-feira. Para efeito de
comparação, considerando o
Boing 737-800 (com capacida-

de para 162 passageiros), se-
ria o equivalente a quedas de
4 aeronaves em um dia.
Com essa atualização, o Bra-
sil ultrapassou a Alemanha em
número total de casos confirma-
dos da covid-19 e se tornou o 7.º
país no mundo com mais casos
da doença, segundo levanta-

mento da Universidade Johns
Hopkins. O país europeu relata
173.034 casos confirmados da
covid-19 até 17h30 desta terça.
Também de acordo com da-
dos do levantamento da Univer-
sidade Johns Hopkins atualiza-
dos até 17h30, o Brasil é o sexto
na lista de países com mais mor-
tes em função do novo coronaví-
rus, atrás apenas de Estados
Unidos (81.805), Reino Unido
(32.769), Itália (30.911), França
(26.994) e Espanha (26.744). Pu-
xada por Brasil e Estados Uni-
dos, a região das Américas supe-
rou a Europa em número de ca-
sos de covid-19. Enquanto o
continente americano já soma-
va, no início do dia, 1,74 milhão,
a Europa tinha 1,73 milhão.

Isolamento. Para conter a rapi-
dez do avanço do vírus, evitar a
sobrecarga do sistema de saúde
e poupar vidas, especialistas e
autoridades sanitárias reco-
mendam o isolamento social.
Uma pesquisa da Confederação
Nacional do Transporte (CNT)

com o Instituto MDA, divulga-
da ontem, mostra que a maior
parte da população aprova as
medidas de isolamento social e
defende que sejam praticadas
por todos, mesmo por aqueles
que não estão no grupo de risco.
Mas um estudo do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplica-
da (Ipea) aponta que o efeito
das medidas legais de distancia-
mento social contra o novo co-
ronavírus sobre o comporta-
mento da população brasileira
se reduziu a partir do final de
março. O mapeamento indicou
que o isolamento social caiu em
proporção superior ao relaxa-

mento do rigor dessas medidas.
Os pesquisadores alertam que
as políticas de distanciamento
têm se tornado progressiva-
mente descentralizadas, o que
pode levar a uma saída desorde-
nada e caótica da quarentena.
O Ipea analisou os períodos
de 23 a 27 de março e de 4 a 8 de
maio. Enquanto o rigor do índi-
ce de medidas legais de distan-
ciamento adotadas por Estados
e municípios caiu 10%, o isola-
mento social caiu 20% na com-
paração entre os dois períodos.
O Ipea destaca que as medi-
das de distanciamento têm sido
cada vez mais uma resposta à
gravidade da epidemia, em lu-
gar de uma medida preventiva
que evitaria um cenário de con-
tágio mais grave. “A se manter a
tendência, é provável que Esta-
dos e municípios com números
menores de óbitos relaxem as
medidas ou não ampliem o seu
rigor, enquanto aqueles que
possuem números mais eleva-
dos adotem ou mantenham me-
didas restritivas”, diz o Ipea. /

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Operação do Ministério


Público Federal apontou


desvio de mais de


R$ 100 milhões do


setor desde 2016


Otilia Soares da Silva – Dia 8,
aos 83 anos. Era viúva de José Mi-
guel da Silva. Deixa os filhos Ama-
deu, Maria, Braz, Carmelita, Rozi-
na, Josefa e Dorvaci. O enterro foi
realizado no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.
Wilma Francisca Braganholi
Osch – Dia 9, aos 82 anos. Era viú-
va de Arvids Alimons Osch. Deixa
os filhos Ieda, Guilherme e Ander-
son. A cerimônia de cremação foi
realizada no Cemitério e Cremató-


rio Primaveras.
Maria Cordeiro de Oliveira –
Dia 9, aos 80 anos. Era casada com
Roque José de Oliveira. Deixa as fi-
lhos Gisele e Patricia. O enterro foi
realizado no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.
Raimunda Guiomar Lima Mou-
ra – Dia 9, aos 74 anos. Era viúva de
Expedito Alves Moura. Deixa os fi-
lhos Cassia, Elaine, Rosângela,
Francisco e Fábio. O enterro foi rea-
lizado no Cemitério e Crematório

Primaveras.
Maria Aparecida Cordeiro Sil-
va – Dia 10, aos 69 anos. Era viúva
de Antonio Vieira da Silva. Deixa os
filhos Maria, Geralda, Marcos, Mag-
na e Ianes. A cerimônia de crema-
ção foi realizada no Cemitério e Cre-
matório Primaveras.
Maria da Penha Alves de Sou-
sa – Dia 9, aos 57 anos. Deixa os fi-
lhos Juliana, Flávio, parentes e ami-
gos. A cerimônia de cremação foi
realizada no Cemitério e Cremató-

rio Primaveras.
Silvana dos Santos Tomaz –
Dia 10, aos 56 anos. Deixa os filhos
Lucas, Marcelo, Bruno, parentes e
amigos. A cerimônia de cremação
foi realizada no Cemitério e Crema-
tório Primaveras.
Sergio Franchi – Dia 10, aos 83
anos. Era casado com Leoni Fran-
chi. Deixa os filhos Rogério, Mar-
cos e Claudio. O enterro foi reali-
zado no Cemitério e Crematório
Primaveras.

José Belarmino de Assis – Dia
9, aos 82 anos. Era casado com Mal-
vina Pereira de Assis. Deixa os fi-
lhos Adenilson, Lenice, Jarci, Jura-
ni, Leila, José, Josedino e Juraci. O
enterro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
José Gutemberg da Silva Luiz


  • Dia 10, aos 69 anos. Era viúvo de
    Verónica Paula da Silva Santos. Dei-
    xa os filhos José, Alfredo, Thiago,
    Carlos, Laura, André, Andréia, Ju-
    nior, Juliana e Tatiane. O enterro foi


realizado no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.
Antonio Salvador da Silva – Dia
10, aos 67 anos. Era solteiro. O en-
terro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Benedito Antonio de Almeida


  • Dia 10, aos 67 anos. Era casado
    com Nair Alves da Silva Almeida.
    Deixa as filhas Michele e Bianca.
    A cerimônia de cremação foi reali-
    zada no Cemitério e Crematório
    Primaveras.


l Acréscimo

l Rigidez

Risco. Coveiros
no cemitério
Parque de
Manaus

Corrupção e má gestão agravam situação no Amazonas


País registra mais


um recorde de


mortes: 881 em 24h


9.258 casos
foi o acréscimo de registros en-
tre segunda e terça-feira. Dessa
forma, o País saltou de 168.
para 177.589 confirmações. São
Paulo é o Estado com maior nú-
mero de registros.

Brasil ultrapassou a Alemanha em número total de casos e já


é 7º no mundo; estudo indica que isolamento social vem caindo


28
moradores do arquipélago de
Fernando de Noronha foram
infectados pelo novo coronavírus
e o isolamento foi decisivo para
que a doença não se espalhasse.

Arquipélago se livrou do


coronavírus e se prepara


para sair da quarentena,


mas acesso dos turistas


ainda está proibido


Fernando de Noronha


consegue zerar casos


e volta a ‘respirar’

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