O Estado de São Paulo (2020-05-13)

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A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Uma mulher de 113 anos se re-
cuperou da covid-19 em um
lar de idosos na Espanha. Ma-
ria Branyas, que nasceu em 4
de março de 1907, contraiu a
doença em abril, mas foi consi-
derada curada após testar ne-
gativo na última semana. “Ela
superou a doença e está indo
muito bem”, afirmou à AFP a


responsável pela comunica-
ção do estabelecimento.
Maria era criança durante a
1.ª Guerra Mundial (1914-
1918) e a gripe espanhola de


  1. Também presenciou a
    Guerra Civil da Espanha, de
    1936 a 1939.


http://www.estadao.com.br/e/idosacovid

C


omo um Ranger no
Vietnã, sem estratégia,
subestimando adversá-
rio e adepto do comando sem
controle, o presidente não liga
para a relação entre aceleração
e derrapagem. No jogo das car-
tas ocultas se sente o controla-
dor que opera com inteligên-
cia falsa para ativar análises es-
tapafúrdias sobre ele: impor-
tante não é o que faço, é como
os outros reagem ao que faço.
O coronavírus desmilitari-
zou o patriotismo e fez da área
da saúde o lugar onde a Pátria
observa seus heróis. O solda-
do, sem capacidade crítica, le-
vou para o lado pessoal e afo-
gou o médico no rio do ciúme
eleitoral. Para chegar à outra
margem sem processar a frus-
tração de não mandar, xingou
o juiz, ameaçando seu reino
por um cavalo de Troia na PF-
RJ – onde condomínio, porto,
milhões e facções, mais
hackers familiares, formam os
nós da rede que o atormenta.
Cada reação de um Poder
contra o outro o ajuda a com-
por o rosto Frankenstein da
democracia como a concebe.
Não é nada sofisticado, nem
exige força bruta aparente. O
que observa é a água que fer-
ve, não o fogo que a estimula.
E vê a umidade infiltrar-se na
casa velha do presidencialis-
mo como um teste para cali-
brar o grau de imunidade à lei
que precisa alcançar. Dança
na chuva: não é dilúvio, tam-
bém não é garoa.
A tática que adota é crua e
combina autoconfiança e
afronta. Já tossiu na frente de
apoiadores, agride jornalistas
com frequência, berrou impro-
périos em frente ao Quartel-
General, entrou no Supremo
sem bater na porta, passa na
conversa terno, farda, paisa-
no. Testou a frieza do coração
sem luto propondo disfarçar a
morte em churrasco funerá-
rio. Cancelou, trocou por pe-
dalinho. O ritual perverso
transcendia a necessidade de
comer o outro.
Procura, obstinadamente,
compartilhar o estopim: como
é inútil para o mau agir se não
puder confiar nos bons.

O presidente é o mais osten-
sivo usuário dos defeitos do
presidencialismo no período
democrático. Seu governo, um
círculo de giz sobre a cabeça
da Nação, é uma equação ain-
da obscura para a maioria: só é
possível alguém agir assim em
regime não sério assim. Ele fin-
ge querer mudar o padrão que
a cada governo acrescenta
uma doença. Conhece a lógica
da coisa: conduz todos para a
cozinha e os submete ao tem-
pero do poder. Busca conven-
cer os comensais a não ler o
cardápio constitucional.
Como todos estão vendo,
ele está desatarraxando deva-
gar o parafuso da porca dos
costumes como antidemocra-
ta tarimbado, calculadamen-
te. A Justiça, que alimenta os
seus com suas férias de três
meses, nada sabe dos males
que a ferrugem dos privilégios

na engrenagem dos tribunais
provoca. Juiz de televisão cos-
tuma ser raso em equidade e
temperança, usa mal a chave
de fenda que aperta a porca
do parafuso do arbítrio. Para
se precaver a Câmara, ajuiza-
da, deixa o Supremo escrever
o roteiro do enredo.
O estilo ultrarrealista que
pratica tem uma fermentação
que apodrece o ambiente a
que se dirige. Em especial
quando acaba destampando o
código secreto por trás das
coisas em que mete o nariz.
Realmente, “amor à primeira
vista” parece ser um código.
Porque não tem preço a sensa-
ção de receber do STJ a aprazí-
vel sentença de que presiden-
te da República é simples e do
povo e não deve satisfação so-
bre sua vida. Um Meu Pé de La-
ranja Lima judicial é o melhor
laissez-passer para quem quer
mobilidade para agir sem ser
incomodado.
Aparentemente, não há pa-
drão. Mas para analisar as rea-
ções que provoca ele indica o

alvo e personifica o ataque. En-
tender o porquê da escolha des-
ses alvos não é a linha da análi-
se mais correta. Os alvos – im-
prensa, Congresso, Forças Ar-
madas, Supremo, empresários,
governadores, oposição, econo-
mia, coronavírus – dizem me-
nos sobre ele do que sobre as
coisas e as reações que provo-
ca quando ataca, elogia, insi-
nua, recua, desconversa.
Ele quer ter o controle da
resposta no mesmo lugar ou
situação onde acha que pode
ser paralisado. O déficit de
moralidade que procura nas
instituições é necessário ao
seu controle. Ele sente que
precisa de mais acesso aos de-
tentores de cargo público, um
grupo específico que conhece
bem e tende à incoerência a ca-
da eleição.
Está atrás de fragmentos na-
queles lugares da capital que
fedem à dissidência política
onde são costurados os peca-
dos e que poderiam compor o
padrão dos usuários do Esta-
do, essencial para montar seu
quebra-cabeças. Precisa agir
rápido para que o oportunis-
mo veja mais vantagens em
aderir a ele do que ser engolfa-
do pelas vantagens que a dis-
torções da democracia presi-
dencialista oferecem.
O presidencialismo é um
prédio condenado, pichado,
onde cada um que entra nele
se instala em seu andar lixan-
do-se para a opinião pública.
É desse imóvel reformado,
que vem desabando pouco a
pouco, que o País é dirigido há
mais de 30 anos. Foi ali que o
humano-inesperado esbarrou
no muro do coronavírus e en-
controu como síndico do espi-
gão um presidente ambicioso
que roda como biruta.
Um presidente ardendo em
fogo morto, misturado nas cin-
zas do arcaico presidencialis-
mo brasileiro, como se fosse
um coronel dos velhos enge-
nhos de cana queimando seu
poder no bagaço das perfídias
em extinção.

]
SOCIÓLOGO. E-MAIL:
[email protected]

Processo investiga suposta
fraude na aquisição pelo Es-
tado de 200 respiradores.

http://www.estadao.com.br/e/fraudesc

ESPANHA


Idosa de 113 anos sobrevive à covid-


Muitas das imagens que cir-
culam online são de uma
onda de ataques de vespas
gigantes que ocorreu em
2013 na China.

http://www.estadao.com/e/verificavespas

l“Todos nós sabemos que o Bolsonaro vai cair, né! Eu quero que ele vá
mais alto. Quanto mais alto, maior a queda.”
LÉO CADY

l“Se entenderem por intenção, isso não é crime! Crime seria real inter-
ferência.”
BIANCA CARVALHO

l“O presidente tem noção absolutamente distorcida do que é Estado
e o que é particular.”
ANTÓNIO BRANCO

l“Tanto problema importante para resolver e autoridades se reunin-
do para incriminar Bolsonaro com picuinhas.”
VENANCIO DIAS

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

VERIFICA
Ataque de vespas está
descontextualizado

Entrar em contato com o
banco para pedir pausa no
financiamento e buscar ou-
tras opções no mercado são
alguns dos caminhos.

http://www.estadao.com.br/e/dividacarro

PIXABAY

Espaço Aberto


E


m 19 de abril, Dia do
Exército, o presidente
da República tomou ca-
fé com os filhos 01, 02 e 03 e
foi ao Quartel-General da For-
ça, à frente do qual discursou
para manifestantes que carre-
gavam cartazes, entre os
quais um clamava: “Interven-
ção militar já com Bolsona-
ro”. O ato reivindicava novo
Ato Institucional n.º 5 para fe-
char o Congresso Nacional e
o Supremo Tribunal Federal
(STF). Ali, entre acessos de
tosse, afirmou: “Eu estou
aqui porque acredito em vo-
cês”. A Polícia do Exército ga-
rantiu a segurança dos presen-
tes. E nenhum golpista foi pre-
so em flagrante. O procura-
dor-geral da República, Augus-
to Aras, pediu e o STF autori-
zou inquérito para investigar
quem organizou, financiou e
compareceu ao ato, mas omi-
tiu o nome dele. Ninguém foi
processado e preso por ter
violado a Lei da Segurança Na-
cional, incorporada à ordem
legal vigente. No dia seguinte,
parodiou Luís XIV: “Eu sou a
Constituição”.
Em 30 de abril, proibido de
empossar na chefia da Polícia
Federal (PF) Alexandre Rama-
gem, seu segurança na campa-
nha e amigo de seu filho 02,
por liminar dada pelo minis-
tro do STF Alexandre de Mo-
raes, Bolsonaro chamou a de-
cisão de “canetada política”,
em insulto inédito de chefe
de um Poder a ocupante de
outra instituição sediada na
Praça dos Três Poderes.
Em 3 de maio, profissionais
da saúde protestaram em si-
lêncio naquela praça contra a
inércia do governo federal em
relação à pandemia de covid-



  1. Marluce Gomes fez parte
    do grupo de bolsonaristas
    que reagiu à manifestação e in-
    sultou uma de suas participan-
    tes: “Quando a gente sente o
    cheiro de quem não passou
    perfume, a gente entende o ti-
    po de pessoa que você é”.
    Identificada pelo Conselho
    Federal de Enfermagem, ela
    foi processada. Na terça-feira
    5, ela iria ao cercadinho, que o
    chefe do governo usa como


tribuna de fala do trono, para
homenageá-lo em altos bra-
dos. No ataque aos heróis po-
pulares, que, ao contrário do
“Mito”, arriscam a vida para
enfrentar o contágio do novo
coronavírus, ela teve a compa-
nhia de Renan Sena. Este agre-
diu um manifestante e é em-
pregado de uma empresa que
presta serviços ao Ministério
da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (!), de Da-
mares Alves, por R$ 20 mi-
lhões. O empresário Gustavo
Gayer completa o trio identifi-
cado. Não há notícia de que
seu idolatrado condottiere os
tenha recriminado.
No dia seguinte, domingo 4
de maio, Sua Excelência vol-
tou a se dirigir a manifestan-
tes antidemocráticos da ram-
pa do Palácio do Planalto, sím-
bolo do poder nesta insana Re-
pública. Mais uma vez, os gol-

pistas não foram abordados
pela polícia, cujo superior hie-
rárquico é Ibaneis Rocha, ad-
vogado trabalhista e governa-
dor do Distrito Federal, que
decretou isolamento social e
passou um fim de semana em
Maceió (AL) com um grupo
de amigos. Uma vez mais, o
procurador-geral da Repúbli-
ca não incluiu o nome de Jair
Messias no inquérito, autori-
zado pelo STF.
Na segunda-feira 8 de maio,
o chefe do Poder Executivo ar-
rebanhou um grupo de diri-
gentes de associações sindi-
cais de industriais, que com-
pareceu a seu gabinete para
cobrar medidas por ele pro-
metidas três semanas antes à
Confederação Nacional da In-
dústria para uma saída organi-
zada do isolamento social.
Em vez de lhes dar satisfação,
liderou uma caravana até o ou-
tro lado da praça, numa répli-
ca da Marcha sobre Roma,
com que Benito Mussolini ins-
talou a ditadura fascista na
Itália, em 1922. Foi recebido

pelo amigão Dias Toffoli na
presidência do STF e este lhe
avisou que a responsabilidade
sobre o pedido dos empresá-
rios era do presidente da Re-
pública, e não da Justiça. A in-
vasão da cúpula do Judiciário
foi transmitida ao vivo em live
em rede social.
Ontem, por decisão do de-
cano do STF, Celso de Mello,
autoridades e advogados re-
presentando o presidente da
República, a PGR, a PF, o STF
e o ex-ministro da Justiça Ser-
gio Moro viram o vídeo de
uma reunião do tal Conselho
de Governo, com 30 mem-
bros, como parte do inquérito
aberto a partir de acusações
que o ex-auxiliar lhe havia fei-
to ao pedir demissão. Não fal-
tam vexames: o presidente
ameaçando o ex-ministro de
demissão, o ministro da (falta
de) Educação insultando as
homenageadas no domingo
10 pelos membros do STF, o
chanceler acusando a China
de ter usado o novo “comuna-
vírus” para dominar o mundo
e o chefão de todos cobrando
de Moro não ter falsificado o
atestado de óbito de um agen-
te da Polícia Rodoviária Fede-
ral morto por covid-19.
Sua obsessão em debochar
da pandemia chegou ao extre-
mo de anunciar um churrasco
no sábado 9 de maio, quando
o total oficial de óbitos ultra-
passou 10 mil. E depois dizer
que foi um anúncio fake para
desmoralizar repórteres “idio-
tas”. E passeou de jet ski no
Lago Paranoá, enquanto a
princesa Sofia, da Suécia, aten-
dia pacientes de covid-
num hospital em Estocolmo.
Apavorada, a Nação pergun-
ta até quando falsos pais da
Pátria, que deviam defender o
Estado de Direito com fatos,
vão se abrigar em notas ofi-
ciais inócuas, enquanto ele
inspira canalhas que chutam
ataúdes e desonram a Bandei-
ra Nacional hasteada a meio
mastro em luto pelas vítimas
de um genocida ignorante,
perverso e insensível.

]
JORNALISTA, POETA E ESCRITOR

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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E-INVESTIDOR
Como renegociar
parcelas do seu carro

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]
José Nêumanne


Tema do dia


Clube que disputa a última
divisão estadual se desfaz de
prêmio para pagar contas.

http://www.estadao.com.br/e/rifamedalha

A democracia apodrece


na república dos poltrões


Bolsonaro dá sinais de
que quer autogolpe, mas
falsos democratas só
reagem em notas inócuas

Fogo


morto


Presidente como coronel
de engenho queimando
seu poder no bagaço das
perfídias em extinção

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
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ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Vídeo ‘devastador


para Bolsonaro’,


dizem investigadores


Gravação complicaria ‘gravemente’ o
presidente no inquérito sobre suposta
tentativa de interferência na PF

]
Paulo Delgado

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FRAUDE

Justiça de SC abre
sigilo de investigação

CRISE

Paulista de Jundiaí
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