O Estado de São Paulo (2020-05-13)

(Antfer) #1

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B4 Economia QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


FÁBIO


ALVES


C


om a aprovação do “orçamen-
to de guerra”, que autorizou
o Banco Central a comprar e
vender títulos públicos e privados
no mercado secundário, é grande a
expectativa sobre quando o BC co-
meçará a intervir na curva de juros
brasileira por meio da chamada Ope-
ração Twist.
Por essa operação, já usada nos Es-
tados Unidos pelo Federal Reserve
(Fed), o BC compra títulos públicos
de longo prazo e vende os papéis de
curto prazo, permitindo uma desin-
clinação da curva de juros. Isso por-
que troca taxas mais elevadas de lon-
go prazo por juros menores pagos
nos prazos mais curtos. Maior incli-
nação da curva contribui para um
aperto das condições financeiras, au-

mentando o custo do crédito.
Com os temores de um descontrole
fiscal mais permanente, em razão do
aumento de gastos aprovados para
combater o impacto econômico da pan-
demia do coronavírus, e também com a
escalada da crise política no governo
Bolsonaro, o nervosismo com o Brasil
tomou conta dos investidores.
Um dos reflexos dessa piora de hu-
mor foi o aumento do prêmio de risco
dos ativos brasileiros, incluindo uma
elevação das taxas dos contratos de ju-
ros de longo prazo, enquanto a sinaliza-
ção de cortes adicionais da taxa Selic
segurou os juros de curto prazo.
O BC diz que está avaliando se já po-
de começar a realizar a Operação Twist
após a aprovação do orçamento de
guerra ou se precisará de regulamenta-

ção pelo Conselho Monetário Nacio-
nal. A instituição e o Ministério da Eco-
nomia têm dito que a permissão para
comprar e vender títulos públicos no
mercado secundário é um instrumen-
to importante a ter em mãos caso hou-
vesse uma piora adicional significativa
nos preços dos ativos – com a pande-
mia e a crise política.
Já estamos então nessa situação agu-
da de estresse que exija atuação do BC
para administrar a curva de juros e, as-
sim, reduzir sua inclinação?
Para muitos analistas do mercado,

ainda não. Os preços dos ativos, com o
aumento no prêmio de risco, refletem
tão somente a percepção de piora nos
fundamentos da economia. Além dis-
so, o mercado futuro de juros não está
operando de maneira disfuncional.
Na estrutura a termo de juros a três
anos, a curva chegou a ficar ligeiramen-
te negativa em outubro de 2019 com o
otimismo em relação à economia brasi-

leira e com aprovação da reforma da
Previdência. Mas, com o estresse recen-
te, a curva registra atualmente uma in-
clinação próxima a 2 pontos porcen-
tuais no prazo de três anos.
Esse nível é considerado até corri-
queiro por muitos analistas. No perío-
do pré-eleitoral em 2018, quando o ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva li-
derou pesquisas de intenção de voto,
essa inclinação da curva de juros che-
gou a 4 pontos porcentuais.
A inclinação da curva não será, contu-
do, o único gatilho que levará o BC a
realizar a Operação Twist. Outras variá-
veis serão importantes, incluindo até o
desempenho do PIB.
Há quem diga que o BC será parcimo-
nioso na compra e venda de títulos pú-
blicos no mercado secundário e que
atuará apenas quando houver uma in-
clinação tão forte na curva de juros que
indique pânico no mercado, travando a
liquidez. E que atuará apenas para corri-
gir disfuncionalidades. Ou seja, não
usará essa operação em substituição à
política monetária, deixando o corte da
taxa Selic como principal instrumento
para aliviar as condições financeiras.
O BC tem poder de fogo e muita mu-

nição para gastar: em dezembro de
2019, a sua carteira de títulos públi-
cos somava R$ 1,9 trilhão, ou 26% do
PIB brasileiro. Ainda não está claro
se o BC vai atuar apenas para ajudar
o mercado a formar um preço justo
ou para alterar os preços, pressio-
nando a parte longa da curva para
baixo.
Como o mercado está operando
com perfeita liquidez e a inclinação
maior da curva não reflete pânico,
mas apenas uma piora, de fato, da
perspectiva fiscal do País, não há ne-
cessidade, neste momento, de o BC
nem balizar as taxas nem criar um
preço artificial nos juros futuros.
Se, quando atuar, o BC entrar com-
prando pesadamente títulos públi-
cos de longo prazo, o efeito colateral
negativo pode ser o de estimular
uma corrida para o dólar, gerando
uma indesejável desvalorização for-
te do câmbio. Mas em um momento
de pânico e de iliquidez, talvez a Ope-
ração Twist seja o melhor remédio
indicado.

]
É COLUNISTA DO BROADCAST

A taxa de condomínio e a saúde dos condôminos


A


maioria dos brasileiros está bastante es-
clarecida sobre os cuidados necessários
para evitar a covid-19. Além da higiene
pessoal, sabe, por exemplo, que é melhor pe-
garoelevadorapenascommembrosdafamí-
lia,pois,sealguémespirrarestará,digamos
assim, ‘tudo em casa’.
Aliás, ainda bem que existem edifícios re-
sidenciais,olardemilhõesdefamíliasque,
não fosse isso, não teriam como atender o co-
mando ‘fiqueemcasa’.Comotodasituação
crítica resulta em aprendizado, quem sabe as
pessoasqueforamdoutrinadasachamarde
especulação toda edificação imobiliária co-
mecemapensardiferente.
Para proteger ao máximo os funcionários
decondomínios–e,porconsequência,seus
moradores e usuários –, as administradoras
têm sugeridoaossíndicosadoçãodeváriasme-
didas. Não existe uma receita geral. Cada pré-
dioéumprédio.Háaquelescom40unidades
e condomínios clube com cinco torres e mais
detrêsmilmoradores–umaverdadeiracidade.
Portanto,asoluçãonãopodeseramesma.
Observa-se que as famílias ‘confinadas’
estão sabendo respeitar certos limites. Não
se coloca música alta. As brigas domésticas –
inevitáveis quando é preciso conciliar home
office,filhos,cachorroetc.–nãochegama
atravessar as paredes.
Na verdade, as pessoas estão gratas por
dividir o espaço com mais alguém. E imagi-
namcomodeveserdifícilasituaçãodequem
mora só, principalmente se for idoso. Assim,
surgemaçõessolidárias,comofazermercado
efarmáciaparaqueosmaisvulneráveisnão
tenham de se expor a riscos.
Sob o aspecto fraternal, os condomínios
registram atitudes exemplares. Mas, sob o
aspecto econômico, as preocupações com as
receitas para assegurar o funcionamento das
edificações são crescentes.
Acovid-19segurouaspessoasemsuasca-
sas e paralisou a maioria das atividades eco-
nômicas. Para completar, há uma confusão
generalizada sobre quem está certo ou errado
ao defender ou não o isolamento social.
Como prevenir continua sendo o melhor
remédio, o que temos são ruas vazias, comér-

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Jornalista Responsável: Maria Silvia Carneiro - MTb - 19.466 | Ano 38 | Nº 1975 |13 de maio de 2020

Hubert Gebara*

A mesma
mentalidade que
inspira o auxílio a
vizinhos necessitados
deve valer para
manter o condomínio
operante

*Vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios

ciosfechadoseraríssimageraçãoedistribui-
ção de riquezas.
Quando não há dinheiro, a tendência é pa-
garoquecustamaiscaro.Entreocartãode
créditoeocondomínio,cujamultaétabe-
lada em 2% ao mês, fácil deduzir qual conta
será postergada.
Quempensaouagedessaformadeixade
considerar que taxa de condomínio em dia
significa proteção à saúde de seus moradores
eusuários.Éelaquegaranteaágua,aluzeo
pagamento dos funcionários que higienizam
elevadores,vidroseoutrassuperfíciescom
produtos mais poderosos (e caros).
Somente esses argumentos seriam sufi-
cientesparasacrificar qualquer coisa, me-
nosdeixardepagarocondomínio.Outras
obrigações, como recolhimento de impostos,
podem ser repactuadas. Mas a saúde dos con-
dôminos não tem preço.
É por isso que temos orientado síndicos e
administradores a negociarem à exaustão
com condôminos inadimplentes. Conhecer a
realidadedecadaum;verificar o que pode ser
feito para que aqueles que cumprem em dia
suas obrigações não sejam injustamente pe-
nalizados; conversar com bancos em busca de
linhas de crédito a juros equiparados à Selic.
Amesmamentalidadequeinspiraoauxí-
lio a vizinhos necessitados deve valer para
manter o condomínio operante. Sem esse
compromisso efetivamente assumido, o ris-
co de um empreendimento se tornar um polo
de contágio não é simples e remota hipótese.
Pode acontecer com qualquer um de nós.

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FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS

ENTREVISTA


Adriana Fernandes
Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA


O secretário executivo do Mi-
nistério da Economia, Marcelo
Guaranys, defende uma coor-


denação conjunta com o Minis-
tério da Saúde no planejamen-
to da retomada das atividades
econômicas como saída da cri-
se provocada pela pandemia
da covid-19. Em entrevista ao
Estadão/Broadcast, Guaranys
afirma que é importante ter
“racionalidade” na discussão.
Na segunda-feira, o ministro
da Saúde, Nelson Teich, disse
que não foi consultado sobre a
inclusão de salões de beleza,
barbearias e academias na lista

de atividades essenciais e que
a decisão tinha sido tomada só
pelo Ministério da Economia.

lQual a avaliação do Ministério
da Economia sobre o momento
da abertura econômica?
Temos tido cuidado de sepa-
rar o que são as atribuições do
Ministério da Saúde e as nos-
sas. A preocupação da econo-
mia está sendo de atenuar os
efeitos da covid-19. Tem uma
coisa que é o receio da popula-

ção diante da pandemia. As
pessoas estão parando de con-
sumir e tendo mais cuidado e a
outra coisa são as ações de Es-
tado que foram concretizadas.
É muito importante buscar
sempre o equilíbrio. Sabemos
que a economia não vai parar,
precisamos que algumas coi-
sas funcionem para a nossa so-
brevivência. A nossa preocupa-
ção do ponto de vista econômi-
co é sempre que tenha raciona-
lidade nessas coisas.

lDe que forma?
Com o coronavírus, a gente so-
freu um choque muito grande,
começou a ver muita gente
morrendo na Itália, muita gen-
te morrendo na França, na Es-
panha, isso assusta. O natural
num susto é a mesma coisa
que no 11 de setembro, para tu-
do. Depois a gente começa a
entender ‘dá para fazer um coi-
sa’, ‘dá para fazer outra’, você
tem que ter racionalidade, bus-
car número, evidência, infor-
mação. Não tem fórmula mági-
ca, porque ninguém passou
por tudo ainda. O importante
é buscar uma racionalidade pa-
ra que as duas coisas se com-
pensem. Não é uma discussão
se vale mais a vida ou a econo-
mia, de jeito nenhum. A discus-
são é de que as coisas vão ter
que ter equilíbrio, e nós temos
que ter todos os cuidados para
não pegar a doença, mas tem
que ter um mínimo funciona-
mento da economia.

lQual é o plano para o pós-pan-
demia?
Tínhamos uma situação econô-
mica que não estava boa, com
a crise essa situação se agrava
ainda mais. Como sair da cri-
se? No nosso diagnóstico, é o
mesmo instrumento com que
a gente estava trabalhando. A
gente precisa ainda mais repen-
sar o uso do recurso público.
O Chile está na nossa frente
(em gastos de combate ao co-
ronavírus) porque tem uma si-
tuação fiscal melhor, consegue
fazer um pacote com grande al-
cance. A gente não consegue,
porque temos um Orçamento
restrito. No pós-covid, enten-
demos que a flexibilidade orça-
mentária vai continuar sendo
extremamente necessária, pre-
cisamos continuar combaten-
do nossos gastos, precisamos
fortalecer ainda mais essas re-
formas para poder sair mais
rápido da crise. A discussão
que a gente está fazendo no
Pró-Brasil, que ainda está mui-
to incipiente, é o que os outros
ministérios entendem qual ti-
po de investimento que preci-
samos? Quais são as obras de
cada ministério que eles enten-
dem como sendo importan-
tes? Têm várias que já estão no
Orçamento. Tem outras que a
gente tem que entender qual é

a dimensão, onde de fato preci-
sa alocar mais recursos investi-
mentos públicos que não está
sendo atrativo para investi-
mentos privados e que vão dar
um bom resultado.

lE qual é a resposta?
É isso que vamos avaliar. Isso
ainda tá no meio (do cami-
nho). É daqui para julho. Não
acho que tenha um conflito
com a agenda do governo. A
agenda do governo é essa,
abrir, reformar, dar racionali-
dade ao dinheiro do povo, e é
isso que a gente vai continuar
fazendo.

lMas vem tem também a pres-
são por gasto, ainda mais com a
aproximação com o Centrão.
É natural, sempre tem a pres-
são por aumento de gasto. Em
todos os anos a gente tem tido
essa discussão. A importância
daqui é a gente explicar para
as pessoas que o teto de gastos

(regra que proíbe que as despe-
sas cresçam em ritmo superior
à inflação) nos gera muitos be-
nefícios. A gente não quer au-
mentar imposto. Se a gente
não quer se endividar mais, a
gente tem que olhar pra baixo
e rever nossas despesas.

lO que pode ser feito para me-
lhorar o acesso ao crédito?
As empresas estão em maior di-
ficuldade e os bancos estão di-
ficultando ainda mais o crédi-
to. Como resolver? Entra Te-
souro? Como faz? Qual é o me-
lhor caminho? É esse debate
que estamos agora. São duas
frentes. Ainda temos pontos a
fechar. É algo que ainda tem la-
cuna que precisa ser resolvido.
Nesse momento muitos gru-
pos chegam com todas as de-
mandas da vida. Tem que sepa-
rar o que é derivado da crise e
o que é um problema estrutu-
ral. Coisas da crise são o que
estamos atacando agora. Essa
é a discussão fazemos com o
crédito e esperamos que saia
nos próximos dias.

lPor que a demora?
Não vejo demora. Estamos há
menos de dois meses da cria-
ção do grupo, que foi criado no
dia 13 de março. O crédito tem
coisas mais complexas. A medi-
da do financiamento da folha
de pagamento não chegou ao
grande público. Se as empre-
sas continuam com dificulda-
de do crédito, temos que conti-
nuar monitorando para onde
está o problema.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Operação twist!


O Banco Central tem
poder de fogo e muita
munição para gastar

l Alternativas

Auxílio faz circulação de cédulas disparar. Pág. 5}


“Como sair da crise? No
nosso diagnóstico, é o
mesmo instrumento com que
a gente estava trabalhando. É
preciso ainda mais repensar
o uso do recurso público.”

“Não é uma discussão se
vale mais a vida ou a
economia.”
Marcelo Guaranys
SECRETÁRIO EXECUTIVO DO
MINISTÉRIO DA ECONOMIA

DIDA SAMPAIO/ESTADAO-6/5/2019

Planejamento. Guaranys defende ‘racionalidade’ no debate

‘Sabemos que a economia não vai parar’


Secretário defende uma


coordenação conjunta


com Ministério da Saúde


no planejamento da


retomada das atividades


Marcelo Guaranys, secretário executivo do Ministério da Economia

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