O Estado de São Paulo (2020-05-13)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020 Economia B7


dos valores, porém, vieram de três
aportes: CargoX, Petlove e Sanar,
segundo a empresa de inovação

cursos
Instituição oferece
bolsas de estudo
A Digital House, instituição
de educação digital, abriu
inscrições para bolsas de es-
tudo em cursos de desenvol-
vimento web e marketing
digital. São 150 bolsas, sendo
50 delas de 100%. Para parti-
cipar, é preciso ter ensino
médio completo. Inscrições:
https://bit.ly/3fOJjE3

EXPANSÃO
Hotmart compra
mais uma startup
A startup mineira Hotmart,
focada em educação online,
adquiriu a startup Wollo, que
centraliza venda de conteú-
dos – é a terceira aquisição da
mineira em menos de cinco
meses. A principal compra foi
a da americana Teachable,
que marca a entrada da Hot-
mart nos EUA.

Felipe matos


Criada em 2012, fintech


de crédito dá lucro pela


primeira vez, em meio à


crise; para Furio, covid-19


vai acelerar digitalização


Bruno Capelas

Em meio à crise causada pelo co-
ronavírus, a fintech de emprésti-
mos Creditas conseguiu um fei-
to: dar lucro pela primeira vez
desde sua fundação, em 2012.
Mas, para isso, a empresa do es-
panhol Sergio Furio teve de redu-
zir o ritmo de crescimento pela
metade, gastando menos com
marketing, antes que a demanda
por crédito fosse tão grande a
ponto da startup não conseguir
captar recursos no mercado de
capitais. “No fim de março, o
mercado travou e houve muita
incerteza. Decidimos reduzir o
ritmo e acabamos chegando ao
lucro”, conta o executivo.
A capacidade de operar no
azul dá mais tranquilidade para a
Creditas, que tem 1,6 mil funcio-
nários, navegar durante a pande-
mia. Mas, para Furio, ainda é di-
fícil prever o tamanho da crise.
“Nós já vivemos um furacão
(com a chegada do coronavírus) ,
no qual ninguém sabia o que esta-
va acontecendo. Agora é que vai
vir a recessão, as pessoas vão sen-
tir”, afirma o espanhol.
Na entrevista ao Estado , ele
fala sobre como foram os dois
meses com a empresa operando
remotamente e sobre os planos
para o futuro – da Creditas e do
setor. Na visão do executivo, o
isolamento social pode ter o
efeito colateral de acelerar a di-
gitalização do sistema bancá-
rio. “Será uma revolução nos
custos”, diz.

lA Creditas começou a operar
remotamente há dois meses.
Qual o balanço do período?
Colocamos 1,6 mil pessoas em
trabalho remoto em coisa de 24
horas. Ser uma empresa digital
mostra que a gente consegue
trabalhar remotamente. Depois
que conseguimos garantir que
o time estava bem, fomos nos
preocupar com a nossa carteira
de crédito. Remanejamos a
equipe para dobrar o time de
gestão de clientes – eram 60
pessoas, agora são 120. Cuidar
dos clientes é o nosso pão de ca-
da dia, porque o modelo só fun-
ciona se temos uma receita re-
corrente. E as nossas métricas
de inadimplência não tiveram
aumento significativo, ficaram
abaixo da média do mercado.

lQual foi o maior problema en-
frentado nesse período?
Foi o mercado de capitais. Nos-
so jeito de trabalhar é que a gen-
te faz a originação do crédito e
securitiza, isto é, vai captar no
mercado. E, na segunda quinze-
na de março, o mercado de capi-
tais travou. Foi um momento de

incerteza, mas conseguimos na-
vegar isso: desde o começo da
pandemia, conseguimos garan-
tir R$ 200 milhões no mercado.
A gente já tinha assegurado R$
350 milhões em fevereiro. Esta-
mos mais tranquilos. Por caute-
la, reduzimos o ritmo de cresci-
mento. Antes do coronavírus,
crescíamos entre 8% a 10% ao
mês. Em abril e maio, devemos
crescer entre 4% e 5% ao mês.
Nós reduzimos o investimento
em marketing para conseguir re-
duzir o crescimento da carteira,
porque havia essa dúvida sobre
como a gente ia captar recursos.
Mas, mesmo com me-

nos marketing, ainda houve mui-
ta procura por empréstimos. No
fim das contas, o volume de pe-
didos caiu bem menos, em ter-
mos porcentuais, que o corte de
gastos que fizemos em marke-
ting. E o resultado é que, pela pri-
meira vez em oito anos de em-
presa, estamos dando lucro, por
conta dessa redução dos investi-
mentos. Assim, conseguimos fa-
zer caixa mesmo sem crescer,
por conta da receita recorrente.

lÉ uma surpresa. Num momen-
to de crise, espera-se que haja
alta nos empréstimos.
Queríamos crescer mais, mas

não havia como. Se emprestás-
semos usando o caixa da empre-
sa, o risco seria muito maior.
Agora, o mercado de capitais es-
tá mais tranquilo. Mas não o res-
to do mundo. Nós já vivemos
um furacão, no qual ninguém sa-
bia o que estava acontecendo.
Agora é que vai vir a recessão,
agora é que as pessoas vão sen-
tir a crise. Tem muito perigo,
mas já estamos mais estáveis.

lHouve pedidos de renegociação?
Quando o Banco Central publi-
cou sobre prolongamento dos
empréstimos, ficamos preocu-
pados – afinal, quem investiu

no crédito também precisa do
dinheiro de volta. Mas acredito
que as coisas estão bem: menos
de 8% dos empréstimos que te-
mos tiveram pedidos de renego-
ciação. E mostramos para os
usuários que a renegociação só
deve acontecer se ele realmente
precisar. Porque renegociar é
aumentar o prazo ou o valor
dos juros, e isso deixa tudo
mais caro. Acabamos tendo ape-
nas cerca de 3% dos emprésti-
mos renegociados.

lFoi necessário demitir?
Decidimos que não. A vida con-
tinua normal, na medida do
possível, para nós. Mas fize-
mos demissões pontuais – na
área de eventos, por exemplo.
E fizemos demissões por per-
formance, que são algo normal
na empresa, considerando o
modelo de crescimento rápido
e a busca por resultados. Esta-
mos segurando contratações e
não vamos ter mais demissões.
Acredito que nosso modelo de
crédito, com garantias, vai ter
muito mais força no mundo
pós-covid-19, porque o risco
de outros modelos será maior.

lEm fevereiro, a Creditas lançou
uma loja com crédito consignado.
Na época, o sr. falou de vários
planos para o futuro. Como a pan-
demia mudou os planos?
Muda muito pouco. Até o fim
do mês, vamos passar a vender
todos os produtos da Apple pe-
la Creditas Store. Antes, era só
o iPhone. Além disso, nossa
área de reformas vai bem – co-
mo as pessoas estão em casa,
elas querem reformas para mo-
rar melhor. Na semana passa-
da, lançamos um piloto inter-
no de compra e venda de car-
ros com crédito com garantia.
Até o fim do mês, queremos
lançar para o público em geral.
E estamos nos preparando pa-
ra fazer os primeiros emprésti-
mos no México, o problema é
que os cartórios não estão fun-
cionando por lá. E como esta-
mos gerando caixa, não precisa-
mos captar dinheiro, podemos
decidir quando vamos fazer
uma nova rodada de captação.
Acredito que a redução de cres-
cimento que tivemos foi tem-
porária: já estamos trabalhan-
do para voltar a crescer em tor-
no de 8% em junho.

lE como o sr. vê o setor de finte-
chs, em meio a essa crise?
As fintechs ainda são um porcen-
tual do setor bancário. Mas cutu-
camos os bancos para a digitali-
zação. O coronavírus é um hor-
ror. Mas ele traz uma digitaliza-
ção acelerada do mundo. Imagi-
no que, num futuro próximo, os
bancos vão acelerar o processo
de fechamento de agências, o
que será uma revolução nos cus-
tos para clientes e na redução
dos juros. Num futuro distante,
creio que acabará a dicotomia
entre fintechs e bancos. As finte-
chs são reguladas, têm licença, al-
gumas são até maiores que os
bancos. Em dez anos, os dois
vão convergir: a fintech vai ser
mais “banco” e o banco, mais fin-
tech. Isso vai trazer mais concor-
rência e será bom para todos.

TABA BENEDICTO / ESTADÃO

1,6 mil


N


a quarentena, em uma das inúmeras video-
conferências diárias que fiz, conversei com
um amigo, empresário e publicitário. Ele
dizia que a produtividade de sua agência havia subi-
do na pandemia. Confessou que até praticava um
pouco de home office antes da crise, mas de forma
tímida, pois tinha muitos preconceitos com o mo-
delo. Talvez a necessidade de controle o fazia resis-
tir a uma adoção mais radical do modelo remoto,
agora forçado pela quarentena. Para sua surpresa,
a equipe vem rendendo mais. “Quando a crise pas-

sar, não vamos voltar para o escritório”, dizia ele,
falando das vantagens de custo, do aumento da
qualidade de vida e da flexibilidade. “Tenho óti-
mos profissionais com familiares no exterior, ago-
ra eles poderão trabalhar de lá”, comemorava.
No dia seguinte, foi a vez da escola do meu filho
de 7 anos inaugurar a sala de aula virtual. Pais aflitos
no grupo do WhatsApp se perguntavam como tudo
ia acontecer. Muitos fariam uma videoconferência
com múltiplos participantes pela primeira vez na
vida e tentavam se familiarizar com as ferramentas.
Ali eu notei a profundidade do momento. Uma
adoção em massa de tecnologia, sem precedentes.
Crises como essa têm um poder enorme de modifi-
car hábitos e criar novos formatos de vida em socie-
dade. O modelo dos escritórios compartilhados,
por exemplo, surgiu como resposta à crise de 2008,

quando empresas buscavam novos formatos para
economizar custos. Desta vez, a pandemia do coro-
navírus está antecipando em vários anos muitas
tendências sobre o futuro do trabalho.
Quando tudo passar, o “novo normal” deverá assi-
milar o trabalho remoto no dia a dia dos profissio-
nais em escritórios. Estar presente passará a ser
uma opção, não obrigação. As pessoas poderão tra-
balhar não só de casa, mas também de escritórios
descentralizados perto de casa, com mais estrutura
e mais conveniência. Empresas, como a agência de
publicidade do meu amigo, poderão assinar servi-
ços de coworking distribuídos pelo mundo. Se por
um lado, escritórios compartilhados agora sofrem
com a falta de demanda durante o isolamento so-
cial, acredito que no futuro próximo voltarão mais
fortes, com esse movimento de descentralização.

Já na educação, as escolas têm sido forçadas a
incorporarem o digital na marra. Alguns impactos
devem permanecer após a crise. Ferramentas de
comunicação digital entre aluno, pais e escola,
conteúdo digital para aprendizagem e reforço es-
colar e até encontros virtuais podem permanecer.
O futuro do trabalho foi antecipado em cinco
anos pela pandemia. Para as startups e empresas de
tecnologia que vêm criando soluções para esse futu-
ro, o cenário é positivo. O momento é de entender
transformações e se preparar para um novo normal
onde nosso trabalho será ainda mais digitalizado.

]
ESPECIALISTA EM EMPREENDEDORISMO E TECNOLOGIA,
JÁ APOIOU MAIS DE 10 MIL STARTUPS NO BRASIL E É
SÓCIO DA 10K.DIGITAL

[email protected]

US$ 144 mi


foram captados por startups
brasileiras em abril, segundo
estudo da Distrito

97%


funcionários tem a Creditas, divi-
didos entre São Paulo, Porto Ale-
gre, Cidade do México e Valência;
empresa freou contratações em
março, por conta da pandemia

foi o crescimento médio da
carteira de crédito da Creditas
em março e abril; antes da
pandemia, empresa crescia 8%

ENTREVISTA


MOMENTO


‘Já vivemos um furacão. Agora, vem a recessão’


O novo normal no


mundo do trabalho


4%


Cautela.
Furio, da
Creditas,
cortou
gasto com
marketing
na crise

Sergio Furio,
presidente executivo da Creditas


HOTMART
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