O Estado de São Paulo (2020-05-13)

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H2 Especial QUARTA-FEIRA, 13 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


Mariane Morisawa
ESPECIAL PARA O ESTADO
LOS ANGELES


O Emmy e o Globo de Ouro, se e
quando acontecerem, já têm
um candidato certo a melhor
ator. Em I Know This Much Is
True
, minissérie em seis episó-
dios em cartaz na HBO, Mark
Ruffalo se entrega totalmente
num projeto que é o sonho de
todo ator: interpretar gêmeos,
um deles esquizofrênico. Domi-
nick, que abandonou a carreira
como professor depois de viver
uma tragédia pessoal, narra sua
conturbada relação com Tho-
mas, que já no início da série cor-
ta sua mão como sacrifício. “A
vida é curta, e acho importante
você se desafiar e se despedaçar
mesmo”, disse Ruffalo, de 52
anos, em painel durante evento
da Associação de Críticos de Te-
levisão, em Pasadena, Califór-
nia. “Quero ser um artista que
não pode ser rotulado, que sur-
preende as pessoas e a mim mes-
mo. E que às vezes erra, às vezes
acerta. E falar de coisas que são
importantes para mim. Quero
continuar me de-
safiando para
não morrer.”
I Know This Mu-
ch Is True
, que é
baseado em Eu
Conheço a Verda-
de
, escrito por
Wally Lamb e lan-
çado no Brasil pela editora Re-
cord, é seu primeiro grande proje-
to como produtor. Ele escalou o
diretor Derek Cianfrance ( Namo-
rados para Sempre
, O Lugar Onde
Tudo Termina
), que costuma fa-
zer longas sobre homens da clas-
se operária com dificuldades de
lidar com as emoções, bem pare-
cidos com Dominick, para dirigir
todos os seis episódios como se
fosse um filme de seis horas. “Foi
ele que me escolheu, não o con-


trário”, contou Cianfrance.
“Nem precisei ler o livro porque
queria trabalhar com Mark. É um
privilégio trabalhar com alguém
tão talentoso, mas também uma
alma boa e admirável.”
Usar o mesmo ator para inter-
pretar gêmeos
normalmente en-
volve vários tru-
ques técnicos – e
Ruffalo, que fez o
Hulk em sete pro-
duções da Mar-
vel, sabe bem o
que é lidar com te-
las verdes e que tais. Mas tanto o
ator quanto o diretor queriam
usar o mínimo necessário. Além
disso, Dominick e Thomas po-
dem ter nascido idênticos, mas
depois de 40 anos de vidas bem
diferentes, eles não podiam ser
iguais. “Seus corpos, suas fisica-
lidades, suas almas expressam
isso”, disse Cianfrance. Então,
pelas primeiras 15 semanas de
filmagem, Mark Ruffalo foi ape-
nas Dominick. Nesse período,

Thomas foi interpretado pelo
ator Gabe Fazio, um amigo do
diretor, para que Ruffalo pudes-
se contracenar com alguém,
que depois seria substituído na
edição pelo próprio Ruffalo fa-
zendo o outro personagem.
Depois do período sendo Do-

minick, Ruffalo tirou cinco se-
manas de folga do set, enquan-
to a produção aproveitava para
rodar as cenas dos gêmeos quan-
do crianças e quando jovens. O
ator então engordou cerca de 14
quilos para viver Thomas. “Ele
usa muita medicação que faz in-

char”, explicou Ruffalo. “E suas
experiências de vida depois da
adolescência são tão diferentes
que era importante que os dois
fossem duas pessoas completa-
mente separadas. Eu não estava
tentando fazer Thomas ser dife-
rente de Dominick, mas cons-

truindo um personagem novo,
com uma realidade própria.”
Nessas cenas, Fazio interpreta-
va Dominick.
Ganhar peso para interpretar
Thomas não foi tão fácil quanto
Mark Ruffalo imaginava. “Fo-
ram cinco semanas bem solitá-
rias”, lembrou. Verdade que ele
voltou a ver sua família depois
de um tempo afastado filman-
do as cenas como Dominick,
mas depois resolveu ficar sozi-
nho. “Thomas ouve vozes em
sua cabeça. Queria mergulhar
em sua doença mental, enten-
dê-la e tratá-la com o maior res-
peito”, explicou Ruffalo. “No
fim, cheguei à conclusão de que
Thomas é mais livre que Domi-
nick em diversos aspectos. Ele
não tem as expectativas e res-
ponsabilidades do irmão. Tho-
mas é capaz de se expressar, es-
tá menos preso às ideias de mas-
culinidade, dominação e contro-
le. Dominick foi criado numa fa-
mília italiana, em que aprendeu
a ser forte, talvez até um pouco
cruel, com alguns conflitos re-
solvidos na base da violência.
Thomas era mais feminino, sen-
sível, aberto e vulnerável.”
Como Dominick e Thomas,
Mark Ruffalo também cresceu
numa família da classe operária


  • o pai herdou o negócio da famí-
    lia, de construção e pintura, e a
    mãe era cabeleireira. O sobreno-
    me não nega que ele vem de fa-
    mília italiana. Como na minis-
    série, não faltaram tragédias
    em sua vida, de um aneurisma
    cerebral ao assassinato de
    Scott, seu irmão quase gêmeo –
    os dois tinham pouco mais de
    um ano de diferença – em 2008,
    um caso nunca resolvido pela
    polícia. “Eu sou o tipo de ator
    que se inspira nas próprias expe-
    riências, e tenho muitas”, afir-
    mou. “Meu irmão sempre vai
    ser parte disso. Quem tem ir-
    mãos sabe como a relação é
    complicada, profunda, podero-
    sa. Scott está nesse trabalho e
    em tudo o que faço de uma ma-
    neira ou de outra.”


DIRETO DA FONTE


Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

COVID-19

Caderno 2


Em alerta


Se o foco do editorial da The Lan-
cet foi bater em Bolsonaro ,
Cláudio Lottenberg , do Insti-
tuto Coalizão Saúde e do Eins-
tein, destaca outro ponto levan-
tado pela revista britânica: “Há
sinais de que a covid-19 está se
deslocando para o interior dos
estados, para cidades menores,
sem condições de atendimento
adequado”, ressalta o médico.

Para Lottenberg, os governos
precisam “urgentemente elabo-
rar um plano para conter esse
deslocamento. Caso contrário,
o cenário pode ser muito pior
do que se anuncia”.

Sem parar


A Prodesp, empresa de Tecnolo-
gia do Governo de SP, já contabi-
lizou uma média de... dez mil
videoconferências por semana.

Boa notícia


Indústria automobilística se
arrastando – ela teve, em
abril, a maior queda da sua
história no País desde a im-
plantação em 1957 – como é
que o setor do aço está reagin-
do à pandemia?

A coluna procurou o presiden-
te do conselho de administra-
ção do Grupo Gerdau, Jorge
Gerdau. “As vendas no Brasil
melhoraram por causa do se-
tor de construção e nossas
fábricas no exterior, que re-
presentam 50% do grupo, es-
tão trabalhando com 85% de
ocupação”, informou o em-
presário. A Gerdau, a exem-
plo de outras empresas do
aço, reduziu sua produção na-
cional em abril.

Com a experiência de quem
começou a trabalhar com 14
anos, durante as férias escola-
res – no chão da fábrica de
pregos da família –, o tam-
bém membro do Instituto do
Aço não se arrisca a fazer pre-
visões neste clima de pande-
mia geral, tanto na saúde e
na financeira. “Não dá, nun-
ca vivemos nada parecido”.

Estamos em plena guerra
mundial onde o inimigo é in-
visível? “Espero que não”,
diz Gerdau, que aos 83 anos
continua montando cavalo
e praticando salto – em Por-
to Alegre, onde cumpre sua
quarentena...

‘AGORA PODEREMOS


AJUDAR AS PESSOAS’


Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

André Ligeiro acompanhou
dia a dia o julgamento do
STF que derrubou a norma
que restringia a doação de
sangue por homossexuais. A
votação virtual começou no
dia 1º de maio e se estendeu
até o dia 8. O fotógrafo tem
especial interesse na ques-
tão: curado da covid-19, ele
tentou, no início de abril,
doar seu plasma para a pes-
quisa de tratamento do ví-
rus. Mas foi proibido de fa-
zer a doação por ser gay.

“Fiquei muito feliz. Agora
poderemos ajudar as pes-

soas como qualquer heterosse-
xual pode”, diz ele, que após a
negativa, chamou a atenção
para a questão em suas
redes sociais. “Tanta
gente não sabia dessa
proibição. Cada mobi-
lização ajuda e espero
ter contribuído de algu-
ma forma na decisão”.

A norma foi consi-
derada inconsti-
tucional por um
placar de 7 x 4
votos. Argumen-
tos como “discri-
minação injustifi-

cável e inconstitucional” e
“não atendimento ao prin-
cípio constitucional da pro-
porcionalidade” foram usa-
dos pela maioria dos ma-
gistrados do Supremo.

Ligeiro espera agora que a
nova regra seja implantada
antes de tentar novamente.
Para doar o plasma em tes-
tes de novos tratamento
do coronavírus, é necessá-
rio que a pessoa faça a
coleta uma vez por se-
mana pelo período
de um mês. “É
um compro-
misso traba-
lhoso, mas
farei com
prazer”.
/MARCELA
PAES

lNem tudo é covid-19. A TUC-
CA recebeu R$300 mil do Ban-
co Safra para campanha O cân-
cer não espera. Com isso, preten-
de incentivar outras ajudas e
manter a assistência que a insti-
tuição beneficente tem com o
Hospital Santa Marcelina. O
Safra já doou R$ 20 milhões ao
combate do coronavírus.

lO @comidaparatodos, proje-
to do chef Augusto Pinto, distri-
bui todos os dias 300 marmitas
para a população de rua.

lA Michelin aderiu ao movi-
mento Não Demita. Doa 160 mil
máscaras mais pneus para a
Fundação Nacional de Saúde
no Rio, no Espírito Santo, na
Bahia e no Amazonas.

POLAROID


IRMÃOS


RESPONSABILIDADE
SOCIAL

MARK VIVE HOMEM
ESQUIZOFRÊNICO E
SEU IRMÃO
AGRESSIVO

Marina Lima está tentando ver o lado bom da
quarentena – ela se refugia no seu apartamento em
Higienópolis. “Para uma introspecção este período
está sendo positivo, para todos os outros momentos,
não. Mas estou aproveitando pra estudar. Fazia muito
tempo que eu não tinha tanto tempo para tanto e
também para criar. Sim, estou aproveitando muito”.

Ator é forte candidato a prêmios por sua interpretação


na minissérie da HBO ‘I Know This Much Is True’


MONICA ALVES/LIDE

GÊMEOS SÃO O DESAFIO


DE MARK RUFFALO


SILVANA GARZARO/ESTADÃO

HBO

ALEXANDRE VIRGÍLIO
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