Nossa concepção de mente nunca
mais foi a mesma depois de
Freud. Ficou repartida entre
inconsciente e consciente, e
povoada de desejos proibidos.
“He kept us out of war!”. Esse slogan
- “Ele nos manteve fora da guerra” – fun-
cionou que foi uma beleza na campanha de
reeleição do presidente Woodrow Wilson
em 1916, garantindo aos Democratas mais
quatro anos na Casa Branca. O sucesso da
plataforma pacifista era uma confirmação:
o povo americano não queria se meter no
imbróglio da Primeira Guerra Mundial, lá do
outro lado do Atlântico. Enquanto a carnifi-
cina traumatizava a Europa, os Estados Uni-
dos adotavam uma posição de neutralidade
pragmática: não disparavam nem recebiam
um tiro sequer, mas turbinavam a própria
economia com as oportunidades comerciais
abertas pelo conflito. Afinal, a Tríplice En-
tente – aliança militar entre França, Reino
Unido e Império Russo – tinha urgência de
mais armas e alimentos.
Basta lembrar que o combate tinha co-
meçado em 1914 para ver que esse arran-
jo ideal – paz na sua terra e lucro com a
guerra – durou bastante. Pelo menos até
um ponto em que não deu mais pé. Em
1917, os EUA se viram obrigados a mudar
de estratégia, fazendo sua primeira entra-
da tardia e salvadora num conflito inter-
nacional do século 20. Mas quais os mo-
tivos dessa mudança de planos?
Primeiro porque a tal neutralidade era es-
palhafatosamente da boca para fora: o país
enviava recursos e fazia empréstimos finan-
ceiros só para um dos lados da contenda – o
que, claro, não deixava alemães e austríacos,
o outro lado, exatamente felizes com os ame-
ricanos. Além disso, os EUA também come-
çaram a desconfiar que seus clientes pode-
riam acabar perdendo a guerra, e isso talvez
levasse a uma situação que, aos olhos do
capitalismo, é pior que a morte: a malfadada
inadimplência. Quem pagaria pelos capace-
tes, canhões, roupas e toda a comida que o
país vinha exportando, se tudo nesses países
virasse terra arrasada?
Mas a gota d’água só pingou quando a Ale-
manha achou por bem autorizar seus sub-
marinos a violar leis de não agressão marí-
tima, afundando navios americanos em águas
internacionais.
Motivo para partir para a briga não faltava.
O que faltava mesmo era combinar com os
pais dos soldados americanos. Se Wilson
tinha sido reeleito garantindo que não man-
daria seus jovens para a matança na Europa,
como convencer a população de que ir à
guerra tinha propósitos mais valiosos que
qualquer promessa de campanha?
Então, para passar uma borracha no que
foi dito e mexer com a cabeça da sociedade,
a administração federal se empenhou em
criar a maior máquina de propaganda polí-
tica já vista no planeta – um bombardeio
agressivo de mensagens, diretas e sublimi-
nares, em favor da guerra, louvando os ide-
ais de patriotismo, democracia e liberdade.
Daí nasceram incontáveis filmes, livros,
pôsteres e folhetos, além de anúncios e ar-
tigos publicados nos principais jornais do
país. Nesse esforço de convencer a opinião
pública, o governo ainda recrutou celebri-
dades, pastores e professores para advogar
pela causa, patrocinando palestras e debates.
Com isso tudo, o governo ganhou com
folga a guerra dentro de casa. O povo foi
convencido, e 4 milhões de militares foram
mobilizados – desses, 116 mil não volta-
riam vivos.
O resultado, você sabe: com a ajuda fun-
damental dos americanos, a Tríplice Enten-
te venceu a guerra em 1918, e os alemães
tiveram de engolir as restrições impostas
pelo Tratado de Versalhes. No ano seguinte,
H
imagem: Getty Images DOSSIÊ SUPER 9
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