National Geographic - Portugal – Edição 217 (2019-04)

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NUMA MADRUGADAFRIAdeJunho,deipormimno meio


da escuridãojuntodamargemocidentaldorioSumida, em


Tóquio, olhandoosturistasquevestiamcoletesgarridos.


Era comoseaquelassetentapessoasoriundasdaÁfrica do


Sul, da China,daMalásia,deEspanhae daRússia,tiritando


de frio, tivessem feito longas viagens para correrem atrás


de bolas na frente ribeirinha da cidade. ¶ Faltavam uma ou


duas horas para a alvorada e, na verdade, estávamos a ves-


tir-nos para uma visita ao Tsukiji Shijo, então o maior mer-


cado de peixe do mundo. Tsukiji era um labirinto de


armazéns, congeladores, áreas de carga, pontos de leilão e


bancas de venda. Alimentava a cidade há quase um século


e tornara-se, para grande tristeza de alguns dos seus traba-


lhadores, uma atracção turística, divulgada em numerosos


artigos e programas de culinária de todo o mundo. ¶


Quando o visitei, no ano passado, o mercado histórico


estava prestes a fechar portas. As bancas arejadas e o solo


pedregoso e rachado atraíam os turistas, em busca de


autenticidade. Porém, na hipermoderna Tóquio, o vintage


tende a ser considerado uma parte insalubre do passado


desregrado. Estava previsto o encerramento de Tsukiji no


Outono e a transferência dos vendedores do centro da


cidade para novas e desinteressantes infra-estruturas a


sudeste. ¶ Fizemos fila para entrar. Escamas de peixe relu-


ziam em poças aos nossos pés e o ar cheirava a óleo e a


maré baixa. Empilhadoras e carros de gelo ruidosos movi-


mentavam-se em todas as direcções, como aves em pânico.

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