Valor Econômico (2020-05-14)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 6 da edição"14/05/20201a CADB" ---- Impressa por CGBarbosaàs 13/05/2020@21:00:50


B6| Valor|Quinta-feira, 14 de maiode 2020

Empresas|Indústria


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


ConstruçãoIncorporadorasetornamaisproativana


buscadeclienteseantecipamudançasnocanaldigital


RNI eleva vendas

em abril, apesar da

piora do cenário

Bianconicontaquea RNIprepara lançamento dedoisprojetos doMinhaCasa,MinhaVidapara iníciodo2ºsemestre

CLAUDIO BELLI/VALOR

Chiara Quintão
De São Paulo

As vendasde imóveisda RNI
Negócios Imobiliários realizadas
em abril superaramas do mes-
mo mês do ano passadoe a mé-
dia mensal de janeiroamarço.
Segundo o presidenteda com-
panhia,CarlosBianconi, desdea
proibição do funcionamento
dos estandes de comercializa-
ção, devidoà pandemiade co-
vid-19, aincorporadora passou
a ser maisproativana buscade
clienteseantecipou alterações
no seu canaldigitalque,sem a
mudança do cenário,seriam
adotadasno prazode dois anos
a até cinco anos.
Das vendas registradas em
abril, apenas25% se referem a
migraçãode tratativasfeitaspes-
soalmentepara o canalonline.A
maioriafoi originadano próprio
mês,ouseja,virtualmente.
Em funçãodo desempenhode
vendas,aRNI avalia a possibili-
dadede realizardois empreendi-
mentosdo programahabitacio-
nal MinhaCasa,MinhaVida—
um em São Paulo e outroem
Goiânia —, comValor Geralde
Vendas(VGV)que somaR$ 150
milhões,edeu inícioà pré-venda
dos projetosnestasemana. Bian-
coni contaque, considerando-se
oprazo“pr udente”de90diaspa-
ra pré-venda e caso não haja de-
terioração do mercado, os pro-
dutospodemserlançadosnoiní-
cio do segundo semestre.“Ainda

O estranho novo normal na reabertura da Renault


Veículos


DavidKeohanee PeterCampbell
FinancialTimes,de Paris e Londres

Pouco antesdo nascerdo sol,
funcionáriosda Renaultfaziam
fila diantede câmerastermográ-
ficasem umafábricailuminada
por todoos lados,que estava há
semanaspraticamentesem pro-
duzircarros.
A aberturagradualnas últi-
mas duassemanas da fábricada
montadora francesa em Flins,
cercade 40 quilômetrosa no-
roestede Paris, trouxeum misto
de ansiedade ealívioparaseus
2,75mil funcionários,alémde
uma montanha de perguntas
impossíveisde responder.
“A forma como precisamos
trabalharagora...está realmente
difícil”, dissePatrickGourdeau,
que monitoraos robôsencarre-
gadosda pinturados carrose
trabalhaem Flinsdesde1980.“É
um poucodeprimente,mas va-
mosnos acostumar”, acrescen-
tou, sorrindo pesarosamente
atrásde sua máscarae apontan-
do para os óculosembaçados.
Ofuncionáriode 59 anosrefe-

re-seàs medidasadotadaspela
Renault paratornarafábrica
maisseguraparaos trabalhado-
res, que viramo coronavírusjo-
gar a indústriaautomotivana
pior crise em décadas.As vendas
caíram80% na EuropaOcidental
em abril,compraticamentene-
nhumcarrosendovendidono
ReinoUnido,EspanhaeItália.
Em Flins, aRenaultgastou
€800 mil em medidas comoa
compra de máscaras, quesão
entreguesa cadaquatrohoras,
gel desinfetanteecontrolesde
temperatura. Opessoaltambém
foi treinado em protocolosque
estãose tornandocomunsem
locais de trabalho dentrodos es-
forçosdos governospara tentar
descongelar as economias.
Onovo normaltambém pare-
ce diferenteem Flins:bancosno
gramado estãoisoladospor fitas;
mesasde almoçoestãodivididas
por vidrosprotetores;marcado-
res de distanciamentosocial es-
tendem-sepelo chãoentreesta-
ções de lavagemdas mãos;e to-
dosusammáscaraseluvas.
Assimcomono caso de qual-
querempregador, osucessoda
reaberturagradual da Renault

dependede os funcionáriosse
sentirem seguros. Enquanto
chegavam ao trabalhona sema-
na passada, agama de emoções
ia do nervosismoao júbilo.
“É um poucomaistenso. As
pessoasestãoassustadas”, disse
SabrinaMahamady, que ajuda
no controle de qualidade na li-
nha de produção.Mas “precisa-
mosnosacostumaraisso”.
Anne-Laure Dupontsorriaao
entrar.“Fiqueiconfinadaemcasa
sozinhapor doismeses,estou
adorandovoltaraotrabalho.”
Nemtodosvoltarama traba-
lhar. Apenasmetadeda forçade
trabalhode Flins voltoueafá-
brica estáproduzindo metade
dos 750 carros semanais que
produziaantesdo vírus.
“Mesmose continuarmos au-
mentandoo ritmode produção,
não vamosvoltar à capacidade
plenasem uma vacina”, disse
Jean-LucMabire,que administra
a unidade em Flins.
É um pontode vista comparti-
lhadopor diversas empresas, da
Volkswagen àBMW, que, além da
tarefa de tranquilizar opessoal,
também se deparamcom odesa-
fio de persuadiros consumidores,

frequentemente paralisados dian-
te da decisão de fazer grandes
compras, comoa de um carro.
Jose Vicente de los Mozos, che-
feglobaldeproduçãonaRenault,
queestavaemFlinsparaareaber-
tura, disseque as medidas de se-
gurançainstaladaspela empresa
em suasfábricas aumentarãoo
custodoscarrosentre€11e€40.
Oexecutivoinsiste,no entan-
to, que mesmoareabertura par-
cial da fábrica,que data de 1952,
é consideradoum marco.
A empresa,que tem aNissane
o Estadofrancêscomoseus dois
principaisacionistas,optoupor
fecharsuasfábricasno mês de
março, quandoo vírusse disse-
minava pelopaís e ademanda
por seus carrosse evaporava.
“Nãoestamos voltandocom
velocidade máxima, mas está
OK”, disseDe los Mozos.“O mais
importanteem temposcomoes-
tes é que as pessoasestejamde
acordo em voltaretrabalharem
uma fábricade carros”, afirmou.
Os volumesde produçãoem
suas12 fábricasna França,que
juntasempregamcercade18mil
pessoas, estãoem cercade 25%
dosníveispré-coronavírus.

estamosmedindoa temperatura
domercado”, dizoexecutivo.
ARNItinhaumprojetodecon-
domíniohorizontal de casasvol-
tado para a classemédiaque dei-
xou de consideraraapresenta-
ção,nocurto prazo,por contada
pandemia.“O Minha Casa,Mi-
nha Vidaé maisresiliente,devi-
do aos incentivosdo governoe
ao déficithabitacional”, afirma
Bianconi, acrescentando que
tambémexistedéficitde mora-
dias no segmento econômico,
mas que a buscapor unidades
dessa faixa “não é tão forte”
quantopelasdoprograma.

MouraDubeuxlançarámenosem 2019


De São Paulo

AMouraDubeuxvailançar,nes-
te ano, Valor Geral de Vendas
(VGV) entre R$ 400 milhões e
R$ 450 milhões, oque representa,
no máximo, metadedos R$ 900
milhões previstosantes do início
da pandemiade covid-19. Aredu-
ção resulta das proibições de fun-
cionamentodeestandesdevendas
e da implantação de “lockdown”
em Recife e Fortaleza e de “lock-
down”setorial em Salvador, de
acordo com o presidente da com-
panhia,DiegoVillar.
As vendasde imóveisda Mou-
ra Dubeuxcaíram52% desdeo
começodapandemia.
Compresença em Recife,For-
taleza,Maceió,SalvadoreNatal,a
Moura Dubeuxatua em incorpo-
raçãoimobiliáriae na adminis-
traçãode obrasecondomínios.
Havia previsãode começar,em

abril,a apresentaçãodos proje-
tos desteano, mas a mudançado
cenário levou acompanhia a
postergar para osegundosemes-
treoiníciodoslançamentos.
Aindaassim, oexecutivo espera
que a MouraDubeux ganhe parti-
cipação de mercado, nas praças
ondeatua,considerando que as-
sim como já ocorreu,emoutras
crises, “maisalguémpoderá ficar
pelo caminho”. Villar ressaltaque
a companhia tem baixo endivida-
mento—nofimdemarço, adívida
líquidaeradeR$110,7milhões.
No primeirotrimestre,o ban-
co de terrenoscorrespondiaao
VGV potencialde R$ 4,3 bilhões.
Doisterrenosforamcomprados
desdeoiníciodacrise.
No fim de março, por decretos
governamentais, foramsuspen-
sas atividadesde construçãocivil
em Pernambucoeno Ceará.Sem
avançode obras,a MouraDu-

beuxnão podecontabilizar are-
ceitacorrespondenteàs vendas
queforemrealizadasnessesmer-
cados.Em Alagoas, na Bahiaeno
Rio Grandedo Norte,as ativida-
desprosseguemnormalmente.
No primeiro trimestre, a Moura
Dubeux registrouprejuízo líquido
atribuído aos sócios da empresa
controladorade R$ 32,3 milhões,
ante olucro líquido de R$ 8,6 mi-
lhõesdomesmo períodooano
passado. A receita líquida caiu
60,4%,paraR$66,3milhões.
Amargembruta foi reduzida de
45,8%no primeiro trimestrede
2019 para 18,1% de janeiro amar-
ço, quandonão foram lançados
produtos, e oindicador foi com-
posto só por unidades das safras
antigas,comrentabilidademenor.
Já as despesasfinanceiras líqui-
das foramreduzidas em 50,6%,pa-
ra R$ 27,4 milhões. Aempresa
abriucapitalemfevereiro(CQ)

não tinhaapresentadoprojetos
ao mercado. Lançamentos pre-
vistosparamarçoforamposter-
gados, em decorrênciados im-
pactoseconômicos da dissemi-
naçãodo coronavírus.As vendas
caíram20%,no trimestre, para
R$ 59 milhões.Commenosven-
das, a receitalíquidateve queda
de29%,paraR$55,8milhões.
Mesmocoma diminuiçãoda
receita, a companhiareduziuseu
prejuízolíquidoem 25%,para
R$ 7,4 milhões.Isso foi possível
graçasao crescimentoda mar-
gem brutade 13,5%,no primeiro
trimestredo ano passado, para
19,4%,de janeiroamarço. Amar-
gembrutaaapropriaraumentou
de 18,8%para24,8%.De acordo
com o executivo, a RNI encerrou
um ciclode margensapertadase
está começandoum novomo-
mento, com patamarde rentabi-
lidademaiselevado.
Oresultadofinanceiropassou
de R$ 2,1 milhõesnegativospara
R$6,8milhõespositivos.
No primeirotrimestre,a RNI
consumiu caixade R$ 51 mi-
lhões, comgastosde produção,
geração de negócioseconstru-
ção de unidades.“Estamos foca-
dos no reequilíbriodo caixano
segundotrimestre”,dizopresi-
dentedacompanhia.
Para reforçarsua liquidez,a
RNI captou,em abril,R$ 50 mi-
lhões juntoao Banco ABC.A
companhiamantémsua estraté-
gia de “monetizaçãode ativos”,
segundo Bianconi.
No fim de março, a alavanca-
gemda companhiamedidapor
dívidalíquidasobrepatrimônio
líquidoera de 56%,acimados
47,3%dofinalde2019.

Dasvendasdeabril,
apenas25%sereferem
a migraçãode
tratativaspessoais
para o canalonline

Em um contextoem que se es-
peraquemaispessoastrabalhem
decasa apósofimdaquarentena
do que antesdoiníciodoconfi-
namento, aRNI está discutindoa
possibilidade de oferecer am-
bientes “mais aconchegantes”
nas áreascomunsdos projetos
do MinhaCasa,MinhaVida. Ain-
tenção, segundo oexecutivo, é
que os moradores tenhammais
espaços de “descompressão” e
não, necessariamente, áreas
compartilhadas de trabalho
(“coworking”).“Nãovamoscolo-
carescritórios,poisissoseriamu-
dar o enclausuramento de lu-
gar”, dizopresidentedaRNI.
Noprimeirotrimestre,aincor-
poradoralançouR$32,9milhões
(parte própria).Um ano antes,

Nemtodosos esforçospara
retomar a produçãofluíram sua-
vemente.Na semanapassada,a
central sindicalCGTobrigoua
Renaulta suspendero trabalho
em sua fábricaem Sanndouville,
perto de Le Havre, nortedo país,
depois de entrarna Justiça argu-
mentandoque não havia sido
consultada apropriadamente
sobre a reabertura.
Flins é apenas uma das dezenas
de fábricas ligando as luzes pela
Europa, comoaunidade principal
da Volkswagen,em Wolfsburg, as
fábricasitalianasdaFiatChrysler,e
adamontadora de luxoBentley,
emCrewe,noReinoUnido.
“Nos primeiros diasserá desa-
fiador paraas pessoas,por causa
do choquede deixar o casulode
proteção onde estavam”, disse
Adrian Hallmark, presidentedo
conselho de administração da
Bentley,nasemanapassada,quan-
doretornavaaotrabalho.
Os funcionários voltando a
Flins pela primeiravez desde
marçodescobriramque o dia de
trabalhofoi transformado em
outrosaspectos.O refeitóriose
tornouvítimadas regrasde dis-
tanciamento social, de forma

que refeições quentes foram
substituídaspor sanduíches.O
número de ônibusdisponíveis
paratransportar opessoalà fá-
bricafoi duplicado, paraimpe-
dir grandeslotações.
Mas isso não impediu aumento
no númerode pessoas optando
por dirigir ao trabalho,segundo
Eric Contoux, do sindicatoForce
Ouvrière, o que levou a congestio-
namentos de 45 minutos para sair
doestacionamentodafábrica.
Seareaberturalentaépartees-
sencialdoplano da Renault para
navegar pela pandemia, ogrupo
também não está medindo esfor-
çosparareduzircustosnaempre-
sa, cujas vendasjá estavamem
queda antes da covid-19.Umaes-
tratégia a ser anunciada neste
mês deverá incluir açõespara
economizar€2bilhões.
Os sériosdesafiosdianteda
Renaultnão eramignoradospor
muitosdos que estavam voltan-
do. “Algumaspessoasestãomui-
to satisfeitasem voltarao traba-
lho”, disseAbdullahDiop, líder
de equipeem Flins,de 42 anos.
“Outras acham que precisam
voltar;é omedo, o medo
do desemprego.”

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