Valor Econômico (2020-05-14)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 2 da edição"14/05/20201a CADC" ---- Impressa por gaveniaàs 13/05/2020@19:59:13


C2|Valor|Quinta-feira, 14 de maiode 2020

Finanças


Juros
DI-Overfuturo- % ao ano
Jan/2 021 Jan/2022

Ibovespa
Índiceem pontos

4/mai
2020

13/mai
2020

22/abr
2020

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22/abr
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Bolsasinternacionais
Variaçõesno dia 13/mai/20- em %

Ibovespa
fecha
pregão com
quedade

-2,17

Fontes:B3 e ValorPRO.Elaboração:Valor Data

Dow
Jones

S&P-
500

Euronext
100

DAX-
30

CAC-
40

Nikkei-
225

Xangai
SE

2,77 2,65
-1,75
-2,13

3,64

78.876

0,22

2,65

3,66 6
3,19

77.772 0,13%
-2,56 -2,85

-0,49

80.687

Dólarcomercial
Cotaçãode venda- R$/US$

em relação
ao real

0,54%


Dólar
comercial
encerra
o dia em
altade

5,4092

5,5208 50

ÍndicesdeaçõesValor/Coppead
Em pontos
CoppeadMV CoppeadIP 20

91.58691.586 11 66

67.093 67.730

95.912

66.6 6 670

92.3 25

5,9007 500

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


MercadosExportadorasajudamIbovespaaterbaixamenosintensaqueseuspares;faladePowellderrubabolsas


Dólar supera os R$ 5,90, em novo recorde


MarceloOsakabe,Marcelle
Gutierrez, AnaCarolinaNeira e
GabrielRoca
De São Paulo

Oambiente político ainda
conturbado, somadoao mau hu-
mor vindodo exteriorcom odis-
cursodo presidente do Federal
Reserve(Fed), JeromePowell,ti-
veram influênciasobreos ativos
brasileiros. O dólaralcançouno-
vas máximashistóricas,enquan-
too Ibovespafechouemleve
queda apósensaiar um movi-
mentoderecuperação.
O dólarfechoua R$ 5,9007, al-
ta de 0,54%.Duranteo dia, a
moeda americanachegoua ser
negociadaR$ 5,9449.
Já o Ibovespa encerrouem leve
queda de 0,13%,aos 77.772 pon-
tos, mas o pregãofoi de volatili-
dade.Damínimaàmáxima,oín-
dice foi dos 77.152 (-0,92%)aos
78.911pontos(1,33%).
Oquemexeucomosmercados

pelomundo,contaminadooBra-
sil, foi o discurso de Powell,que
afastou uma recuperaçãoem“V”
da economia—uma retomada
forteapósquedaacentuada —e
alertouque os efeitos negativos
da pandemiapodemser dura-
douros.Alémdisso,ele afastou a
possibilidadedeadoçãodejuros
negativos nos Estados Unidose
sinalizouque novos estímulos
podemsernecessários.
Em Wall Street,oíndiceDow
Jones recuou 2,17%, aos
23.247,97 pontos, enquantoo
S&P 500 cedeu 1,75%, aos
2.820,00 pontos.ONasdaqper-
deu 1,55%,aos 8.863,17 pontos
No mercado brasileiro,afrus-
tração com Powell acaboudeixan-
do de lado qualquer eventual alí-
vio com a entrega dos laudosdos
examespara covid-19, negativos,
do presidente Jair Bolsonaro e
também do prazo dadopelo mi-
nistrodo Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), Celso de Mello,para PGR,
AGUe a defesa de Sergio Morose
manifestarem sobre o levanta-
mento do sigilo do vídeo da reu-
nião que antecedeu a demissão do
ex-juiz. A defesa de Moroentrou

com pedido no STF para que o ví-
deosejadivulgadonaíntegra.
“Em um momento em queesta-
moslidando comtrês crises ao
mesmotempo, de saúde,econô-
micaepolítica,orealficamaissus-
cetível a mudançasno intraday”,
diz Luciano Rostagno, estrategis-
ta-chefeparaoBrasildoMizuho.
O Bankof America vê “diversas
razões”paraodólarsubiracimade
R$ 6,00no curto prazo,entre elas,
umarecaída do apetite por risco
global,disparada dos casos de co-
vid-19 no Brasil e ruído político. O
bancotambémcortouaprevisão
doProdutoInterno Bruto(PIB) pa-
ra2020,de-3,5%para-7,7%.
Apesardo noticiárionegativo,
o Ibovespadestooudo exterior.
A explicaçãoestá no movimento
técnico de recuperação, após
baixas de 1,49%na segunda-fei-
ra ede 1,51%na terça—epela
alta do dólar,que favoreceuos
papéis das exportadoras.
No pregãode ontem,BRF ON
subiu12,17%,Klabin unitsavan-
çou 7,64%e JBS ON, 6,36%.Vale
ON foi outraexportadora com
ganhosignificativo, de 2,28%, e
depesonoIbovespa,compartici-

paçãode 11,1%.Alémdo benefí-
cio da valorizaçãodo dólar, o
CreditSuissereiterouarecomen-
daçãode “compra” para Vale,
apesarde cortaropreço-alvodos
ADRsdeUS$15paraUS$14.
Além de serem favorecidaspelo
dólar, as exportadoras têm sido as
escolhas dos investidores por esta-
rem expostas ao mercado externo,
enquanto ointerno sofre com os
efeitos da pandemia. OJ.P. Mor-
gan, em relatório sobre estratégia
de investimentos em ações, co-
mentou que Brasil e México são os
países da AméricaLatina que leva-
rão maistempopara normalizar a
atividade econômicaapósapan-
demia. O Chile será o primeiro.
No mercado de jurosda B3, as
taxas subiram em todos os vérti-
ces. No fim da sessão regular, o
contrato de Depósito Interfinan-
ceiro (DI)para 2021 subiu a
2,655%, de 2,61%no ajusteante-
rior; o contrato para janeiro de
2023avançou de 4,73% a 4,90%; e
o DI para janeiro de 2027saiu de
7,79% para7,94%. Assim, a dife-
rençaentreastaxasdeumecinco
anossubiua4,23pontos-base,de
4,08pontosnofimdaterça-feira.

Cotação da moeda


responde mais ao juro,


mostra estudo da FGV


Alex Ribeiro
De São Paulo

O maisrecentecortede juros
feitopeloBancoCentral foi o
principalmotorda fortesubida
do dólar ocorrida na semana
passada, mostramcálculos do
economista LivioRibeiro, do Ins-
titutoBrasileirode Economiada
Fundação Getúlio Vargas
(Ibre/FGV), usandoum modelo
que decompõeos fatoresque
mexemnataxadecâmbio.
Maisdo que isso:na semana
passada,acotaçãodo dólarpas-
sou a respondercom maisforça
do que o habitualàreduçãodos
jurosbásicosda economia.Ou
seja,um mesmocortede juros
passoua produzir umadesvalo-
rizaçãocambialmaior(tecnica-
mente, aumentou a chamada
elasticidade da taxade câmbio
ao diferencial entreos jurosin-
ternoe externo).
Depois da últimareunião do
Copom,odiferencialdejurosres-
pondeu por 76% da alta do dólar,
que passou de R$ 5,58 para
R$5,73entreosdias5e8demaio.
Fatores domésticos deram uma
contribuição de alta de 28%, en-
quantoquefatoresglobaisajuda-
ram aatenuar a disparada do dó-
lar,comumacontribuiçãode4%.
Um eventual aumentoperma-
nenteda sensibilidade da taxade
câmbioàquedadejuroséumadas
preocupações do Comitê de Políti-
ca Monetária (Copom)do Banco
Central,segundoatadasuaúltima
reunião, divulgada na última ter-
ça-feira.Osmembrosdocolegiado
discutiramlimitesdoscortesnata-
xa básicade jurosnesta pandemia,
entre eles eventuaisefeitosda Selic
nospreçosdeativosfinanceiros.
Adiscussãotem repercussões
práticas. Se ocâmbiopassoua
responder de forma crescente
aos cortesde juros,em tese o
Banco Centralpoderálevara in-
flaçãopara a metacom uma que-
damenornametadataxaSelic.
OmodelodoIbre/FGVéapenas
estatístico, por isso nãopermite
tirar conclusões sobre oque teria
mexidocomarespostadataxade
câmbioamudançasdataxadeju-
ros. Os economistas podem ape-
nas apresentar hipóteses sobre
porqueessarelaçãomudou,sede
fato mudou de formapermanen-
te. No caso, o Copomdebate se,
numnívelde jurostão baixoe

com riscos fiscais pronunciados,
o câmbio passaria aresponder
commaisforçaaosjuros.
Ribeiropondera,porém,que
seria prematuro falar,apenas
com basenos dadosda semana
passada,em umamudança per-
manente na sensibilidade da ta-
xa de câmbioà taxa de juros.Se-
ria necessárioobservara intera-
çãodessasvariáveisdurantemais
tempoparachecarse, de fato, a
maiorsensibilidade do câmbio
aos jurosficaránessepatamar
maisaltoouseintensificará.
Ele apresentauma outrahipó-
tese, que acha mais provável.
“Acho que a surpresano cortede
jurospodeter afetadoa elastici-
dade”, afirmaRibeiro.“A aposta
majoritáriado mercadoera uma
baixade jurosde 0,5 pontoper-
centual. OCopomcortou0,75
pontoeindicouque vai cortar
aindamaisem junho.”
Asconclusõessãoimportantes
porque, até agora,omodelodo
Ibre/FGV vinhana contramão do
sensocomumdos mercados. En-
quanto que economistaseope-
radores do mercadodiziamque
os cortesde jurosdo BancoCen-
tral vinhaalimentandoadepre-
ciaçãocambial,o modelo afir-
mava que o papeldo diferencial
de jurosera menor—omais im-
portanteeramfatoresexternose,
emalgunsmomentos,internos.
Do dia 5 de marçoa8de
maio, a cotaçãodo dólarsubiu
de R$ 4,62 para R$ 5,73.Em mar-
ço emaior partede abril,fatores
externos responderam pela
maiorparte da alta do dólar. O
diferencialde jurosexplicaape-
nas algo como15% da alta da co-
taçãodo dólarem março;em
abril,foi uma forçaque agiu pa-
ra atenuara alta do dólar.
A dinâmica,porém,começaa
mudara partirde fins de abril,
quandoo entãoministroda Jus-
tiça, SergioMoro,pediudemis-
são e fatoresdomésticosse colo-
caramcomoumaforçaimpor-
tantena direçãode depreciação
da moeda.De 27 de abrila5de
maio,acotação do dólarcaiu
1,31%.Fora do Brasil,o humor
melhorou,por isso os fatoresex-
ternosderam uma contribuição
de quedade 2% da taxa de câm-
bio. Mas o riscodoméstico atuou
na direçãocontrária,com contri-
buiçãode alta do dólarde 0,44%,
eodiferencialdejuros,de0,31%.

Ribeiro: ainda é prematuro falar em mudança permanentena sensibilidadeao juro

ANAPAULAPAIVA/VALOR

Presidente do Fed diz que novos


estímulos podem ser necessários


James Politi e Colby Smith
FinancialTimes,de Washington e
Nova York

JeromePowell,presidentedo
FederalReserve (Fed), disseon-
tem que “ações adicionais”po-
derãoser necessárias por parte
do bancocentral dos Estados
Unidosedas autoridadesfiscais,
paraevitardanosde longopra-
zo maioresda pandemiade co-
vid-19 à economia.
“Emboraarespostaeconômi-
ca esteja sendooportunaesufi-
cientementegrande,ela poderá
não ser o capítulofinal,uma vez
que ocaminhopela frenteé al-
tamente incertoe sujeitoa riscos
significativos de queda”, disse
ele em discursofeitoparao Pe-
terson Institutefor International
Economics, de Washington.
Powell alertou que“recessões
maisprofundaselongas”tendem
aprovocar “danos duradouros na
capacidade produtiva da econo-
mia”,eque os EUA poderão pas-
sar por “um período prolongado
de baixo crescimento da produti-
vidadeeestagnaçãodarenda”.
“Precisamos fazero que puder-
mos para evitar esses resultados e
isso poderá exigir ações políticas
adicionais.NoFed,continuaremos
a usar plenamentenossas ferra-
mentas até a crisepassar earecu-
peração econômica estiver bem
encaminhada”,afirmouele.
Powell descartou uma mu-
dançaem direçãoàs taxasde ju-
ros negativas,que o presidente
americanoDonaldTrumpmais
umavez exortouoFed aconsi-
derarnumapostagemfeitano
Twitter nestasemana.
Em março, o presidente do
Fedjáhavia descartadoos juros
negativos como“umaresposta
de políticanão apropriada” para
os EUA e reiterouseu ceticismo
ontem—dias depoisde os mer-
cadosteremcontemplado a pos-
sibilidade em seus preços—, ar-
gumentandoque as ferramentas
de que o Fed dispõeestãofun-
cionandoe que as evidências da
eficáciadas taxasde jurosnega-
tivas são “muitodíspares”.
“Eu chamaria isso de uma
área conturbada.Sei que há de-
fensoresdessapolítica,mas por
enquantonão éalgo que esteja-
mos considerando”, acrescentou

Powell. “Acreditamos ter um
bomconjuntode ferramentas,
que é o que vamos usar.”
ElesinalizouqueaCasaBranca
e oCongressodeveriamconside-
rar estímulosfiscaisadicionais,
alémdos US$ 3trilhõesjá apro-
vadosdesdeo começoda crise.
Parlamentares democratas da
Câmarados Deputadosanuncia-
ramnestasemanaumaproposta
de lei paraum estímuloadicio-
nal de US$ 3 trilhões,emboraos
republicanostenhacriticadoa
proposta, prenunciando nego-
ciaçõescomplicadas.
“Um apoiofiscaladicional po-
derá ser custoso, mas valeráa pe-
na se ajudaraevitardanoseco-
nômicosdelongoprazo,propor-
cionandouma recuperaçãomais
forte.Essa concessãodependede
nossos representantes eleitos,
que detêmo podersobreatribu-
taçãoeosgastos”,dissePowell.
OFedjáanunciouumasériede
medidasemergenciaisparaam-
pararosmercadosfinanceirosea
economia. Alémde cortaros ju-
ros para zero e removerolimiteà
quantidadedetítulosdoTesouro
dos EUA e papéislastreadosem
financiamentosimobiliáriosque
se comprometeuacomprar, o
Fed anunciouuma série de novas
linhasde créditopar um apoio
sem precedentesaos mercados
de dívida,incluindo dívidascor-
porativasebônusmunicipais.

Muitos dessesprogramas ainda
não estãototalmente operacio-
nais eoFedprometeu continuar
ajustando-os às condições de
mercado. Powell disseque ocha-
madoprograma de empréstimos
“Main Street”do Fed, elaborado
paraempresas de médio porte
com menosde US$ 5 bilhões em
receitas e menosde 15.000 fun-
cionários, “será implementado
nas próximassemanas”. “Estou es-
perançosode que conseguiremos
atenderademandaque há por aí,
estamos empenhados em conti-
nuar inovando e adaptando.”
As condições de negociação
em muitos dos mercados visados
peloFedmelhoraramnasúltimas
semanas, mas os investidores
continuam preocupados com
umavolta da volatilidadese as
perspectivaseconômicasnãome-
lhorarem mesmo com cidadese
Estadosaliviandoaspolíticasque
implementaram para contera
disseminaçãodocoronavírus.
“[Powell]quis moderarquais-
quersuposiçõesque pessoasou
os mercadosestejamfazendode
que a recuperação será rápida”,
afirmou Liz Ann Sonders, estra-
tegista-chefe de investimentos
da corretoraCharlesSchwab.
“O Fedpode fazermuitacoisa
paraaliviaros problemasde li-
quidez,mas eles ficarãolimita-
dos se e quandoisso se transfor-
marnumacrisedesolvência.”

Em suas observaçõesprepara-
das, Powellnão deu nenhuma
pistasobreas medidasespecífi-
cas que o Fedpoderáadotarno
futurono que se refereà política
monetária, especialmente por-
que os jurosnegativosestãofora
de cogitação. Algunseconomis-
tas vêm pedindoao bancocen-
tral que fortaleçasuas diretrizes
futuras,prometendomanteras
taxasde jurospróximasde zero
enquanto a economianão atin-
gir certasetapasdesua recupera-
ção ou com ataxa de desempre-
go —de14,7% em abril—caindo
aumcertopatamar.
Opresidentedo Fedobservou
que ocusto econômicojá ébem
duro, especialmentenas comu-
nidadesde baixarenda—aque-
las “menoscapazesde suportá-
lo”. Ele chamou atenção para
uma pesquisado Fed que deverá
ser divulgadanestaquinta-feira,
que ilustrao fardoparaas famí-
lias em dificuldades.
“Entreas pessoasque trabalha-
vam em fevereiro, quase40% des-
sas famíliasque ganhammenos
deUS$40milporanoperderamo
empregoem março”, disse
Powell.“Essainversãoda sorte
econômica causouum nívelde
sofrimento difícil de ser manifes-
tado em palavras, uma vez que vi-
das foramdestruídasem meioa
uma grandeincertezasobre
ofuturo”,afirmou.

Powell: “Embora resposta econômicaesteja sendo oportunae suficientementegrande,poderá não ser o capítulo final”

ANDREWHARRER/BLOOMBERG

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