Valor Econômico (2020-05-14)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 6 da edição"14/05/20201a CADC" ---- Impressa por gaveniaàs 13/05/2020@20:08:25


C6| Valor|Quinta-feira, 14 de maiode 2020

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


.com
Leia reportagenssobre investimentos
e finançaspessoaisno site
http://www.valorinveste.com

Vieses de investimentos na crise


T


odateoria
econômicaé
construídaapartir
doprincípioda
escassezderecursos,
quelevaànecessidadede
escolhasapartirdetrade-offs.
Naabundância,não
precisamosdaeconomia.O
corolárioparaomercado
financeiroé,naabundância,
qualquermodelorazoavelmente
aderenteàmédiafunciona.
Crises,pordefinição,são
contextosdeescassez.Resgatam

aimportânciadebonsmodelos
queatenuemoefeitodeviesesde
investimentos.Naatualcrise,
investidorestêmmuitopara
aprendersobreesses
viesesexplicadospela
economiacomportamental
(“behavioreconomics”).
Mercadofinanceiroéum
sistemacomplexoe,comotal,a
causalidadeémúltiplaenão
linear.Quandoomercadoopera
emalta(“bullmarket”)oucrise
extrema,muitasvariáveisse
correlacionampositivamente
gerandoumaimpressãode
causalidadequando,naverdade,
oqueexisteéaltacircularidade
entreelas(“efeitoauréola”ou
“haloeffect”).Esseefeitofazcom
queamaioriadosinvestidores
aposteindistintamenteem
algumasdessasvariáveispela
impressão(enãoporuma
modelagemprecisa)de
causalidade.Sucessivosbons
resultados,mesmonafaltade
modelosdecausalidademais
refinados,reforçamodeletério
viésdeconfirmação.
Diantederesultadosque

confirmamhipótesesde
causalidade(mesmo
insuficientes),osinvestidores
terãopoucadisposiçãoabuscar
evidênciasquebusquemrefutar
ashipótesesiniciais.Os
investidoresdesenvolvem
excessodeconfiançaporque
continuamobtendodadosque
confirmamepremiamas
decisões.Quandoacrisechega,
expõeasfragilidadesdesupostos
modelosdesucessoanteriores.
Nosúltimosanos,omercado
usoumuitoojargão“buyon
dips”paraoS&P500.Trata-sede
umaestratégiaquecompra
quandoocorremquedas
pontuais,efoiextremamente
lucrativa.Diantedamudança
abruptadoregime,poucos
investidoresestavamprontosa
abandonarsuasestratégicas
supostamente“vencedoras”.
Muitosinvestidorestendema
buscarpadrõesde
previsibilidadederetorno
positivocombaseem
desempenhospassados,quando
sabemosquenomercadohá
muitaaleatoriedadeeopassado

nãogarantefuturo.
Nocoletivo,esses
comportamentostendema
piorar.Investidorescarregam
posiçõesdeconsensoedemoram
paradesfazê-lasquando
começamasurgirinformações
contráriasàteseinicial.
Asbolhasespeculativassão
tipicamenteoresultadoda
mentalidadederebanho.Há
poucadisposiçãoparase
contrariaraordemgeral,ainda
maisquandoresultadosdaquele
comportamentocoletivosão
positivos.Quandotodosseguem
umpadrãoqueparecegerar
bonsresultados,oolharcrítico
sobreosfatosenfraquece.
Parafinalizarnossoelencode
viesesaplicáveisàvolatilidadede
mercado,nadamaisatualcomo
o“neglectofprobability”,
quandoinvestidores
superestimamouavaliammalo
riscodeeventosdebaixa
probabilidade.Issonãosignifica
queeventosde“cisnenegro” não
possamacontecer,masa
compensaçãoexcessivade
eventosdeprobabilidademuito

baixapodeseronerosaparaos
investidores.Afinal,porque,em
meadosdefevereiro,oS&P500
aindaestavaemplenaascensão
dasuamáximahistóricaquando
jásenoticiava,desdejaneiro,
fechamentosdecidades
chinesascommilhõesde
pessoasemlockdownemfunção
deumsurtoviral?
Muitospodemalegar
queésempremaisfácilapontar
eexplicarerrosdepoisdo
ocorrido.Issofazparte,
inclusive,doviésderetrospectiva
(ou“hindsightbias”).Mas,
haveriacomominimizar
viesesprospectivamente?
Temganhadoforçano
mercadointernacional,emais
recentementenoBrasil,uma
vertentedefundoscomperfil
sistemáticoquebuscamreplicar
estratégiasdeinvestimentos
tradicionais,comrigor
quantitativoequelevama
reduçãodosriscossupracitados.
Basicamente,essesfundos
“ap rendem” ereplicamo
processodeinvestimentode
gestoresdediversosestilose

mercados,selecionamaqueles
sistematicamentevencedores
eprocessammilharesde
informaçõesdeformaobjetiva
empoucossegundos.
Acreditamosqueofuturo
dagestãoderecursoscom
menosviesesemaisrobustez
nosmodelosdecausalidade
caminhanessadireção.Háquese
resgatarecompreendermelhor
osprincípiosqueamparamboas
decisões,sejanaabundância
ounaescassezderetornos.

Alessandro delDragoé sócioda Mauá
Capitale gestor do Fundo Macro
Sistemático Machine-D
E-mail:[email protected]

Carolinada Costaé sócia da Mauá
Capitalfrente ESG, Empreendedorismoe
BlendedFinance
E-mail:[email protected]

Este artigoreflete as opiniões do autor, e
não do jornal Valor Econômico. O jornal não
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responsabilizadopelasinformaçõesacima
ou por prejuízos de qualquer natureza em
decorrência do uso destasinformações.

BVemiteUS$ 50 milhões


em“títulosverdes”


De São Paulo

ObancoBV concluiusua pri-
meiraemissãode“títulosverdes”
(“green bonds”) no valor de
US$50milhões.Aoperaçãoficou
com um únicoinvestidorinstitu-
cionaleuropeu,pormeiodeuma
colocaçãoprivada.Opapéisven-
cem em 2024 esaíramcom taxa
de 3,35%.Os recursos serãoutili-
zadosem projetosde energiare-
novável, comoofinanciamento
de painéissolarese desenvolvi-
mentodeparqueseólicos.
Rogério Monori, diretor de
atacadodo bancoBV, destaca
que essa é a primeiraemissão de
um títulocom essascaracterísti-
casporumbancobrasileiro.
“A nossa primeira operaçãote-
ve um valorrelativamente pe-
queno,maséparanósumaporta
de entradanessesegmento, que
traz diversificação e contatocom
novosinvestidores, dedicadosao
tema”,afirmaMonori.
Um título é chamadode “ver-
de” quandoé emitido paracap-
tar recursosque vão financiar
projetosque possamcausar im-
pactospositivos do pontode vis-
ta ambiental ou climático.
AemissãodoBVobteveacerti-
ficaçãointernacional do Climate
BondsStandard,coordenado pe-
la ClimateBondsInitiative(CBI),
uma organização globalsem fins
lucrativos com o objetivode pro-
moverinvestimentosem grande
escala na economiade baixocar-
bono. A CBI, informaoBV, éa
única organização no mundo
que possuicritérios setoriaispa-
ra certificar emissões comover-
des. A partirde agora,a institui-
ção acompanha se os recursos
captadosserãodirecionadospa-
raosprojetoselencados.
Em nota,ThatyanneGasparot-
to, chefedo CBI paraaAmérica
Latina, destacaque a emissãoé

um marcopara o mercadobrasi-
leiro. “Esperamosqueaoperação
doBVsejaumaaçãocatalizadora
paraosetorfinanceironoBrasil.”
A operaçãodo BV foi estrutu-
rada em meadosde março, antes
do agravamento da crise da co-
vid-19, e as condiçõesde taxa e
montante captado não foram
afetadaspor ela.
Monoriafirmaque o BV vem
reforçandoa agendade investi-
mentosque consideramaspec-
tos sociais, ambientais e de go-
vernançacorporativa(ESG, na si-
gla em inglês),cadavez maisin-
corporadaàsfinançasglobais.
Monorichegouao BV dois me-
ses atrás,trabalhouapenasuma
semanano escritório, e, a partir
de então, do homeoffice está à
frentedas áreasde corporate,te-
sourariaeprivatebanking.
Ele resumeo momento atual
comode trabalhar ao ladoda
basede clientes.Havia umaes-
tratégiainicialno corporate, ele
afirma,de promover o cresci-
mento dos clientesdo banco
comfaturamentoentreR$ 300
milhõese R$ 1,5 bilhão.
Mas pelo aumentodedeman-
da de operações de crédito,entre
outras,por contada crise,a op-
ção do bancofoi estreitaro rela-
cionamento eatendimento dos
clientesque já possui,apoiando
também aqueles com fatura-
mentoacimadesseintervalo.
Apesardo cenário aindaincer-
to, mas de provável deterioração
das condições econômicas,Mo-
noridestacaquenãovêhojeuma
situaçãodecrisedecrédito.
Segundoele, oBVtem sido con-
servadornas operações de tesou-
raria, e, no atendimento aos clien-
tes,buscadosoluçõescriativas,“fo-
ra das planilhas”, diversificado
tantoasua forma de atuação
quanto fontes de captação,como
foiocasodotítuloverde.(APR)

Latache compra fatia da Lineas


no controle da Rodovias do Tietê


AnaPaulaRagazzi
De São Paulo

ALatacheCapital fechouacor-
do paraacompra da participa-
ção de cocontroleque a portu-
guesaLineasdetémna Rodovias
do Tietê. Criada em 2015,aLata-
che costumaatuarna comprade
dívidas de empresasem dificul-
dades,quepassamporreestrutu-
ração.JáadquiriumaisdeR$2bi-
lhões em ativos “distressed”no
Brasil. Mas, no caso da Rodovias
do Tietê, que está em recupera-
ção judicial (RJ), optoupela par-
ticipaçãoacionária.Desdeantes
do pedido de RJ, aLatachejá ha-
via sinalizadointeresse pelo ne-
góciodaconcessionária.

A Rodovias pediuaRJ em no-
vembro do ano passadoe, em
meados de março, apresentou
seu plano de recuperação. O do-
cumentofoi consideradoapenas
comoum esboço paracumprir
prazos judiciais einiciaruma ne-
gociação com os credores. A
maiorparteda dívidada empre-
sa, de R$ 1,6 bilhão,está concen-
trada em uma debênture,pulve-
rizada em maisde 18 mil investi-
dores pessoasfísicas. Essa quan-
tidadede credorestem dificulta-
do o processo de reestruturação
da empresa. De acordo com fon-
tes, em tese, aLatachedeveráter
agora um papelde protagonista
naconduçãodoprocesso.
O planoapresentadofalava na

necessidadede umacapitaliza-
ção de R$ 500 milhões.Mas ele
não teve nenhumandamento —
por contada covid-19,todosos
prazosjudiciaisestãosuspensos.
ALineasdividemeioa meioo
controleda Rodoviascoma AB
Concessões,quejáhaviasinaliza-
do que não iria injetarrecursos
na concessionária.A AB tem o di-
reitodepreferência paraacom-
pra da participaçãoda Lineas,
masaavaliaçãodefonteséquejá
deve ter abdicado dessedireito
emnegociaçãocomaLatache.
AArtesp(AgênciadeTransporte
do Estado de São Paulo) precisa
dar oaval para a mudança no blo-
co de controle e informouque ain-
da não foi notificada sobre aope-

ração. O valor da transação não foi
divulgado.Latache,AB eRodovias
não deramentrevista. Em comuni-
cado, aLatache afirma quevai re-
negociar adívida da empresae
realizar os investimentos necessá-
rios para que elarecupere sua ca-
pacidadeeconômico-financeira.
Nos últimosmeses,agestora
Journey Capital lançouum fundo
paratentarreunirosdebenturistas
pessoa física e ter voz no processo
deRJdaRodovias.Ofundotemho-
je600debenturistasedevereceber
um aporte de um novoinvestidor.
AJourney éasegunda maiorcre-
dora da companhia, se somadas as
diversas carteirasque votam ali-
nhadas, já teria assento assegura-
donasmesasdenegociação.

EmissõesEm primeiro IPO desdeo início da crise,


Estapar captaaproximadamente R$ 300 milhões


Ofertas de ações são


retomadas e ignoram


ritmo da economia


Nocasoda Estapar,a empresaprecisadecapital para bancarinvestimento emumnovocontrato público emSãoPaulo

GABRIELMONTEIRO/ AGENCIAO GLOBO

Maria LuízaFilgueiras
De São Paulo

Aoperadoradeestacionamen-
tosEstaparreabriuumapequena
janela de ofertasde ações, com
precificação de sua listagem e
captação inicial(IPO)na noitede
quarta-feira. A empresa levantou
R$ 313,2milhõesna ofertabase,
com o preço por ação no piso da
faixa indicativa, conforme duas
fontes—até o fechamento desta
edição, a empresanão havia di-
vulgadooficialmente.
A definiçãode “pequenajane-
la”,conformebancosouvidospe-
loValor,refere-seao entendi-
mentodeque não haverá uma
euforia de retomada de ofertas
no curtoprazo—mas operações
específicas de quemprecisade
dinheiroagorae está disposto a
searriscaremrelaçãoapreço.
“Nãohá fundamentopara a
bolsasubirno Brasil.O que está
acontecendo agoraéreflexoda
melhorano mercadointernacio-
nal, principalmente na bolsa
americana, e da quedade juros,
que abastece amigraçãode capi-
tal localparafundosde ações”,
afirmaum experientediretorde
banco de investimento.Esses
aportes novostêm sido feitoses-

pecialmente por pessoasfísicas,
segundodoisgestores,etambém
com alocação diretana bolsa.
“Fora esse fluxo, não há razãode
valorização.Acrisenãovaiserre-
solvida rapidamentee seus efei-
tos aindaserãosentidos nos pró-
ximosanos”,complementa.
Chamaa atençãoessa ponde-
raçãoporqueos banqueiros de
investimentos costumamser
mais otimistas em relação às
reaberturasde mercadoe pro-
movê-las a seusclientes.Desta
vez, a animação parece estar
maiorentre investidoreseacau-
tela, entreos banqueiros.
As próximas ofertasserãoda
Via Varejo e Centauro, já lista-
das, alémda estreia da Aura Mi-
nerals, em junho. Via Varejo já
compôsum sindicatocom os
bancos Bradesco BBI, Bankof
America, Bancodo Brasile XP
Investimentos, eaC entaurocom
BTG Pactual,BradescoBBI, Itaú
BBA e Santander.
Na Aura, o IPO élideradopor
BBA,XP e CreditSuisse.Como
oValorantecipouem feverei-
ro,aintençãoda empresaera
buscarR$ 800 milhõesem abril
—aofertafoi adiada,até omo-
mento,para junhoeaempresa
avalia se fará alteração no
montante.Arede de farmácias
Pague Menos,assessoradapor
CreditSuissee Itaú BBA,tam-
bémdá andamentoaos prepa-
rativosparaumapossíveles-

treiano iníciodo segundose-
mestre,apurouoValor.
Outras ofertas subsequentes
já começaramaser discutidas
entreempresase bancos.“Tere-
mos maisalguns ‘fo llow-ons’, de
companhias que precisam de
caixaparaquitardívidaou ter
capitalde giro,ouque usarãoo
dinheiro para consolidação”,
afirma um executivo.
No caso da Estapar,aempresa
registra prejuízo e precisade ca-
pitalparabancarinvestimento
em um novocontratopúblico
em São Paulo. Agentes do merca-
do financeiro ressaltam que há
peculiaridadesnaofertaqueper-
mitiram emplacá-lamesmoem
meioà turbulência. “O casoda
Estaparnãoservedetermômetro
demercadoporqueomaioracio-
nistaentroucomocompradorde
parterelevante da oferta”, expli-
caumbanqueiro.
Segundo informou o Valor
em abril, trata-se de um fundo
gerido pelobancoBTGe que
tem AndréEstevescomoinvesti-
dor. “Se é para o próprioacionis-
ta comprar, o‘valuation’inicial
ser maisbaixonão é um proble-
ma”, afirma um gestor.
Já no varejo, há alto consumo
de caixaecompetição em vendas
eletrônicas,em um momento de
retraçãode receitanas lojasfísi-
cas —eaViaVarejo tem menos
caixaque suas principaisconcor-
rentes.A Centauro, assimcomoa

Natura,que anunciouum rele-
vanteaumento de capital,está re-
lacionadaa umaaquisiçãofeita
antesdacrise.ACentaurofaráfol-
low-on parareduziradívidada
compradaNikenoBrasilemfeve-
reiroeaNatura recorreao aporte
dos acionistaspara reduzira dívi-
da referenteàcomprada Avon. A
operadorade turismoCVC tam-
bémprecisade capital,mas a
princípionão pretendefazerisso
porofertapúblicadeações.
Nocasoda Pague Menos,oIPO
seriamaisuma oportunidadede
expansãonummomentoemque
ativosdo setorde saúdeestãoem
alta. A avaliaçãoé principalmen-
te do fundoGeneral Atlantic,
acionista da empresa que pode,
por contrato, definira listagem.
Masaintenção, conforme um
executivopróximo, é chegara
umconsensosobre“timing”.

Palavra dogestor


Alessandro del Drago e
Carolinada Costa

Grupo Único PDF

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