Valor Econômico (2020-05-14)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"14/05/20201a CADA" ---- Impressa por VDSilva às 13/05/2020@21:32:


A4| Valor|Quinta-feira, 14 de maiode 2020

Brasil


Com estratégias falhas e divergência


política, Brasil sofre mais, diz Parnes


FOTÓGRAFO

Parnes:questão fiscalé ‘muito séria’e horizonteda dívidaexige cautelana conduçãoda políticamonetáriano país

Anaïs Fernandes
De São Paulo

No enfrentamentoda covid-19,
oBrasil reúneopiorde duas estra-
tégias: não conseguecontrolar a
pandemia,enquanto aatividade
econômica cai acentuadamente —
e, sem coordenaçãopolítica,não
podepensarem umareabertura,
avalia BenyParnes,sócio da SPX
Capitaleex-diretordeAssuntosIn-
ternacionaisdoBancoCentral.
Parnes,que participouda Live
doValorontem,afirma que o
país não foi capazde fazerum
“lockdown”(restriçãomais seve-
ra do deslocamento e de ativida-
des) perfeito. “A infecção conti-
nua se disseminando,com risco
até de piorar”, diz. Ao mesmo
tempo, “a economia continua
afundando”, ele afirma.“A gente
nemconseguiufazeroisolamen-
to e nemconseguiunão fazero
isolamento, é um mistério da na-
tureza.Aeconomiacaiuenão
conseguimosfazera curva[de
propagaçãodadoença]achatar.”
Aelaboraçãode políticas eco-
nômicascapazesde responder
aos desafiosrequerconsensos
políticos,mas “está umaconfu-
são danada”, diz Parnes.“Esta-
mos vivendoumadissensão ins-
titucionalque eu não esperava”,
afirma, referindo-seaos atritos
entreostrêsPoderes.
Sem consenso políticoe ações
afinadasentreogovernofederal,
Estadosemunicípios,não épos-
sívelpensarem umaretomada
das atividades,por exemplo. “A
descoordenaçãolevaaqueagen-
te fiquecompletamente parali-
sado”.E, com afalta de diálogo,
“a gentevai sofrermuitomaisdo
que está sofrendodesnecessaria-
mente”,afirmaParnes.
Soma-seaissooelevado grau
de incerteza sobre as economias
no pós-pandemia.“Não está sob
nosso controle, está sob o contro-
le da evolução do vírus,ela que
vai levaraações ereações de polí-
tica econômica”, diz.Mesmoem
paísesqueparecemjáterpassado
pelo pior na crise de saúde e que
contamcommaisespaçoparaex-
pansãomonetáriaefiscal,comoa
China, oque se vê éuma deman-

daquenãoserecuperatãorápido
comoesperado,observaParnes.
Para oBrasil, ele diz não enxer-
gar, como algunseconomistas, o
Produto Interno Bruto (PIB)con-
traindo-se em patamares de 7% a
10%nesteano.Porora,aSPXtraba-
lha, comum númeromaisentre
-5% e -6%. Um contrapontofavorá-
vel seria ocrescimento das expor-
tações brasileiras, impulsionadas
peloagronegócio,dizParnes.
Aindaassim, ele afirma que “a
economia entrou em colapso”no
país. No campomonetário, com
juros einflação baixos,en odo sis-
temafinanceiro,que ésólido, o
Brasil vai bem.Oproblema fiscal,
no entanto, é “muito sério”, diz o
economista. “Partimosde uma dí-
vida/PIB muito elevada evamosle-
var ao extremo”, afirma, acrescen-
tandoqueessarelaçãodevechegar
a93% no fim do ano.Em 2019, fe-
chounacasade76%doPIB.
A combinação de juros muito
baixoscomumhorizontefiscalde-
licado prescrevecautela eatenção
na condução da políticamonetá-
ria, com apossibilidade de cortes

dejurossetornaremcontraprodu-
centes,avaliaParnes.
Até agora,oquadronão éesse,
eaf lexibilizaçãomonetárianão
contaminouas expectativasde
inflação, ele afirma.“O meu me-
do équandocomeçaa misturar
muitacoisa:juromuitobaixo,
com taxa de juro real muitobai-
xa eque não reflitaoverdadeiro
riscoque nós temos,que é fiscal,
fiscalefiscal”,afirmaParnes.
Nessesentido, o economista
diz estarnum“campomaisgra-
dualista” ao comentaros rumos
da políticamonetáriano país.
Embora as expectativas de infla-
ção estejamsob controle,acapa-
cidadeociosada economia seja
elevadae aatividadecaminhe
paraumarecessão—elementos
que podemfavorecercortesda
Selic—-há dúvidassériasares-
peitodoendividamentopúblico.
“Temosuma trajetóriada dívi-
da que não ésustentável e que
temque ser endereçada, acho
que isso aí podeser algumacon-
fusão”,afirma.Ele ressaltaque é
difícil fazerprevisõessobreo“ti-

ming”de impactodaquestão,
mas acrescentaque “é uma coisa
um poucodelicadaeaque se de-
veriaprestarumaatenção”.
Alémdisso, ele prossegue, é
necessário acompanharo com-
portamento do câmbio, já que
com jurosmuitobaixosé natural
investidores no Brasilbuscarem
ativosno exterior, com asaída de
recursosacentuandoa desvalori-
zaçãodo real. É o“dilemaequilí-
briointerno-externo”, dizParnes,
em que a quedados juros,por
outrolado,ajuda oambientedo-
méstico—embora“cada vez me-
nos”,nasuaopinião.
Estimaromomentoeoritmo
de retomada das economias não
é tarefasimples,e sobretudo no
caso brasileiro. “Vai depender de
comoas coisasvão evoluirno
curtoprazo. Minhavisão pessoal
é que estamospensandoem con-
tra-atacarquandoaindaestamos
sendoatacados.Em que peseos
esforçosincríveisdo ministro da
Fazendaedaáreamédica,nãoes-
tamosconseguindoestabilizara
situação",afirma.

AmazonB
Arcos DoradosB
AzulB
BancoABCB
Bancodo BrasilA
BentleyB
BiosevB
BMWB
BNDESB
BradescoC
BraileB
BraskemB

BrightPhotoMedicineB
BTG PactualB
CeagespB
ConstantaB
CosanB
DaycovalB
DellTechnologiesA
EDPB
EmbraerB
EstaparC
ExtrafarmaB
FiatChryslerB

FuncionalB
G2BaseB
G2LB
GerdauB
GolB
GrubHubB
HPA
IntelB
IntermedB
IpirangaB
ItaúB3, C
ItauBBAB

JBSB
Johnson& JohnsonB
Lone StarB
MaerskA
MicrosoftB
MoodarB
Moura DubeuxB
MRSLogísticaB
NatixisB
NielsenB
NissanB
OdebrechtB5, B

OxitenoB
PetrobrasB
RaízenB
RenaultB
RNINegócios ImobiliáriosB
Rodoviasdo TietêC
SantosBrasilB
SãoMartinhoB
SemPararB
ShellB
SLC AgrícolaB
SonyB

SotranB
SulAméricaC
TencentB
TNHHealthB
TranspetroB
UberB
UBSB4, B
UdemyB
UltracargoB
UltragazB
UltraparB
VolkswagenB

Índicede empresascitadasemtextosnestaedição


Inflação baixa


antecipa fim do teto


RibamarOliveira


A


manutençãodo
tetodegastosnos
próximosanos,tão
desejadapelo
governo,
enfrentaráumadificuldade
adicional,quenãoestava
prevista.Comarecessão
econômicaemcursonoBrasile
nomundo, provocadapela
pandemiadacovid-19,a
inflaçãovaicairmuito.E
inflaçãomaisbaixasignificará
umtetoaindamaisapertado.
AEmendaConstitucional
95/2016,quecriouolimitepara
asdespesasdaUnião,
determinouqueovalordoteto
degastosserácorrigido,
anualmente,pelainflação.Para
2021,oíndiceaseraplicadoéo
IPCAacumuladodejulhode
2019 ajunhodesteano.
Porcausadarecessão
econômica,oBrasilviveum
momentodedeflação,ouseja,
ospreçosestãocaindo,emvez
desubindo.Emabril,oIPCA
caiu0,31%.Paramaio,o
mercadoprojetanovadeflação,
de0,35%.Parajunho,ataxa
esperadaépróximadezero.Se
asprevisõesseconfirmarem,o
índiceem12mesesacumulado
atéjunhoficaráabaixode2%.
Umaestimativafeitapelo
TesouroNacional,queconstado
anexoderiscosfiscaisaoprojeto
deleidediretrizesorçamentárias
(PLDO)para2021,estimaqueo
desviode0,1pontopercentual
doIPCAprovocaumavariaçãode
R$1,455bilhãonolimitede
despesa.Paraumavariaçãode1%
doIPCA,oimpactonotetoserá
deR$14,55bilhões(ver tabela
abaixo).
Noanexo,ogovernoprojeta
umvalordeR$1,502trilhão
paraolimitedasdespesasno
próximoano.Ovalorfoi
estimadocombaseemuma
inflaçãodejulhode2019a
junhode2020de3,23%.Com
isso,oespaçoparagastosno
próximoanosubiriaR$
bilhões,emcomparaçãocomo
tetofixadopara2020.

Seainflaçãoquecorrigiráo
tetopara2021ficarmesmo
abaixode2%,olimiteparaas
despesasdaUniãonopróximo
anoaumentarámenosdeR$
bilhões.Nessamargem
adicionalnãocaberásequero
aumentodasdespesascomo
pagamentodosbenefícios
previdenciáriosprevistoparao
próximoano.Essasdespesas
apresentamumcrescimento
vegetativoanualentre2,5%e
3,5%,acima,portanto,doíndice
decorreçãodoteto.
Esteéoproblemaqueo
governoteráqueenfrentarlogo
emseguida,aoelaborara
propostaorçamentáriade
2021,queseráencaminhadaao
CongressoNacionalatéodia
deagosto.Eleterádeobedecer

olimiteparaasdespesas.O
cenáriomostraqueserá
necessáriocortaraindamaisos
investimentosdaUniãoeo
custeiodamáquina
administrativa,aschamadas
despesasdiscricionárias.
QuandoenviouoPLDOpara
2021 aoCongresso,ogoverno
estimouqueteriaquecortaras
despesasdiscricionáriasdos
R$120bilhõesprevistospara
esteanoparaR$103,1bilhões.
Comumtetomenor,porcausa
daquedadainflação,as
despesasdiscricionárias
ficarão,provavelmente,abaixo
dosR$90bilhões,oquepoderá
paralisarváriasatividadese
investimentosdogoverno—o
chamado“shutdown”.
Afortequedadainflaçãopor
causadapandemiaantecipaum
problemaqueogovernoprevia
sópara2022ou2023,quandoas
despesasdiscricionáriascairiam
paraumpatamarincompatível
comamanutençãodas
atividadesnormaisda
administraçãopública.Ouseja,
osdadosindicamqueogoverno
podenãotercondiçõesde
cumprirotetodegastosjáno
próximoano.
Paraaelaboraçãoda
propostaorçamentáriade
2021,háquestõesqueainda
sãonebulosas.Aatualsituação
depandemiaacabarámesmo
no31dedezembrode2020,
comoprevistonodecreto
legislativo?OauxíliodeR$
serámantidonopróximoano?
Ébomlembrarquetodasas
despesasrelacionadascomo
combateàcovid-19foram
pagaspormeiodecréditos
extraordináriose,portanto,
nãopoderãoconstarda
propostaorçamentária.
Émuitoprovávelqueo
governoretome,jánosegundo
semestredesteano,adiscussão
públicasobreamudançado
tetodegastos,comodesenho
deumnovoarcabouçode
regrasfiscaisparavigorarno
país.Asregrasatualmente
existentes(metasfiscaise
“regradeouro”)nãotêmmais
significadoprático.
Adiscussãosobreonovo
arcabouçoderegrasfiscais
paraoBrasilexistiaantes
dapandemia,comasPECs
186e188,ambasdoano
passado,queestavamsendo
apreciadaspeloSenado.
Aquelaspropostasserão
alteradas,incluindomudanças
tambémnotetodegastos?
Qualquerquesejaonovo
desenho,ogovernonãopoderá
abrirmãodeumcontrolesobreo
crescimentodasdespesas
públicas.Esseéopontocentral
emtodaadiscussão.Hádiversas
fórmulasdecomoissopoderáser
feito.Asociedadenãopode
esquecerquefoijustamente
oaumentocontinuadodos
gastospúblicosaolongode
décadas,muitoacimado
crescimentodaeconomia,que
levouopaísàsituaçãodegrave
desequilíbriofiscal.
Adiscussãoocorreráemum
momentoparticularmente
delicado,pois,desde2014,o
setorpúblicoestácomsuas
contasnovermelho.Alémdisso,
aUniãodeveráfecharesteano
comdéficitprimáriosuperiora
R$600bilhões.Ogoverno,
portanto,teráquedemonstraro
seucompromissocomo
reequilíbriodesuascontas.

RibamarOliveiraé repórter especial
escreve às quintas-feiras
[email protected]

Limite para as
despesasterá
correçãoabaixo de2%

Fonte:inclusãoSTN/MEde R$ 399,3- Anexomilhõesde Riscosà baseFiscaisde cálculodo PLDOdo Tetoparade Gastos2021.*Considerado Poderos efeitosJudiciáriodo Acórdãoe do MinistérioTCU362/2020Públicoda União,que determinaem a
decorrênciaextraordinário.de vícios** Projeçãoda MedidacombaseProvisóriano valor711/2016estimadoao tratarparaa variaçãoa despesado IPCAcorriqueira(3,23%)de auxílio-moradiapresentena gradecomode parâmetroscrédito. da
SPEque embasoua elaboraçãodo Projetode Lei de DiretrizesOrçamentáriasde 2021.

Tetomaisbaixo
Efeitoda variaçãode 0,1 p.p. no IPCAem limitede despesas, em R$ bi

Poder/órgão Limitede despesas
sujeitasà EC nº 95*

2020 2021
Variaçãode 0,
p.p.do IPCA
no limite

Projeçãodo limite
de despesassujeitas
à EC nº 95**
1.391,
12,
43,
0,

6,

1.454,

PoderExecutivo
PoderLegislativo
PoderJudiciário
DefensoriaPública
da União
MinistérioPúblico
da União
Total

1,
0,
0,
0,

0,

1,

1.436,
12,
44,
0,

6,

1.501,

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


País temmais 749 mortese presidente defende cloroquina


Estevão Taiar, Gustavo Maia*
e Isadora Peron
De Brasília

Opresidente Jair Bolsonarovol-
tou a defender ontem ouso da clo-
roquinaparacombateracovid-19,
nomesmodiaemqueforamregis-
tradas novas 749mortescausadas
peladoença. Já oMinistério da
Saúdeeas secretarias estaduais e
municipaispermanecemem um
impasse a respeito das novasre-
grasdeisolamentosocial.
Pela manhã, Bolsonaro afirmou
que iria conversarcom oministro
daSaúde,NelsonTeich,paradiscu-
tir as regrasde uso da cloroquina.
“Comoestamosemumaemergên-

cia, e a cloroquina semprefoi usa-
da, desde1955, e agoracom aazi-
tromicinapodeserumalentopara
essa quantidade enorme de óbitos
que estamostendono Brasil”, afir-
mounoPaláciodaAlvorada.
Ele disseque seu entendimento,
após ouvir médicos, éque omedi-
camentodeveser usadodesdeo
inícioda contaminaçãopor quem
integragrupos de risco, comco-
morbidadeouidosos.
Na terça-feira, Teich fez no Twit-
ter oque chamoude “um alerta
importante” a respeito do remé-
dio."Acloroquina éummedica-
mentocom efeitoscolaterais. En-
tão, qualquer prescriçãodeve ser
feita com base em avaliação médi-

ca.Opacientedeveentenderosris-
cos e assinar o‘termo de consenti-
mento’ antesde iniciar o uso da
cloroquina",disse.
Para ontem, estavaprevistaadi-
vulgação pelo Ministério da Saúde
para as novas diretrizes de isola-
mentosocial, mas apasta eas se-
cretarias estaduais e municipais
nãochegaramaumacordo.
“Devidoacomplexidadedeor-
ganização de orientações para um
paíscontinental,observandoasdi-
versasrealidades locais ecenários
diferenciados em relação àcovid-
19, a discussão entre Ministério da
Saúde, Conass (Conselho Nacional
de Secretários de Saúde) e Cona-
sems(ConselhoNacionaldeSecre-

tarias Municipais de Saúde)sobre
diretrizes seráaprofundada", disse
apastaem comunicado.Oimpas-
se fez o ministério cancelar a sua
entrevistacoletivadiária.
O órgão também anunciou que
onúmero de óbitos causados pela
doença chegoua 13.149. Já os no-
vos casosregistradosem24 horas
aumentaram11.385, paraum to-
tal de 188.974. Ataxa de letalidade
ficouestável,em7%.
A Articulação dos Povos Indíge-
nas do Brasil (Apib),por sua vez,
divulgouque já foramregistradas
77 mortes entre indígenas. Ao to-
do,são 308 casosde infecções con-
firmadas. Os dados vão até segun-
da-feira.(*DeOGlobo)

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