Valor Econômico (2020-05-14)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 8 da edição"14/05/20201a CADA" ---- Impressa por VDSilva às 13/05/2020@21:01:


A8|Valor| Quinta-feira, 14 de maiode 2020

Brasil


Comprevisãoaindaotimista,setor


agrícolasó deveterajudalocalizada


De Brasília

Com o iníciodas discussõesdo
PlanoSafra2020/21,oMinistério
da Economia deu um recadopa-
ra osetor agropecuário,que, se-
gundo boletimda Secretariade
PolíticaEconômica,é omenos
afetadopelapandemiaeainda
estácrescendo.
“O setoragropecuário em ge-
ral foi o menosafetadopela pan-
demia, portanto,as decisões de
alocaçãode créditoe subvenção
deveriamseguir critériosde pro-
dução, e não de auxílioemergen-
cial. Exceçãodeverá ser feitaàs
cadeias diretamente afetadas,
que deveriam ser atendidas pon-
tualmente”,dizanota.
A expectativa do ministério,
com base em estimativado Ipea,
é de um crescimento de 2,4% pa-
ra o PIB agropecuárionesteano,
em um ambientede quedatotal
do PIB de 4,7%.
“A combinação da demanda

externa forte com aelevaçãonas
cotações do dólar ocasionou au-
mentode preçosexpressivos em
diversos produtosagrícolas”, diz
a nota. “Além disso, deve-se res-
saltar que, adespeito do momen-
to favorável das grandesculturas
agropecuárias, certas atividades
de menor porte têm sofrido per-
das intensas em função do dis-
tanciamento social, comosão os
casos da produção leiteira, certos
ramosdahorticulturae,deforma
mais grave, a floricultura”, com-
pleta, apontando que paraesses
casos deverá ser considerado al-
gumtratamentoexcepcional.
Amensagemfoi reforçadadu-
rante a entrevistacoletiva sobre
as novasprojeçõeseconômicas.
O secretário especialde Fazenda,
Waldery Rodrigues, destacou
que os efeitosdacovid-19 não
deverãoatingiroPlano Safra.
“Nãodevemoslevaracovidpara
oPlanoSafra”, disse.
O subsecretário de Assuntos

Agrícolas, Rogério Boueri, salien-
tou que medidas de apoioao setor
agrícolatêm de ser localizadas,
não generalizadas, dadoo desem-
penhopositivo do setoremcom-
paração com outros setores que
sentemfortementeacrise.
Osetor tem sido poucoafeta-
dopelacrise,avaliou.“Ospreços
das commoditiesagrícolas estão
em patamaresmuitoalto,dólar
está ajudandomuitotambém”,
disse.“Desdeo começodo ano,
só os preçosdo milhocederam,
mesmo assimestãoem patamar
muitoalto”, comentou.
O PlanoSafraésempre alvo de
grande disputaentre osetor
agrícola eaárea econômica.O
primeiro quer arrancaros meno-
res jurospossíveis nos financia-
mentos, maiorpartedelescom o
Bancodo Brasil,enquantoos téc-
nicosque cuidamdo cofrefede-
ral tentamconcedero mínimo
possível de subsídios,que são
bancadospeloTesouro.(FG)

Manter ajudadeR$ 60 0 alémde 2020


nãoé recomendável,afirma secretário


De Brasília

Diante do risco de aumento do
desemprego estrutural, o governo
colocou no radar umarevisão de
programasde assistênciasocial.
No entanto,não considera ade-
quado tornar permanenteoauxí-
lio emergencial de R$ 600. Não es-
tá descartado, porém,discutir um
novoformatoparaele.
“O que temosde fazer é fortale-
cer a redede assistênciasocial”,
disse ontemo secretáriode Políti-
ca Econômica,Adolfo Sachsida.
Comonão será possível elevar os
gastospúblicos,asoluçãoserárea-
locar, ou seja, utilizarrecursos de
programasquenãosãoeficientese
destiná-losaosquesãoeficientes.
Osecretárionãoapontouexem-
plosde nenhum dos dois casos.
Avaliações recentes realizadas pe-
lo BancoMundial apontam, por
exemplo, que o Simples é um pro-
gramacaroemtermosderenúncia
fiscalepoucoefetivo para formali-

zar empresas. Já oBolsa Família é
apontado comoexemplo de pro-
gramaeficienteebemfocado.
O auxílioemergencialéum
programa que consome, por
mês,o equivalentea um ano de
BolsaFamília.Das medidasado-
tadaspelo governopara comba-
ter os efeitosda crise,é oque tem
maiorimpactofiscal:R$ 124 bi-
lhões,dos quaisR$ 36 bilhõesjá
foram distribuídos. “Parece-me
evidenteque não érecomendá-
vel acontinuidadedessetipo de
programa”,afirmouosecretário.
“Extensãooureformatação,no
tempo devido, seráanalisada”,
disseo secretário especialde Fa-
zenda,WalderyRodrigues,aoco-
mentaro auxílioemergenciale
seu eventualencerramento.Adi-
retriz,porém,é manteras medi-
das de combateà pandemiaque
têm impactofiscalrestritasao
anode2020.
Nos bastidores,há preocupa-
çãodeintegrantesdaequipeeco-

nômica com o surgimentode
pressõespolíticasparaprorrogar
ou mesmo perenizar algumas
das políticasadotadasem razão
da crise.Há receioque oatendi-
mentoa esses pedidos poderia
enviar um sinalde abandonoda
buscado equilíbriofiscalestru-
tural.Isso derrubariaum pilar da
estratégia econômicado gover-
no,deajustedas contaseredu-
çãodoEstado.
Na terça-feira, oValortrouxe
declaraçõesdo secretário espe-
cialdeProdutividade,Emprego
eCompetitividade, Carlos Da
Costa,de que algumaspolíticas
criadasnacrise podemser man-
tidas.Oauxílioemergencial,dis-
se ele, está alinhadocom aagen-
da liberaldo governo.Noentan-
to,sua manutençãodependeria
de decisãodo Ministério da Ci-
dadania e da consideração de
váriosoutroselementos,sendo
o cenáriofiscalo maisimpor-
tantedeles.(LAOeFG)

STF confirma flexibilização da LRF e da LDO na pandemia


Luísa Martins
De Brasília

O SupremoTribunalFederal
(STF) confirmouontema liminar
que permitiu umaflexibilização
daLeideResponsabilidadeFiscal
(LRF)eda Lei de Diretrizes Orça-
mentárias(LDO)enquantodurar
a pandemiade covid-19no país.
Oplacarfoide10votosa1.
Apesar de o plenário ter refe-
rendado a cautelar concedida em
março pelo ministro Alexandre

de Moraes, ficoudecidido quea
ação será extinta —isto é, seu mé-
rito não será julgado futuramen-
tedevidoàperdadeobjeto.
Isso porqueo CongressoNa-
cional acaboupor aprovar ocha-
mado “Orçamento de Guerra”,
separandoos gastospúblicosna
pandemiadas despesasprevistas
peloOrçamentogeraldaUnião.
Para a maioriados magistra-
dos (ficouvencido apenas omi-
nistroMarco AurélioMello),de-
ve permanecerválidoo afasta-

mentoda normaque exigiria a
demonstraçãode adequaçãoor-
çamentáriaparaa criaçãoeex-
pansão de programas públicos
destinadosao enfrentamento da
covid-19. Adecisãovale para to-
dos os entesda federaçãoque ti-
veremdecretadoestadode cala-
midadepública.
“O surgimentoda pandemia
representa condição superve-
niente imprevisívele de conse-
quênciasgravíssimas,que afeta-
rá, drasticamente, aexecuçãoor-

çamentária anteriormentepla-
nejada, exigindoatuaçãourgen-
teecoordenadadetodosasauto-
ridades,tornandoimpossível o
cumprimentode determinados
requisitos legais compatíveis
commomentos de normalida-
de”, disseMoraes, relatorda ação
ajuizada pela Advocacia-Geral
daUnião(AGU).
Últimoavotar,opresidentedo
Supremo, ministroDiasToffoli,
afirmouque a decisãotraz segu-
rançajurídicaeaproveitoupara

elogiar aaprovaçãoda PEC do
“Orçamentode Guerra”no Legis-
lativo. “Segregar oorçamento de
emergência do normaltrouxe
proteçãoàLRF,quefoiumganho
civilizatório para oEstadobrasi-
leiroeparaasfinançaspúblicas.”
Alémdo relatore do presiden-
te,votaramdessemodoosminis-
tros EdsonFachin,Luís Roberto
Barroso, RosaWeber,Luiz Fux,
CármenLúcia, Ricardo Lewan-
dowski, GilmarMendese Celso
de Mello. Especificamentesobre

aextinçãoda ação sem resolução
demérito,Fachindiscordou.
AAGU comemorouadecisão.
Para oórgão, que faz adefesado
governo federal na Justiça, a
pandemiatornouinviável aob-
servação de algunsartigos da
LRF.Além da regrasobreaade-
quaçãoàlegislaçãoorçamentá-
ria em vigor, fica dispensadaa
demonstraçãode estimativado
impactoorçamentário-financei-
ro no exercícioatualenos dois
subsequentes.

ConjunturaCálculoédeperdadeR$20biacadasemanadeisolamento


Governo revê projeção e estima


queda do PIB de 4,7% em 2020


Fabio Granere Lu Aiko Otta
De Brasília

OMinistério da Economiacal-
cula emR$ 20 bilhões aperda de
Produto InternoBruto(PIB)se-
manal por causado isolamento
social. Considerando que essa
política continuarávalendo até
31 de maio, apasta projetauma
queda de 4,7%paraoPIB brasi-
leironesteano.Arecuperação
esperadaparao pós-crisetam-
bémnão é animadora.Nas con-
tas do ministério, em 2021oPIB
devecrescer3,2%.Comisso, o
patamarpré-crisesó será alcan-
çadono últimoano do atualgo-
verno, ou seja, em 2022.
Em notainformativadivulga-
daontemjuntocomosnovospa-
râmetros, o ministériodestacou
que,quantomaistempodura-
rem as medidas de restrição,
maiorserá otombo na econo-
mia. Eoimpactonão ésó no ce-
nário de curto prazo,mas tam-
bémnodelongoprazo.
O secretáriode PolíticaEconô-
mica,AdolfoSachsida,disse que
aconta do impacto do isolamen-
to não tem uma“conotação de
crítica” às medidasde quarente-
na. “Precisávamosfazerestimati-
va sobreimpactodeisolamento
social para calcularo PIB”, justifi-
cou o secretário. “Estamos dei-
xando claroparaasociedade o
custodas decisões;é apenas um
passopara nossas projeções. Ca-
da semana a maisde isolamento
aumentachancede reduçãodo
PIB potencialde longoprazo...
Quanto maissemanas ficarmos
em distanciamentosocial,maior
será onúmerode falências, de
desempregoeimpactosdelongo
prazo”,comentou.
Essesefeitos,de acordo com o
documento divulgado,podem
ser decompostosem três com-
ponentes: “impacto imediato
diantedas restriçõesà produção
e ao consumo;duraçãodo pe-
ríodo de recuperação; e impacto
sobrea trajetóriade longoprazo
da economia”.

Otextoressaltaque ocresci-
mentopassouadependerfunda-
mentalmente da evoluçãoda cri-
se sanitáriaglobal.Eq ue ainda
há grande incerteza nas proje-
ções.Por exemplo,seacrise du-
rarduassemanasamais,nascon-
tas da secretaria aquedado PIB
nesteano seriapertode 5,5%,
semfalarnapioradelongoprazo
queestásendocontratada.
“A paralisação de algumasati-
vidades em magnitudenunca
observadadificultaaestimação
de cenáriosprospectivosem di-
versas frentes, em especialno
mercadode trabalho e na saúde
financeiradas empresas”,diz a
nota.“Soma-seaesseambiente
de incerteza o riscode que medi-
das fiscais necessárias no curto
prazose tornemum problema
nolongoprazo”, acrescenta.
O subsecretárioVladimir Kuhl
Teles afirmou que ocenário bá-
sico éde recuperaçãorelativa-
mentelenta,sem a voltasúbita
em formato“V”. E, mesmocom
aretomada, ele avalia que eco-
nomiaseguiráem umatrajetó-
ria inferior ao que seria seu
equilíbriode longoprazo. Em
outraspalavras,crescerá em pa-
tamarmaisbaixodo que a traje-
tória antesda crise indicava.

Ogovernoesperaque aqueda
doPIBsejamaisfortenosegundo
trimestre. Esse tendeaser opior
período, puxadopela quedaes-
peradade 15% na indústriaede
6% nos Serviços.“Nossaprojeção
éde crisesevera, com recupera-
ção lentae impactopermanente
delongoprazo”, informou.
Teles destacouque os choques
aque está sendosubmetidaa
economiabrasileira são majori-
tariamente deflacionários. Isso
setraduznaprojeçãodeIPCAem
1,77%nesteanoe3,30%em2021.
Aalimentação em domicílio é
um dos poucositensque têm ti-
doaumento,disse.“A tendênciaé
que preçosde alimentosdevol-
vam inflaçãonos próximosme-
ses”,comentou.
No cenário do Ministérioda
Economia, um dos principais en-
traves à retomadaserá o aumen-
to da dívidapúblicae privada.
“Essaelevação do endividamen-
to tenderáareduzir ocrescimen-
toestruturaldaeconomianestee
nos próximosanos”, aponta o
documento. “Precisaremosredu-
zirarelaçãodívida/PIB.Issojáera
necessárioantesda criseeserá
um dos alicerces fundamentais
após”, complementouTeles. No
ladoprivado,apontou,asempre-

Tombohistórico
Novasprojeçõesmacroeconômicas

Sériehistórica(%)

PIB(%)
PIBnominal(R$tri)
IPCAacumulado(%)
INPCacumulado(%)
IGP-DIacumulado(%)

-4,
7, 155
1,
2,
4,

3,
7,
3,
3,
4

2020 2021







0

2

4

6

8

1996 2000 2004 2008 2012 2016 2019

2,

4,

5,8 5,

1,

-3,

1,

Fontes:MinistériodaEconomia/SecretariadePolíticaEconômicae IBGE

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


sas maisendividadas teriamdifi-
culdadesdetomarnovoscrédi-
tosparafinanciarseusnegóciose
investimento.
Na questãodo endividamento
público, a equipeeconômicare-
forçouo coroparadeixar claro
que aalta de gastos que ocorre
agora precisa ser vista como
temporária. O secretário espe-
cial de Fazenda,Waldery Rodri-
guesdestacouque o paísestá
gastandocercade 5% do PIB em
medidas fiscaisparaenfrentar o
coronavírus,maisdo que oob-
servado na médiados emergen-
tes e ligeiramente acimada mé-
dia das naçõesavançadas.“O es-
forçoépara que gastonão seja
estendidopor outrosanos”, afir-
mouo secretário.
“Temos posição de assertivida-
de de governo em agir,mas sem
necessariamenteaumentarogas-
to”,disseele,reforçandoadiretriz
de “transitoriedade” da despesa
contra ocoronavírus eanecessi-
dade de retomada da agenda de
reformas. Waldery reforçou o
compromissocom o tetodegas-
tos e disseque eventual aumento
no investimento público será fei-
to cortando despesasde outros
lugares. “O teto já era aâncora,
agoraéumasuper-âncora.”

Ministérioelevatom


sobregravidadedacrise


e mostracenáriosombrio


Análise


Fabio Graner
Brasília

OMinistério da Economia não
apenas apresentou um número
maissombrio para o desempenho
da atividade econômicanesteano.
Elevou também otom da dramati-
cidadecomqueenxergaasituação
do país nos próximos mesese para
osanosseguintes.
Com a indústria caindo 15% e os
serviços recuando 6% no segundo
trimestre, só paraficarnos mais
importantes,umalevadefalências
edisparada do desemprego no
curtoprazofoiodesenhoapresen-
tado pela equipe liderada pelo se-
cretário de Política Econômica,
Adolfo Sachsida. Eisso levará,se-
gundo ele, àdestruição da capaci-
dadedecrescimentodelongopra-
zo,que já nãoera grande coisa
mesmoantes da crise —otime
atual da Economianão enxergava
o potencial de expansãoacimade
2,5%antesdessechoque.
Assim, o cenário-basede recu-
peração joga a voltapara o nível
pré-crise apenas para2022. Nas
palavras do subsecretário Vladi-
mir Kuhl Telles, acrise é “severa,
com recuperação lentae impacto
permanente de longo prazo”. Ea
dimensãodesseimpacto estrutu-
ral dependerá, no entendimento
da atual equipe, da manutenção
da política de austeridade vigente
antesdacrise.
Não foram poucasas repetições
pelo secretárioespecial de Fazen-

da, Waldery Rodrigues,de que as
medidas fiscais de combate à crise
têm que se circunscrevera 2020,
emboraele tenhadeixado alguma
portaaberta para continuarcom o
apoioestatal, caso odecreto de ca-
lamidadesejaestendidoparaalém
de31dedezembrodesteano.
Aequipe econômicabate opé
emmanteroinvestimentopúblico
dentrodoslimitesdotetodegasto,
mesmocom o juro (e o custode
oportunidade do investimento)
tendo despencado, sob o argu-
mentode que mexer na agora“su-
per-âncora” significaria juros mais
altosemenorcrescimento.Discus-
são que serácrescente, ainda mais
aseconfirmar oquadro econômi-
coapresentadopelaprópriapasta.
Emboratenhaditoquenãofaz
críticasàs políticasde isolamen-
to social,Sachsidadeixouclaro
quecadasemanadeextensãode-
las poderáderrubarem R$ 20 bi-
lhõesoPIB —ou 0,7 pontoper-
centualde PIB acada duassema-
nas. E comcrescentesrepercus-
sões de longoprazo. Assim,4,7%
de quedano PIB podesignificar
um tombode 5,5% se as quaren-
tenasforematé meados de ju-
nho.Epodecairmais.
É, inegavelmente,um enorme
choque.Que, mesmocom as res-
salvasdaSPEdequenãocriticaas
medidas sanitárias, pode ser
maisum argumentoa ser usado
pelopresidenteJair Bolsonaro,
que não disfarçaseu desprezoàs
açõesconduzidaspelosgovernos
estaduais,com apoioaindanão
retiradodoMinistériodaSaúde.

Sachsida: Quanto mais semanas de isolamento, maior será o número de falências, de desemprego e impactos de longoprazo

WASHINGTON COSTA/ME?

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