Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

P


aulo Hartung costuma se referir em público ao fato de ser baixinho,
às vezes comparando sua estatura (1,66 metro) com o tamanho
diminuto de seu estado. Já passou dos 60 anos (nasceu em abril de
1957) e possui uma calva pronunciada, mas não aparenta a idade. Ex-
atleta, seu corpo é magro e forte, com mãos grandes. Nas poucas vezes
em que nos encontramos, lidava comigo de maneira quase sempre séria e
desconfiada. Ao longo das suas quatro décadas de vida pública, mudou
muitas vezes de partido e também de rumo, ganhando certa fama de
imprevisibilidade entre aliados e adversários.


Foi o que aconteceu em 2014. Hartung surpreendeu ao anunciar que iria
mais uma vez concorrer ao governo do estado, no Espírito Santo. Anos
antes, entre 2003 e 2010, no período de rápido crescimento econômico da
era Lula, ele havia cumprido dois mandatos à frente do Executivo local,
numa administração reconhecida por colocar as contas capixabas em dia
e por reorganizar a administração pública. Deixara o governo com
recordes de popularidade e fizera o sucessor, Renato Casagrande, do
PSB, eleito em primeiro turno, em 2010, com impressionantes 82% dos
votos.


Era o mandatário socialista, naturalmente candidato à reeleição e que
chegara ao Palácio Anchieta com seu apoio, que Hartung agora decidia
enfrentar. A justificativa para a reviravolta e o inevitável rompimento
entre os dois estava nas contas públicas. “Eu fiz uma campanha em que
tratei do quê? Disse que o estado estava de novo flertando com a
desorganização fiscal”, explicou Hartung na sede do governo capixaba,
no final do ano passado, às vésperas de deixar o poder.


No início de 2014, três técnicos de reconhecida competência do estado –
os três, à época, próximos de Hartung – divulgaram um estudo que
chamava a atenção para o aumento dos gastos públicos acima do
crescimento da receita na administração Casagrande, em particular
devido à elevação dos dispêndios com pessoal. No documento, os
economistas Haroldo Corrêa Rocha e Ana Paula Vescovi e o engenheiro
Rodrigo Medeiros mostravam que, apenas entre 2011 e 2013, o poder
público local havia contratado um montante de novos servidores bastante
superior aos que haviam sido incorporados à folha durante todos os oito
anos dos dois mandatos anteriores, sob Hartung.

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