Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

medidas de desregulamentação econômica e de cortes de gastos, com
ataques aos direitos de trabalhadores e imigrantes. A libra esterlina se
desvalorizaria, o custo de vida iria disparar, e o choque inicial levaria no
mínimo a uma escassez de alimentos, remédios e até – preveem alguns
especialistas – de papel higiênico (pode ser que a saída da União
Europeia finalmente obrigue a Grã-Bretanha a adotar o mais europeu dos
equipamentos: o bidê). Uma fronteira física seria instalada, separando os
seis condados da Irlanda do Norte da República da Irlanda, ao sul, e


ameaçando de morte o Acordo de Belfast.[1]


Esforços têm sido feitos no Parlamento britânico para impedir esse
cenário de retirada sem acordo, chamado de No Deal. Há clara maioria
contrária a esse tipo de saída na Câmara dos Comuns, mas grande parte
das medidas aprovadas por ela até aqui parecem preocupantemente
incapazes de descartar de maneira definitiva o No Deal. A maneira mais
óbvia de realmente impedir a retirada sem acordo seria a ratificação dos
entendimentos negociados por Theresa May com a UE, mas os membros
do Parlamento têm evitado essa alternativa – e por bons motivos. Os
termos propostos por May garantem muito pouca coisa. De um lado, o
Brexit sonhado pela extrema direita continuaria politicamente possível.
De outro, se os problemas ligados à manutenção da fronteira aberta com
a Irlanda não forem solucionados (e quem tem algum motivo para achar
que serão?), o Reino Unido, com o tempo, poderá recair numa espécie de
união aduaneira precária e semipermanente; a fim de manter a fronteira
aberta, a Grã-Bretanha precisaria assinar um acordo de livre comércio
com a União Europeia. Nesse caso, o Reino Unido ficaria independente
da ue, na medida em que abdicaria dos direitos associados à condição de
membro, mas os termos propostos por Theresa May equivaleriam a
continuar conferindo à UE o poder de determinar o futuro da Grã-
Bretanha.


Em janeiro, esses termos propostos por May foram rejeitados pela
Câmara dos Comuns, com a maior margem de votos de toda a história
política britânica; apesar das objeções do speaker, o presidente da
Câmara (que invocou precedentes parlamentares numa tentativa de
bloquear votações repetidas sobre o mesmo tema), a primeira-ministra
voltou a submeter, outras duas vezes, a questão ao Parlamento. A cada

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