Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

O jornal A Gazeta, principal diário de Vitória, deu notícia do
levantamento no início de março. “Governo do estado com as contas em
xeque”, dizia o título. De fato, as despesas cresceram acima do
incremento da receita no governo de Renato Casagrande, mas num ritmo
menor do que na média dos estados brasileiros – um período em que, sob
incentivos do governo Dilma Rousseff, com dinheiro barato ofertado ou
garantido por Brasília, muitos mandatários elevaram os dispêndios
locais. No Espírito Santo, as despesas cresceram 4,5% ao ano, em termos
reais, entre 2011 e 2014, enquanto a receita subiu em média 3,8%,
anualmente. No Rio, os dispêndios cresceram bem mais: 6,4% ao ano,
contra uma alta anual da arrecadação de 3,3%. Em Minas Gerais, os
gastos subiram 5,1% ao ano, contra incremento de 2,8% das receitas. Visto
em perspectiva, Casagrande estava longe de ser o grande vilão das contas
públicas brasileiras, naquele período.


Para Hartung, contudo, pouco importavam essas comparações. Seu
problema era local, e ele fez campanha alertando os eleitores de que as
despesas no estado estavam “subindo de elevador”, enquanto a receita
subia “de escada”. Eleito, antes ainda de assumir o governo, não deixou
dúvidas sobre a dureza do ajuste que se avizinhava. “Vamos ter que
comer um saco de sal em 2015 para arrumar essa situação”, anunciou.
Também pediu à Assembleia Legislativa que desconsiderasse o
orçamento para o ano seguinte, peça que Casagrande havia enviado ao
Legislativo.


Mesmo sem ter ainda tomado posse, encarregou Ana Paula Vescovi –
uma das autoras do estudo sobre a situação fiscal do estado, que viria a
ser sua secretária de Fazenda – de rever a peça orçamentária. No novo
diploma, a economista baixava a previsão de receita para o ano seguinte
em 1,3 bilhão de reais, um corte de aproximadamente 8% no montante de
recursos que estaria disponível para o governo. Botava no papel, assim, o
cenário de nuvens carregadas, com queda nos impostos e nos royalties,
que o governador eleito do Espírito Santo havia descrito para Pezão.


Hartung tinha, naquele momento, dois problemas. O primeiro: ele e sua
equipe estavam certos (ao final de 2015, a queda de receitas seria
praticamente igual àquela prevista por Vescovi em dezembro de 2014). O
segundo: ia precisar fazer os gastos caberem naquele acerto, ou seja, fazer

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