Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

propostos por May ou simplesmente cancelar todo o Brexit. Essa é há
muito a opção favorita dos políticos de centro, que jamais se
conformaram com o resultado de 2016. Para todo o resto dos britânicos,
porém, um segundo referendo só seria concebível como último recurso. É
óbvio que a direita não quer outra eleição: “o povo” já lhe disse aquilo
que desejava, ao votar pelo Brexit. A esquerda, por sua vez, preferiria
uma eleição geral – a escolha de um novo Parlamento, que talvez pudesse
propiciar a formação de um governo trabalhista comandado pelo líder
supostamente mais à esquerda de toda a história do partido. Um novo
pleito, no entanto, é muitíssimo improvável, uma vez que a Lei dos
Parlamentos com Mandato Fixo, de 2011, um mecanismo constitucional
bizarro que nem recebeu o devido escrutínio quando estava em processo
de aprovação, prevê que uma próxima eleição só poderá acontecer antes
de 2022 se ela for aprovada por dois terços dos membros da Câmara dos
Comuns. E os conservadores jamais contribuiriam para isso: a seu ver,
um governo chefiado por Jeremy Corbyn seria um desastre tão grande
quanto, na opinião da esquerda, o No Deal, uma retirada sem acordo da
União Europeia.


Por último, Theresa May poderia decidir, unilateralmente, cancelar ela
própria todo o processo, lançando mão de seus poderes executivos para
revogar o artigo 50. Mas isso não irá acontecer nem em um milhão de
anos: se a simples perspectiva de manutenção do Reino Unido numa
união aduaneira poderia desencadear uma reação na base conservadora,
a permanência total na UE seria vista como uma traição flagrante. O
partido de May já tem muito poucos eleitores com menos de 50 anos; se o
Brexit não acontecer, é improvável que sobreviva sequer às próximas
duas décadas (como alguém de esquerda, é claro que a princípio
considero a destruição do Partido Conservador um evento bastante
auspicioso – não fosse pelo perigo de que os tories venham a ser
substituídos por coisa pior.)


Em várias ocasiões entre o final de 2018 e o início de 2019
Mais ou menos dois anos e meio depois do referendo sobre o Brexit

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