Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

H


provavelmente mais desastrosa para a República da Irlanda, com a qual a
UE tem obrigações, por se tratar de um Estado-membro. Até que ponto
irão esses adiamentos, não sei dizer. Antes de concordar com a protelação
mais recente, a maioria dos Estados-membros da UE dava a impressão de
se dar por satisfeita com o adiamento da saída da Grã-Bretanha até 2020:
a única objeção substancial foi feita pela França. No momento atual, a
data de abril de 2020 parece um bom palpite quanto ao limite da
paciência da UE – no entanto, seja qual for esse limite, o mais provável é
que May venha a tentar testá-lo e ultrapassá-lo.


Claramente, Theresa May espera que a Câmara dos Comuns acabe
ratificando os termos que propõe para o Brexit, devido a alguma
combinação de tédio e desespero: essa sua convicção reflete uma teimosia
que – visto parecer ter resultado na transformação dessa mulher nada
brilhante ou carismática na comandante daquela que de algum modo
continua a ser a quinta maior economia do mundo – até hoje lhe tem
prestado muito bons serviços. A intransigência de Theresa May tem algo
de quase sobrenatural: se a estreiteza mental fosse um talento, ela estaria
no mesmo nível de genialidade de um Roger Federer, por exemplo. Mas,
diante da teimosia de um Parlamento irremediavelmente dividido, May
parece ter finalmente encontrado um rival à altura.


14 de março de 2019
Dois anos e nove meses depois do referendo do Brexit


ilary Benn, membro importante da bancada trabalhista, apresenta
moção no sentido de transferir o controle da agenda parlamentar
para os próprios integrantes do Parlamento a partir da semana
seguinte, propiciando mais uma rodada de “sufrágios indicativos” sobre
questões ligadas ao Brexit. Duas rodadas prévias de sufrágios indicativos,
propostos como forma de superar o impasse criado pelas sucessivas
rejeições aos termos propostos por May para o Brexit, resultaram em um
sonoro “Não” para todas as opções, inclusive para o No Deal, a retirada
sem acordo da ue, ou para o cancelamento puro e simples do Brexit. A
emenda Benn recebe 310 votos a favor e 310 contra – e então, com base
nas regras, o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, usa seu

Free download pdf