Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

voto de Minerva para rejeitar a proposta. Quando fico sabendo dessa
notícia, não consigo deixar de rir. Chegamos a um novo nadir político,
uma espécie de recorde: agora, a Câmara dos Comuns não consegue
sequer tomar a decisão de tentar tomar uma decisão quanto ao Brexit.


Em meio a todo esse caos, duas coisas parecem bem claras. A primeira é
que o Brexit não vai mais deixar de existir. O Brexit vai prosseguir no
Reino Unido. Seja qual for o resultado final do processo, o país
continuará sob seus efeitos. “O Brexit”, repisa sempre a primeira-
ministra, “significa a saída da União Europeia.” Mas isso, vamos admitir,
sempre foi uma mentira. Na verdade, o Brexit significa quase tudo,
menos uma simples retirada.


Na superfície, de fato, o referendo e todo o processo que se seguiu a ele
dizia respeito à saída da União Europeia (ou à permanência nela). Mas a
maioria da população britânica não tinha – nem tem – uma compreensão
precisa das implicações concretas de pertencer (ou não pertencer) à União
Europeia. E como poderia ter? Na melhor das hipóteses, a União
Europeia é uma instituição um bocado obscura – e a imprensa britânica
nunca pareceu minimamente equipada para cobrir seu funcionamento de
um modo informativo ou responsável (Boris Johnson, o último secretário
de Estado das Relações Exteriores, um dos rostos mais conhecidos da
campanha em favor da retirada da ue, fez seu nome como jornalista
publicando matérias espúrias sobre como são ridículas as leis da União
Europeia).


O Brexit, na verdade, tem a forma que tem porque foi essa questão – logo
essa, a de permanecer ou não na União Europeia, entre tantas
possibilidades – que se determinou submeter à decisão do eleitorado
britânico, por meio de um referendo. É inegável que muita gente votou
pela saída da UE porque não acha que a Grã-Bretanha deva fazer parte
da Europa, ou porque se julgava cercada de um excesso de imigrantes.
Mas outros votaram da mesma forma apenas por ser evidente que era
assim que o governo de David Cameron não queria que votassem:
sentiram-se atraídos pela emoção provocada por essa pequena rebelião,

Free download pdf