Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

uma revolta em pequena escala; queriam poder “dar uma sacudida” nas
coisas.


E vamos admitir: eles tinham bons motivos para se rebelar. A Grã-
Bretanha vai mal das pernas: o governo de Cameron submeteu a nação a
anos de austeridade que dizimaram os serviços públicos; no mesmo
período, os salários pararam de acompanhar o aumento do custo de vida.
O desemprego voltou a níveis relativamente baixos – mas cada vez
menos gente tem o tipo de emprego estável, de tempo integral, que lhes
permite pagar as contas e ainda guardar alguma sobra. Muitos dos
problemas britânicos variam conforme a geração afetada: os cidadãos
mais jovens enfrentam a desvantagem adicional dos preços inflados dos
imóveis, o que, diante da maneira como a questão habitacional é
equacionada no Reino Unido, torna muito difícil estabelecerem-se em
qualquer lugar a longo prazo e com alguma segurança. Mas a alienação
não afeta apenas uma determinada geração – e é verdade que a tendência
a aprovar o Brexit se mostrou sem dúvida mais forte entre os britânicos
mais velhos que entre os jovens (tendo sido a idade o único indicador
claro do apoio à permanência ou à retirada; os jovens viam – e ainda
veem – como representantes ideais de seus desejos de transformação
política um Partido Trabalhista mais à esquerda do que nunca).


Sempre foi justa a vontade de dar um bom pontapé no meio da cara do
governo Cameron: mas a questão é que o Brexit irá no mínimo agravar
todos os problemas que a gestão conservadora já vinha causando. São
muitos os motivos que fazem da UE uma organização muito imperfeita:
mas não é ela que vem transformando a Grã-Bretanha num lugar cada
vez mais difícil de se viver – acima de tudo, os responsáveis por esse
estado de coisas são os tories. A origem de muitos problemas da Grã-
Bretanha pode ser encontrada, claro, em problemas globais mais amplos,
fora do controle do governo nacional: em cada um desses pontos, porém,
a resposta dos tories aos desafios econômicos tem sido transferir o ônus
de sofrimento para os mais pobres e vulneráveis.


O Brexit, para a maioria de seus apoiadores, significa uma forma de
escapar das coisas como elas são, da realidade em que são obrigados a
viver. Mas ele não modifica as bases reais desses problemas. (Os
favoráveis mais radicais à permanência na ue, por sua vez, defendem

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