Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

N


a uma questão que, afinal, só surgiu em resposta a um feroz conflito
interno do Partido Conservador? Pode ser que, em retrospecto, o melhor
a fazer tivesse sido recusar-se a aceitar, pura e simplesmente, a
legitimidade do próprio referendo: recusar-se a aceitar a maneira como
toda a discussão sobre a União Europeia acabou enquadrada, e estimular
os eleitores trabalhistas a anular seus votos.


30 de março de 2019
Dois anos e nove meses depois do referendo do Brexit


o dia seguinte àquele em que a Grã-Bretanha deveria
originalmente ter se retirado da União Europeia, um homem
interrompe a circulação de todos os trens que chegam e partem de
Londres através do túnel sob o Canal da Mancha escalando o teto acima
dos trilhos da estação de Saint Pancras e abanando uma bandeira da cruz
de São Jorge. Depois de sua prisão, ao final de doze horas de impasse
com a polícia, o homem declarou aos policiais que o detiveram que
estava furioso com os políticos, pois estes “tinham fodido com todo o
Brexit”.


Se a esquerda errou em relação ao Brexit, foi porque jamais conseguiu
resistir à maneira como o Partido Conservador – e os meios de
comunicação – queriam que o Brexit fosse concebido. Algo parecido
aconteceu no caso da dificuldade do Partido Trabalhista em defender
efetivamente o princípio da liberdade de ir e vir, ou da liberdade de
movimentação de pessoas. Seria um absurdo sugerir que a UE tem uma
atitude elogiável quanto à imigração (basta ver o que seus membros vêm
fazendo no Mediterrâneo), mas o princípio da liberdade de ir e vir dentro
das fronteiras da UE é, ainda assim, bem mais progressista do que o
patriotismo nacionalista extremado associado ao Brexit.


Outra maneira de encarar o voto separatista britânico, claro, seria como
uma resposta preventiva às calamidades da mudança climática e à
“necessidade” de reforçar as fronteiras do Ocidente contra ondas

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