Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

J


E a simpatia pelo fascismo mais notório também vem aumentando. No
dia 3 de abril, vazou um vídeo que mostrava membros das Forças
Armadas britânicas usando um cartaz de Jeremy Corbyn como alvo, num
treinamento de tiro. Na mídia, mais de um jornalista já pediu – alguns de
brincadeira, outros nem tanto – que a rainha intervenha pessoalmente
nesse imbróglio, usando seus poderes executivos para “dar um jeito” no
Brexit (embora o significado desse “jeito” varie muito, dependendo de
quem fala). Quanto mais o Brexit se arrasta, mais esses ressentimentos de
fundo autoritário podem chegar ao ponto de ebulição: estará o
Parlamento condicionando a população britânica a pensar que a política
do Reino Unido precisa da vontade forte de um único indivíduo, ao qual
possamos delegar, felizes da vida, todas as decisões que precisem ser
tomadas?


16 de junho de 2016
Uma semana antes do referendo do Brexit


o Cox, a representante dos distritos de Batley e Spen na Câmara dos
Comuns, levou vários tiros e facadas a caminho de um encontro
com os eleitores de Birstall, em Yorkshire. Seu assassino é um
homem de 52 anos com um longo histórico de envolvimento em
organizações de extrema direita. Durante o ataque a Cox, várias
testemunhas ouviram o matador exclamar: “Isso é pela Grã-Bretanha!” e
“A Grã-Bretanha tem de permanecer independente!” Mais tarde, quando
lhe pediram para confirmar seu nome no tribunal, ele respondeu: “Meu
nome é morte aos traidores e liberdade para a Grã-Bretanha.” A maioria
dos meios de comunicação britânicos atribuiu a morte de Cox ao ato de
um psicopata demente e solitário: ainda hoje, se alguém sugerir em
público que o assassinato de Cox pode ter tido alguma motivação
política, os comentaristas de direita respondem em tom áspero por meio
de todas as redes sociais. Ainda se mostram totalmente avessos à
disposição emocional de admitir a possibilidade de que tenham sido, de
certa forma, cúmplices do atentado.

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