Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

um dos principais líderes da campanha pela saída da ue) Nigel Paul
Farage, sob o nome de “Brexit”. Essa nova legenda participará das
eleições para o Parlamento Europeu em 23 de maio, um pleito que o
adiamento do processo recolocou na agenda britânica. Parece o último
suspiro de um monstro que se recusa a morrer – ou o sinal de que esse
monstro se prepara para mudar de forma. No momento em que escrevo,
uma pesquisa de intenção de votos para a eleição europeia confere ao
partido Brexit 27% das intenções de voto – uma pequena liderança sobre
os demais.


Mas existe uma segunda possibilidade. As gerações mais novas dos
súditos britânicos, em sua maioria, não querem o Brexit; não desejam que
haja menos imigrantes, não compartilham os delírios de grandeza
imperial dos partidários do Brexit. O que os jovens britânicos querem, em
sua maioria, é o fim da austeridade; empregos mais seguros; a
possibilidade de uma casa própria. Em última análise, os jovens aspiram
a uma social-democracia – e nem mesmo por idealismo ou altruísmo, mas
por razões egoístas; querem um governo cujas medidas possam ser
benéficas a eles. E isso se reflete na escolha dos seus representantes: um
mapa eleitoral, que há pouco viralizou no Twitter, mostra que se os
eleitores fossem apenas os jovens entre 18 e 24 anos, os conservadores só
ocupariam três cadeiras da Câmara dos Comuns; as demais 541 caberiam
aos trabalhistas (e a decisão em favor da retirada da ue, claro, jamais teria
vencido). O Brexit invalidou a antiga ordem. E, se essa invalidação
acabasse por ter o efeito certo, malgrado as leis bizarras que regem a
política britânica? E se ela acelerasse o colapso da ordem atual, em vez de
servir para sustentá-la?


No fim das contas, o futuro da Grã-Bretanha depende de quanto tempo
irá tardar a concretização dos desejos e expectativas dos seus jovens.
Minha maior esperança, no caso do Brexit, é que possamos constatar, em
algum momento no futuro, que tudo não passou de uma distração lateral,
associada ao processo de guinada de toda uma geração para longe da
direita – rumo a um mundo melhor e mais justo.


[1] Conhecido em inglês como Good Friday Agreement (literalmente,


“Acordo da Sexta-Feira Santa”), o Acordo de Belfast foi assinado em 1998
pelos governos britânico e irlandês com o objetivo de acabar com os

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