Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

A


o anunciar a partir de fevereiro deste ano que 1964: O Brasil entre
Armas e Livros “tem o objetivo de mostrar o outro lado do Regime
Militar”, a empresa Brasil Paralelo evita nomear qual foi o regime de
governo instaurado a partir do golpe que se manteve em vigor de 1964 a



  1. Ao mesmo tempo, desconsidera cinco décadas de historiografia,
    brasileira e estrangeira, por julgá-la parcial e omissa. Despreza, ainda, a
    contribuição do jornalismo, da música popular, da literatura, do teatro e
    de filmes para o conhecimento do período. Havendo mesmo “verdades
    nunca antes contadas” em 1964: O Brasil entre Armas e Livros, conforme
    a Brasil Paralelo afirma, é preciso conferir quais são e se, de fato, têm
    alguma relevância.


Antes disso, porém, vale registrar que o nome da produtora – Brasil
Paralelo – foi inspirado no filme Interestelar (2014), de Christopher
Nolan, diretor do qual Filipe Valerim, sócio da empresa, confessa ser fã
incondicional. Numa entrevista de julho de 2018, Valerim explica que “o
ator principal precisa salvar a humanidade do apocalipse terrestre
entrando em um buraco de minhoca no espaço e encontrando um planeta
habitável nesse universo ‘paralelo’ que salvaria a espécie humana”. A
marca da empresa, diz ainda Valerim, “tem o formato de um buraco de
minhoca justamente para dar a ideia de que o símbolo é a conexão com
uma realidade paralela. No caso, paralela ao que as pessoas estavam
acostumadas a ver na grande mídia”.


O ideário apocalíptico de Valerim mostra bem como ele, Lucas Ferrugem
e outros dois sócios se imbuíram de uma missão redentora. Egressos do
curso de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing,
em Porto Alegre, eles rejeitam a realidade por completo, incluindo o que
chamam de “grande mídia”. E se arvoram em criadores de uma nova
realidade, baseados em um ideário inconsistente.


Valerim curiosamente não menciona na sua entrevista a precisão
científica de Interestelar, obtida graças à orientação do físico Kip Thorne,
consultor do filme. Em 2017, Thorne ganhou o Prêmio Nobel de Física em
reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento do detector
de ondas gravitacionais, até então apenas uma possibilidade prevista na

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