Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

metade da década de 50 e nos anos 60, sob supervisão do Comitê de
Segurança Estatal da União Soviética, a famosa KGB.


De acordo com Kraenski e Petrilák, a StB, criada em 1945 e extinta em
1990 após a transição de poder resultante da “Revolução de Veludo”, teve
uma base no Brasil chamada de rezidentura, e o livro 1964: O Elo Perdido
trata de suas atribuições, interesses e atividades no país de 1952 a 1971.
Seus autores têm a cautela de advertir não ser possível “afirmar que as
informações existentes neste livro, que demonstram como os oficiais da
rezidentura da StB no Brasil, a Central em Praga ou os informantes, [...]
compreendiam determinadas questões, sejam necessariamente objetivas e
as únicas corretas. O conhecimento das pastas StB é o conhecimento dos
espiões, e por isso deformado por uma distorção ideológica [meu grifo].
É também muitas vezes obsceno, pois para convencer alguém a
colaborar, frequentemente os espiões usavam não somente métodos
ideológicos, mas também o que chamavam de comprometimento, ou seja,
aproveitar-se dos tropeços fatais e fraquezas humanas”.


A ressalva feita no terceiro capítulo de 1964: O Elo Perdido não deve
levar os documentos da StB a serem desconsiderados. Pelo contrário.
Apenas é preciso que recebam atenção na justa medida de sua
importância, sejam avaliados com critério, tratados com o cuidado
devido e confrontados com outras fontes – nada do que ocorre na
produção da Brasil Paralelo. Em 1964: O Brasil entre Armas e Livros, a
pesquisa de Kraenski e Petrilák é instrumentalizada para promover uma
disputa arcaica pelo troféu de potência estrangeira que mais influenciou
o golpe de março-abril de 1964 – Estados Unidos ou União Soviética?


Essa competição ressuscita a histeria que procurou atribuir a
responsabilidade pelos levantes militares de novembro de 1935 no Brasil
aos agentes da Internacional Comunista e ao “ouro de Moscou”. Mas,
como disse certa vez o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, referindo-
se aos eventos da década de 30, “a responsabilidade é nossa!”. Sem
desmerecer os documentos da StB, valorizá-los em excesso não passa de
manobra diversionista. Dificulta a percepção dos fatos, além de encobrir
o papel decisivo de brasileiros no rumo dos acontecimentos, tanto em
1935 quanto em 1964.

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