Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

também estão o jornalista William Waack e o professor de filosofia Luiz
Felipe Pondé, este último com participação mais discreta.


A maioria dos entrevistados é pouco conhecida. O número e a duração de
suas intervenções também variam muito. Há os que passam pela tela sem
deixar rastros. Outros, pelo contrário, marcam presença e contribuem
para dar feição ao panfleto. É o caso, em especial, do colunista gaúcho
Percival Puggina e do jornalista carioca Lucas Berlanza.


Os termos raivosos de alguns entrevistados não surpreendem. Mas há
também considerações mais ponderadas e interessantes. Berlanza admite
que “tecnicamente houve um golpe” em 1964. E pergunta se o Ato
Institucional nº 5, de dezembro de 1968, era necessário: “Ter gente na rua,
seja de esquerda ou de direita, para protestar contra um governo justifica
você fazer o fechamento total do sistema político?” Afirma ainda que a


partir da “aniquilação das lideranças civis[1] [...] não há como tratar essa
situação política, tecnicamente falando, de outra forma senão como uma
ditadura. Há uma ditadura militar no Brasil a partir de 1968”.


Apesar de serem evidentes, tais afirmações aliviam quem se lembra da
época e estudou os fatos. Atestam que a memória e o conhecimento do
período não são meras fantasias delirantes.


Por outro lado, a manipulação dos depoimentos feita em 1964: O Brasil
entre Armas e Livros é gritante. A técnica serve para atender à orientação
editorial dos realizadores – separam-se trechos, alguns com cerca de dez
segundos, outros mais longos. Em seguida, palavras, frases ou
enunciados são combinados. O resultado é um novo discurso, cuja
fidelidade ao pensamento de cada um dos entrevistados pode ser
relativa, mesmo no caso daqueles mais alinhados ao projeto. Por vaidade
ou convicção, todos aceitam se transformar em joguetes nas mãos de
quem decide o que deve ser aproveitado ou descartado.


Concluída a sequência sobre a atuação da StB no Brasil, ainda faltam
cerca de 90 minutos para o panfleto audiovisual terminar. Nessa hora e
meia, faz-se um voo rasante sobre o período que vai da segunda metade
da década de 50 aos nossos dias. Não é preciso dizer que se trata de uma

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