Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

visão superficial, difícil de assimilar, para não dizer impossível, dado o
acúmulo de informações disparadas em alta velocidade.


Uma questão sensível, mencionada a 1h27min13s do vídeo, merece
destaque – “a história dos inocentes não foi contada”, diz a voz que narra.
Qualquer que seja o número real de vítimas, sobre o qual há
controvérsias, a academia, a imprensa, a mídia em geral, todos nós,
enfim, estamos obrigados a recuperar a memória dos que foram mortos
sem ter tido qualquer relação com o confronto entre organizações
clandestinas e militares. Essa é uma verdadeira omissão histórica a ser
corrigida.


Alguns erros factuais e pequenos deslizes afetam, por si só, a
credibilidade do conjunto. Exemplos: 1) A narração omite qualquer
referência ao papel decisivo da União Soviética, na Segunda Guerra
Mundial, para a derrota do nazismo, citando apenas a “força
imprescindível dos Estados Unidos” (7min20s); 2) Quando Lucas
Berlanza menciona a Junta Militar que assume o governo após Costa e
Silva se afastar por doença, em 31 de agosto de 1969, formada pelo
almirante Augusto Rademaker, o general Aurélio de Lira Tavares e o
brigadeiro Márcio de Sousa Melo, apelidada por Ulysses Guimarães, em
1987, de “Os Três Patetas”, a imagem correspondente é a da Junta Militar
chilena que tomou o poder em 1973, com o general Augusto Pinochet no
meio, entre o general da Força Aérea, Gustavo Leigh, e o almirante José
Toribio Merino (1h32min04s); 3) Pouco adiante, após referências a Maio
de 68, o narrador diz que: “Na década de 60, a sociedade ocidental
passava por uma transformação profunda.” E logo depois: “O fundador
do Partido Comunista Italiano passa a escrever os Cadernos do Cárcere,
onde relata que a estratégia marxista deve acontecer no meio cultural,
destruindo todos os valores, a moral, a religião e a família” (1h36min40s).


Deixando de lado a estapafúrdia frase final, cabe lembrar que, nos anos
60, Antonio Gramsci, membro fundador do Partido Comunista Italiano,
estava morto há décadas, impossibilitado, portanto, de “passar a escrever
os Cadernos do Cárcere”, como afirma a narração. Preso em 1926 pelo
regime fascista italiano, ele morreu em 1937, dias depois de ser libertado.

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