Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Bolsonaro não tinha nada disso. Ele precisou se construir nos últimos
quatro anos como um digital influencer poderoso para, em seguida,
saltar à condição de candidato popular e vitorioso. Agora, para manter-se
no poder, Bolsonaro quer desafiar também outros determinantes da
ciência política – os da governabilidade.


Será possível governar sem negociar, pactuar ou respeitar as instituições?
Será possível se manter no poder recorrendo à sua capacidade
extraordinária de mobilização via redes sociais? Será que tudo o que foi
determinante para elegê-lo se torna agora um empecilho para poder
governar?


A dimensão online foi fundamental para a vitória eleitoral, mas é na
dimensão offline que se governa. Como então conciliar o Bolsonaro
vitorioso – o do perfil nas redes sociais –, com o Bolsonaro empossado,
presidente da República – e que precisa governar? Manter-se constante e
relevante nas redes sociais não é algo que combina com a tarefa de
governar um país atolado em múltiplas crises. Para cada uma dessas
atividades, são necessárias habilidades muito diferentes, muitas vezes
antagônicas. A chave do êxito do governo Bolsonaro passa pelo equilíbrio
entre a lógica do perfil virtual e a função de presidente. Do contrário, ele
deixará aberta uma avenida para a emergência de uma oposição forte à
direita.


Nos primeiros meses de governo ficou claro que a lógica do perfil nas
redes sociais está vencendo de goleada. Não à toa, pois ela explica o
bolsonarismo em todos os seus aspectos: o tipo de base social, os
formatos de mobilização, a formação ideológica, o perfil social de seus
aliados. Tudo isso está condicionado pelas novas formas de interação das
redes sociais. Manter o perfil ativo é fundamental para manter a base fiel
conectada e motivada. Como explica Marcos Nobre, em artigo publicado
nesta revista (“A revolta conservadora”, piauí_147, dezembro), o capitão
reformado precisa do caos para poder governar, pois sua estratégia é
governar para “uma base social e eleitoral que não é maioria, mas é
grande o suficiente para sustentar um governo. Algo entre 30% e 40% do
eleitorado. Tornar essa base fiel é fundamental para manter o poder”.

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