Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

mestre/aluno seria imediatamente quebrada. Uma política de educação
conservadora, ao contrário, estaria focada em fortalecer a figura de
autoridade do professor dentro da sala de aula, eventualmente
autorizando a palmada como forma de disciplina. Além disso, a própria
figura de Bolsonaro é anticonservadora: como seria possível um eleitor
conservador escolher um líder que não valoriza o sacramento do
casamento, que usa termos grosseiros como “comer gente” e, pior, se faz
batizar evangélico, sem renunciar previamente ao catolicismo? O
discurso pretensamente conservador encobre a quebra de hierarquia, a
erosão das figuras de autoridade e a utilização da máquina pública como
catapulta social para os amigos do baixo clero e os “alunos” de Olavo de
Carvalho.


Se existe um governo anticonservador e anárquico é justamente esse. A
ideologia que ele prega não é exatamente a da defesa da ordem, da
hierarquia, da disciplina e da família: é a da defesa da violência. Sua
aversão à legalização do aborto não tem a ver com a proteção da vida,
como ocorre com os conservadores católicos, mas com a conservação da
submissão da mulher ao homem. Ele se opõe às cotas raciais não porque
defenda a meritocracia e a disciplina – mesmo porque no seu grupo
político poucos passaram no vestibular de uma universidade de
qualidade –, mas porque insiste na manutenção da subalternidade da
população negra em relação à branca. Dessa violência, Bolsonaro deu
mais uma prova no final de abril, ao afirmar que “quem quiser vir aqui
fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, [o Brasil] não pode
ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”. A frase não
expressa uma defesa da família, mas apenas a homofobia pura e simples.
Se fosse um conservador, ele teria condenado toda forma de turismo
sexual. Ao contrário, faz apologia.


Tampouco acho que se possa chamar esse governo de “fascista”. O
fascismo tinha como base pilares racistas e foi o responsável pelas
maiores barbaridades do século XX. Mas até nele havia construção de
uma ideia de sociedade – ideia abominável, diga-se de passagem. No
bolsonarismo, não há nem isso; trata-se de esvaziar o fascismo de todo
conteúdo inteligível e conservar apenas sua forma e primitivismo: a
violência contra a minoria.

Free download pdf