Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

a orleanista (na origem, partidária de uma monarquia parlamentarista;
ou seja, de perfil liberal) e a bonapartista (populista e autoritária). As três
correntes compuseram o partido de direita hoje chamado Républicains.
Rémond exclui de sua análise o partido Front National por não
considerar a extrema direita como parte do campo político das diversas
direitas.


A nova direita que emerge no mundo é personalista, autoritária, violenta,
tem forte grau de adesão popular, alguma capacidade de entrega em
termos de política pública, e é defensora das instituições no discurso. É
uma direita vigorosa, mas não revolucionária, como a extrema direita se
propõe a ser. Está à esquerda da extrema direita e à direita dos
conservadores e liberais. Tomando emprestado os termos de Rémond,
seria uma direita bonapartista. Até mesmo líderes de extrema direita
estão estrategicamente tentando se deslocar para essa nova direita. O
aparecimento na Hungria de uma extrema direita ainda mais radical que
a do primeiro ministro do país, Viktor Orbán, permitiu que ele deixasse
de ser o exemplo máximo de intolerância. Nos Estados Unidos, ocorre o
mesmo fenômeno: movimentos como o alt-right (direita alternativa) e o
dos supremacistas brancos fazem Donald Trump parecer um pouco
menos alucinado.


No artigo “Dois caminhos para a direita francesa” (piauí_149, fevereiro),
Mark Lilla, professor da Universidade Columbia, faz uma análise
detalhada de todo o ecossistema conservador que surgiu na França nos
últimos cinco anos. As manifestações maciças, em 2012 e 2013, contra
uma lei que autorizava o casamento gay ressuscitaram a direita
legitimista (conforme a definição de Rémond), que, em seguida, se
organizou em movimento político – o Sens Commun [Senso Comum]. O
movimento se tornaria determinante para que, nas primárias do partido
Républicains para as eleições presidenciais de 2017, François Fillon, o
candidato conservador, derrotasse de maneira surpreendente o
postulante liberal (Alain Juppé) e o liberal-populista (Nicolas Sarkozy).


Caso essa nova direita legitimista não eleja o próximo presidente francês,
é muito provável que alguém que se posicione entre ela e a extrema
direita chegue lá. Para Lilla, Marion Maréchal, ex-deputada e neta do
polêmico político de extrema direita Jean-Marie Le Pen, é a mais bem-

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