Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

“pragmáticos” como Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina
(Agricultura) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), fazendo votos
para que Sergio Moro (Justiça) chegasse ao mesmo patamar destes. E
cobrou do governo ações pragmáticas, com resultados políticos
concretos, bem como uma relação saudável e republicana com o
Congresso. Em outra peça, mais longa, de 16 minutos, criticou o vídeo
comemorativo de 1964 veiculado pelo Planalto, fez sua exposição sobre
os acontecimentos e concluiu o óbvio: João Goulart foi deposto por um
golpe militar. Aproveitou para recordar as críticas à ditadura feitas por
Carlos Lacerda, a quem chamou de “o maior nome da direita do Brasil”.
Além disso, declarou apoio à reforma da Previdência, embora tenha
criticado a proposta de aposentadoria dos militares.


Os pontos fracos de Bolsonaro são a falta de liderança política e a
incapacidade técnica. Não à toa, o discurso do MBL está focado na falta
de planejamento, qualidade operacional e execução de políticas públicas.
Ao nomear um ministro para atender mais as necessidades do perfil
virtual do que as da nação, Bolsonaro deixa claro como falta ao
presidente o mínimo de capacidade executiva. Não haverá mágica que o
perfil virtual possa fazer para manter fiel uma base tão ampla e diversa,
se o presidente não oferecer ao país uma boa governança. Aquilo que
parecia uma brecha vai ganhando contornos de avenida para aqueles que
estão de olho na formação de um novo polo político de direita.


Ao normalizar a extrema direita e pautar os principais debates do país a
partir dessa perspectiva, Bolsonaro contribui para o deslocamento do
centro de gravidade da política. A extrema direita purista se torna direita,
a direita mais contundente se torna centro, e o centro se torna esquerda.
Esse deslocamento favorece a direita bonapartista, que se torna mais
palatável a um eleitorado que antes certamente a rejeitaria – o eleitorado
de centro-direita. Em resumo, o radicalismo de Bolsonaro contribui para
dar aparência de moderação e pragmatismo a um grupo profundamente
ideológico como o MBL. A fim de parecer razoável, não é preciso fazer
concessões ao centro, mas apenas marcar a diferença com relação aos
mais sectários: não endossar as loucuras e devaneios do núcleo duro do
Planalto (“nazismo de esquerda”, “1964 não foi golpe” etc.) e cobrar um
pouco de competência política e técnica. Desse modo, o MBL e
congêneres podem disputar parte do eleitorado de Bolsonaro, mas

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