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poesia
NO FIM DESTE VERSO HÁ UMA PORTA SE ABRINDO
DEREK WALCOTT
ILUSTRAÇÃO: CARLA CAFFÉ_2019
AS ACÁCIAS [I]
Você era capaz de dirigir (embora eu não dirija) pelo
pasto amplo coberto de poços na frente da casa
rumo à praia quente e vazia e estacionar na sombra faminta
das acácias que estampam aquelas florzinhas amarelas
(praias vazias e sem sinal de vida são meu ofício);
e havia homens com fitas e teodolitos medindo
o terreno ermo e desnivelado. Vi os hectares condenados
onde mais um hotel de luxo será construído,
excluindo as pessoas comuns. Os novos feitores
da nossa história lucram sem culpa
e são, de fato, profetas de uma política
que fará a ilha virar um shopping, e os quebra-mares
sorrirem como garçons, como taxistas, essas novas fazendas
à beira-mar; escravidão sem grilhões, sem sangue derramado –
só alambrados e placas, as novas degradações.
Eu me sentia tão livre escrevendo sob as acácias.