Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

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Até 2021, a Europa deixará de adiantar o relógio em uma hora no último domingo de março FOTO: HARRIS E
EWING_1910_BIBLIOTECA DO CONGRESSO AMERICANO


á algo em comum entre as vacas leiteiras, os especialistas em
relógio biológico e minha mãe: nenhum deles é simpático aos
ajustes sazonais dos ponteiros. Implantado pela primeira vez há
mais de cem anos em cidades do Canadá e hoje adotado em setenta
países, o horário de verão sempre me pareceu tão inquestionável quanto
as fases da Lua e a rotação da Terra. Mas pesquisas científicas e uma
sincronia de decisões políticas devem excluí-lo em breve de parte
significativa do planeta.

Na madrugada do último dia 31 de março, cada vez mais contrariados,
europeus adiantaram seus relógios, como sempre fazem no início da
primavera. Em virtude do sono perdido, correram um risco maior de se
acidentar no trânsito e procrastinaram mais do que o habitual no
trabalho, segundo estudos sobre as consequências das mudanças de
horário. Aquela manhã, entretanto, pode ter sido a última em que
franceses, italianos, alemães e outros parceiros de continente saltaram da
cama uma hora mais cedo – sessenta minutos preciosos, que a Europa só
recupera em outubro, quando o outono está começando.

Também pode ter sido a última vez que, estressadas pela mudança súbita
de rotina, as vacas leiteiras liberaram o hormônio cortisol, passível de
afetar a qualidade e a quantidade do leite que produzem. Por 410 votos a
192, o Parlamento Europeu decidiu que, até 2021, a Europa deverá abolir
as alterações nos relógios. Caberá a cada integrante da União Europeia
escolher uma entre duas opções: o permanente horário de verão ou o
permanente horário de inverno.

Se isso parece ferir a lógica dos fusos horários, é bom lembrar que nem
todos os países respeitam essas linhas imaginárias criadas no século XX.
A julgar exclusivamente pela localização geográfica, Paris e Madri
deveriam ter o mesmo horário de Londres, mas estão uma hora à frente,
alinhadas a Berlim, uma distorção que remonta à ocupação nazista na
França e à simpatia do generalíssimo Francisco Franco por Adolf Hitler.
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