Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

S


para os padrões brasileiros, localizada a cerca de 90 quilômetros da
capital paulista.


O telhado de duas águas da casinha simples, de um andar, avançava
sobre a varanda e abrigava as mães de alunos da rede pública. Na fila,
uma maioria de mulheres, entre 30 e 40 anos, algumas um pouco mais
velhas. Gente simples, digna, muitas empertigadas, quase em posição de
sentido, segurando documentos na frente do corpo. Haviam se
interessado pelo programa que prometia disciplina militar, lições de
cidadania, e oferecia aos seus filhos, crianças de 11 a 13 anos, a
oportunidade de se transformarem em “atiradores mirins” – era esse o
nome do projeto, realizado numa parceria da prefeitura com o braço forte
e a mão amiga do Exército.


“Não sei se vai ter tiro no curso”, comentou a cabeleireira Edna Moura,
mãe de Pedro Henrique, 11 anos. “Acho que é mais disciplina, ordem,
regra. É sempre bom.” Moura tinha tomado conhecimento do projeto
pelo site da prefeitura. Comentou com o filho, “bom aluno, disciplinado”,
que se empolgou com o aspecto militar da formação, oferecida de maio a
novembro, uma vez por semana, na parte da tarde.


Mariana Bueno, 33 anos, funcionária de uma empresa de logística, estava
ali para inscrever seu filho Lucas, de 12, aluno do 7º ano. “Ele achou
interessante a parte dos soldados, tem admiração pelos militares. Eu acho
bonita a disciplina, a responsabilidade que eles adquirem. É um projeto
bacana.”


Logo atrás dela, Eliana Vieira Sampaio, mãe de Eloísa, de 13 anos,
garantia que “não tem tiro” na formação dos atiradores mirins. Juliana
Mara Suate, mãe de Samuel, de 11 anos, reiterou que o nome do
programa gerava mal-entendidos: “Não significa que eles vão pegar em
armas e sair atirando. É ética, comportamento.”


entado à mesa de seu escritório, o comandante do Tiro de Guerra
em Itatiba, subtenente Hevandro Fernandes da Cunha, tinha às suas
costas a fotografia do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Preocupado com o horário marcado para o início das inscrições – 13h30 –,
o militar falava ao telefone com uma representante da Secretaria

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