Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Municipal de Educação. “O pátio está cheio, Luciana”, avisou. “Se quiser
trazer reforço, vamos precisar.”


Gentil, o militar havia me convidado para conversar em sua sala. “O
projeto existe desde 2015, explicou. “O nosso limite é de cinquenta
alunos. Neste ano a procura está maior.” O subtenente Fernandes garante
que ninguém vai pegar em armas ali. Os atiradores mirins aprendem a
marchar, recebem uniformes militares e desfilam no 7 de Setembro. Têm
aulas de civismo, aprendem noções de cidadania, de higiene, primeiros
socorros. Outras instituições ajudam no conjunto de palestras: ONGs,
Corpo de Bombeiros, até a Polícia Militar, que submete a criançada a uma
“palestra antidrogas”.


O nome do programa deriva do fato de que essa formação cívica para
pré-adolescentes – oferecida pelo Exército em parceria com onze
prefeituras no estado de São Paulo – é realizada nos Tiros de Guerra,
unidades que, sem serem batalhões ou abrigarem grande número de
soldados, têm a função de representar o Exército e facilitar o
cumprimento do serviço militar obrigatório em localidades do interior.
“Quem serve em batalhão é soldado”, explicou o subtenente. “Quando o
serviço militar é feito nos Tiros de Guerra, eles são chamados de
‘atiradores’. Daí o nome.”


O nome tinha dado problema, todos admitiam. Na véspera, o
comandante havia sido bastante requisitado. “Surgiu essa polêmica,
quando a prefeitura divulgou o banner na internet. Educadores, cidadãos
ligaram querendo saber”, explicou o subtenente Fernandes. O mesmo
havia se passado na prefeitura. Anderson Sanfins, secretário de
Educação, contou ter recebido “questionamentos” sobre essa história de
“atiradores mirins”. “Em função de Suzano e do Rio de Janeiro impactou
um pouco mais”, ele disse. Referia-se ao massacre perpetrado por dois
ex-alunos numa escola da Grande São Paulo, em março, e aos mais de
oitenta disparos efetuados por soldados do Exército contra o carro de
uma família, em abril, que resultou na morte de duas pessoas no Rio.


“O projeto é bom, as pessoas gostam”, avaliou o secretário. “Mas já
estamos estudando a mudança do nome.”

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