Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

D


urante algum tempo, Juliana Suate criou o filho sozinha. Ela é
disciplinada – está terminando um curso técnico de enfermagem –
e disciplinadora. “Lá em casa dizem que eu sou general. Eu tenho
essa mania de comandar, de liderar.” A família mora num conjunto
habitacional, e Suate teme pelas horas mortas na parte da tarde. Era essa
uma das razões para ela querer inscrever o filho no projeto do Exército.
“A gente tem contato com pessoas que não pegaram um bom rumo. Eu
não deixo meu filho descer para brincar. Se desce, é controlado. Mas não
posso colocá-lo numa bolha. Uma hora ele vai ter que andar sozinho.
Quero que aprenda a dizer ‘não’.”


Motivo semelhante havia levado Alexandre Antônio da Conceição ao
Tiro de Guerra. Ele contou que seu filho Cauã, de 12 anos, se interessou
em fazer o programa porque “não quer ficar em casa à toa”. O pai
tampouco gosta que o menino perca tempo na rua. “Pode se envolver
com coisa errada. Achei que o curso era bom para ocupar a cabeça.”


Passava um bocado do horário marcado quando, afinal, os pais
começaram a ser atendidos. Uma das mães me chamou e perguntou se eu
era do jornal local. Expliquei que não. Ela queria reclamar da demora: já
eram quase duas da tarde. “Estão um pouco enrolados”, avaliou, antes de
observar que um programa que pretende ensinar disciplina não deveria
ser descuidado com o horário. De resto, havia muita gente ali que ainda
não tinha almoçado, ela disse.


Aos poucos a fila andava. Os pais eram atendidos por funcionários em
mesinhas que haviam sido instaladas na varanda. Com rostos de menino,
quase imberbes, três jovens que prestam serviço militar ajudavam a fazer
as inscrições.

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