Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Brasília, no segundo semestre de 1999. “Foi uma coisa estranha. No meio
da semana estivemos, eu e o Serra, na casa dele. Ele nos convidou para
uma moqueca capixaba, para que discutíssemos o futuro do partido.
Fomos lá, conversamos sobre o partido, o futuro do país, as questões
todas. Deve ter sido numa quarta-feira, algo assim. De repente, na sexta
ou no sábado, pela televisão, recebo a notícia de que ele tinha saído do
partido. ‘Meu Deus do céu, acabei de comer uma moqueca com ele, a
comida ainda está aqui na garganta!’”


Segundo Goldman, em nenhum momento durante o almoço Hartung
expressou qualquer insatisfação com o PSDB. “E de repente ele sai do
partido, não sei por quê, não entendi por quê. Nunca pedi explicações, e
ele também não deu.”


Hartung afirma que deixou o partido que tinha ajudado a fundar por
causa dos problemas locais da legenda, no Espírito Santo. O destino
seguinte foi o PPS. Roberto Freire, presidente da sigla que tinha sua
origem histórica no velho Partidão, diz que recebeu o político capixaba
com “muita satisfação”. “De certa forma, era a volta do filho pródigo,
porque ele tinha militado no PCB. Eu o conhecia dessa época.”


Dois anos depois, em 2001, seria a vez de Freire ser surpreendido.
“Lamentamos muito a saída dele. Eu lamentei muito, inclusive fiquei um
pouco constrangido com a forma como ele saiu. Saiu de um partido que o
tinha recebido dando a ele o que era devido, até por ele ser um grande
quadro político. Ele era líder do PPS no Senado.” A sigla de Freire,
segundo Hartung, não lhe dava “estruturação de campanha” no Espírito
Santo. “Tempo de televisão, essas coisas.”


Foi pousar então no PSB, que teria como candidato a presidente, em 2002,
Anthony Garotinho, à época governador do Rio de Janeiro. O movimento
se explicava por razões nacionais e locais. No Espírito Santo, crescia a
insatisfação da sociedade civil e do empresariado com as práticas
políticas da Assembleia. O cientista político Mauro Petersem Domingues
avalia que o “basta” coletivo que afinal foi dado “ao poder do Gratz e do
grupo dele na Assembleia teve a ver com o momento em que esse grupo
tentou chantagear as grandes empresas do estado”.

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