Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

A


psicólogo Gustave Le Bon. O objetivo do trabalho, explicou, é entender
“como os discursos de ódio são incitados, retroalimentados e se
materializam em misoginia, preconceito, racismo, segregação e
memificação”.


Depois de ouvir as outras apresentações do seminário – uma espécie de
atividade obrigatória para ela se qualificar ao mestrado –, Silva consultou
o WhatsApp. Encontrou mensagens de dois amigos que reproduziam
uma página do Grupo da Ufam no Facebook com uma foto dela e, ao
fundo, a imagem projetada do título da dissertação. “Tá cheio de
comentários lá, e contra você”, escreveu um dos amigos. Eram quatro e
meia da tarde. Começava o inferno de Cris Silva.


foto se espalhou pelo meio acadêmico de Manaus, e logo a
mestranda passou a receber mensagens de WhatsApp e ligações
telefônicas de amigos e conhecidos. “Você está louca de fazer isso?
Que infantilidade científica a sua”, escreveu um professor. Alguém
questionou: “Por que você não estuda o Lula?” Assustada com a
repercussão e orientada por amigos e pela família, Silva decidiu
suspender temporariamente as suas contas no Facebook, Instagram e
Twitter.


No dia seguinte, uma sexta-feira, logo pela manhã começaram a chegar,
via WhatsApp, as primeiras mensagens anônimas com insultos. Ela ficou
aturdida, mas resolveu dar prosseguimento às suas tarefas no segundo
dia do seminário. Como havia sido escalada para cuidar do coffee break e
precisava passar numa padaria, achou melhor ir de carro. Enquanto
caminhava em direção ao veículo, recebeu uma mensagem de WhatsApp
em que alguém ameaçava furar os pneus do carro dela. “Minha vontade
foi pedir um Uber”, contou Silva à piauí, na sala de um colégio privado
da elite manauara, do qual é chefe de Recursos Humanos.


Apesar da ameaça, Cris Silva seguiu até a padaria. Ao voltar para o carro
com a encomenda dos salgadinhos, o susto: uma das portas estava aberta,
embora sem sinais de arrombamento. Além disso, tinham sido furtados
sua bolsa com os papéis do seminário e alguns documentos. Ela chegou à
Ufam aos prantos. À noite, fez um boletim de ocorrência numa delegacia
de polícia.

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