Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

F


Com mais de 2 200 verbetes, o livro compila expressões do dia a dia que
envolvem bichos variados: pagar o pato, estar com a macaca, fazer uma
vaquinha, soltar os cachorros. Um dos casos preferidos do autor é o do
bacurau, ave de hábitos noturnos. “Mas bacurau pode significar também
um indivíduo notívago ou o ônibus que passa de madrugada”, contou.
Azevedo lançou mão de outro exemplo quando evocou a história de
Leda e o cisne: “Zeus era muito galinha”, disse, às risadas.


Wagner Azevedo Pereira é um homem de 44 anos de barba desenhada e
cabelo comprido preso num rabo de cavalo. Nasceu e vive em Nova
Iguaçu, na Baixada Fluminense. Fascinado pelas palavras, pode entrar
numa loja e pedir um mantel, em vez de uma toalha de mesa, só para ver
a reação dos vendedores. Mas não revelará que a palavra é uma das cerca
de mil entradas do seu Dicionário de Catacrese, lançado em dezembro
último pela Chiado Books, de Lisboa, e dedicado às metáforas que
acabaram absorvidas pela língua na falta de um termo mais específico:
peito do pé, maçã do rosto, nó na garganta.


Antes disso o dicionarista havia lançado em 2016 pela Editora Autografia
uma compilação de onomatopeias, as palavras e expressões construídas a
partir dos sons que evocam – como tique-taque ou bem-te-vi, mas
também farfalhar e ronronar. O livro de estreia é um volume robusto de
568 páginas em formato A4. Azevedo não pretende parar por aí. Em 2019
vai publicar mais um dicionário e afirma ter outros quatro prontos. “Com
esses oito, já está legal para entrar no Guinness, o Livro dos Recordes”,
afirmou.


O dicionarista quer ser reconhecido pelo volume e pelo ineditismo de sua
obra. É possível achar em sebos livros dedicados a onomatopeias e
catacreses, mas o autor delimita de forma específica o recorde que
pleiteia. “A pessoa vai ter que publicar mais que eu, em mais editoras,
não pode ser mais velho e nem ter mais títulos que eu”, enumerou. “Já
bloqueei um galerão aí.”


ilho de eletricista e dona de casa, o dicionarista mora sozinho num
apartamento de dois quartos num conjunto habitacional do Minha
Casa, Minha Vida. Espalhados pela sala de estar há um violão, um
teclado e um amplificador. Azevedo estudou música por dez anos antes

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