Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

Em 2001, a Xerox do Brasil, ao anunciar que estava fechando a sua
unidade no Espírito Santo, afirmou em carta aberta que vinha recebendo
cobranças de propina. “Esse sistema de corrupção montado na
Assembleia tinha muitos tentáculos”, me disse o economista José Teófilo
Oliveira. “Eles chegaram ao cúmulo de proibir a plantação de eucalipto
num dia, para chamar a Aracruz Celulose a pagar para ter aquela lei
revogada. É impressionante. Eles foram muito ousados. As grandes
empresas foram achacadas ou sofreram tentativas de achaque. Mas o
‘basta’ foi muito mais amplo. A Igreja Católica participou, o arcebispo de
Vitória, a Igreja Batista, a OAB, muita gente boa.”


O movimento da sociedade que queria mudanças políticas no Espírito
Santo tinha como principais lideranças políticas Max de Freitas Mauro,
do PTB, que havia sido governador no fim dos anos 80, e Paulo Hartung,
que se encontrava então transitando entre diferentes partidos. Ambos
decidiram se lançar ao governo. Mauro tinha o PT na sua coligação.
Segundo Luiz Paulo Vellozo Lucas, Hartung considerou que era
necessário fazer um movimento à esquerda, indo para o PSB. “Porque o
adversário dele seria Max Mauro. Do PTB com o pt. Ia ser o palanque do
Lula. O Paulo morria de medo de uma oposição à esquerda. Ele não
queria ser o candidato da base do Fernando Henrique.”


Haroldo Rocha tem avaliação parecida. “O Paulo se aproximou do Lula
antes da eleição de 2002. Ele tem muita sensibilidade para entender o
movimento da política. Ele viu que o PSDB, o governo Fernando
Henrique... tinha terminado aquele ciclo. Cumpriu. Então, o Paulo viu
antes. Ele começou a conversar com Lula, José Dirceu, em 2002.”


Luiz Paulo Vellozo Lucas, que à época era prefeito de Vitória, continuou
no PSDB. Mas ajudou na eleição do amigo e aliado. Depois que Hartung
já havia se mudado para o PSB, o Supremo Tribunal Federal determinou
que as candidaturas federais e estaduais, naquele ano, deveriam ser
“verticalizadas”: as alianças locais tinham que seguir a mesma lógica das
coligações nacionais. Isso inviabilizava que a frente liderada por Vellozo
Lucas, unindo PSDB, PFL e outros partidos de centro, apoiasse
formalmente Hartung, como era o plano original. Juntas, essas siglas
tinham direito a quase dez minutos de televisão. Se não lançassem

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