Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

A


ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2019


arquiteta Clara Ant foi uma das primeiras a chegar ao bar Sabiá, na
Vila Madalena, em São Paulo. Sentou-se em uma das mesas, pediu
um Guaraná Zero e uma porção de bolinho de arroz. “Minha mãe
dizia que é o bolinho Lavoisier”, brincou, citando o químico francês para
quem “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Ant estava ali
para participar do Leilão Lula Livre, de cinquenta imagens do ex-
presidente feitas por 43 fotógrafos entre 1978 – quando era líder
sindicalista – até 2018, antes da prisão pela Operação Lava Jato.

Aos poucos, o bar ficou repleto de gente, a maioria portando alguma peça
vermelha no vestuário. “Lula livre!” – gritavam as pessoas, ao chegar ao
local. E iam se ajeitando nas mesas, ao som do jingle Lula Lá, da
campanha à Presidência em 1989 (quando Fernando Collor venceu as
eleições): “Lula lá, brilha uma estrela/Lula lá, cresce a esperança...”

Às 20h15 do dia 3 de abril, o leilão teve início. Em um telão, as fotos eram
exibidas para as cerca de 150 pessoas, e os lances começavam sempre em
1 313 reais. Quando o número eleitoral do Partido dos Trabalhadores, o
13, era citado, ocorria uma ovação. Vaias ecoavam quando aparecia o
número 17, do Partido Social Liberal (PSL), de Jair Bolsonaro. Enquanto
uma mulher servia aos apostadores doses de cachaça artesanal feita pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o leiloeiro
insistia: “É pouco! É pouco!” Se o lance atingia 20 mil reais ou mais do
que isso, ele convidava o próprio comprador a bater o martelo.
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