Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

M


fim A Invenção da Maldade, o novo espetáculo do coreógrafo e bailarino
piauiense Marcelo Evelin, apresentado no CAMPO Arte Contemporânea,
em Teresina.


“Esse espetáculo, hoje, não teria espaço em São Paulo ou no Rio”, afirma
um espectador carioca. Ele está pensando, certamente, na nudez dos
dançarinos e no que ocorreu com o artista Wagner Schwartz após a
performance La Bête [A Fera], no Museu de Arte Moderna de São Paulo,
em 2017. Por causa de uma foto em que uma criança aparece tocando seu
corpo nu durante a apresentação, Schwartz sofreu linchamento nas redes
sociais e desencadeou um debate nacional sobre a exibição da nudez no
teatro e em performances.


No Piauí, meio ilhado de tudo, Evelin talvez suponha que a onda
conservadora demore um pouco mais a chegar. Mesmo assim, achou
melhor limitar o acesso ao espetáculo a pessoas de pelo menos 18 anos.
“Até os jornalistas estão com medo. Dão um pigarro e finalmente fazem a
pergunta: ‘Vai ter gente nua?’”, disse o coreógrafo. “A nossa
subjetividade está sendo minguada, por isso é importante propor o corpo
como potência que está em cada um de nós.”


arcelo Evelin, 57 anos, é um sujeito robusto, de 1,86 metro, careca
e de barba grisalha. Apesar de viver há mais de três décadas na
Europa, conserva um forte sotaque nordestino. Ele contou que
extraiu o título de sua nova coreografia de um episódio da infância. “Já
começou a invenção da maldade”, falava sua avó, rindo, quando ele
reunia as crianças para brincar de teatro em Teresina, onde nasceu. Por
isso mesmo, no seu novo espetáculo, “maldade” é algo relacionado não
exatamente à moral, mas à travessura, inquietude e ruptura. “A
brincadeira de criança tem uma inocência quase brutal”, definiu o artista.


Na juventude, Evelin chegou a estudar jornalismo no Rio de Janeiro,
porém largou a faculdade para se dedicar à dança. Em 1986, mudou-se
para a Europa. Quando o Muro de Berlim foi derrubado, em 1989, ele
fazia parte da companhia de Pina Bausch, mas nesse mesmo ano decidiu
ir para Amsterdã criar de maneira independente sua primeira
coreografia, Muzot, inspirada no poeta Rainer Maria Rilke. Com sua
própria plataforma de dança, a Demolition Incorporada, realizou vários

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